26 | cinza indecisão

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No labirinto dos meus pensamentos, a indecisão se mistura com a solidão.

🎨

Novembro, 2021.

Na faculdade, ela ficava com um amigo de um colega distante. Eles se conheceram em um rolê aleatório no campus, e no fim da noite ela recebeu uma mensagem onde ele a convidava para sair em algum dia com clima bom.

Naquela época, ela já tinha adotado o nome Jinnie, mas pouquíssimas pessoas sabiam que ela era uma mulher trans. Porém, como esse rapaz passou a noite toda encarando-a e logo depois a chamou em uma rede social, Jinnie acreditou que ele já soubesse sobre aquilo, então aceitou seu convite para sair. Estava no auge da sua juventude, era linda, uma boa companhia e queria alguém para compartilhar a vida, como 90% das pessoas existentes no mundo.

Eles saíram juntos apenas uma vez, e a noite terminou no quarto de Jinnie, já que ela tinha um quarto só para si. Desde aquele dia, eles começaram a se encontrar apenas no quarto. Não saíam mais, não jantavam fora e mal se falavam quando se esbarravam nos corredores da universidade. No começo, Jinnie acreditava que isso acontecia por causa das aulas corridas, pelo estresse de estudar e pelo cansaço de sempre ter trabalhos para fazer em vez de descansar. Não via maldade nisso e sempre o recebia com um sorriso bonito nos lábios quando ele aparecia na porta do seu quarto.

Jinnie gostava dele, não tinha chegado a ser amor, mas talvez uma paixão. Até ela descobrir o que de fato estava acontecendo. Ele era hétero, alguém que apenas queria sair e dormir com uma mulher cis, mas que acabou saindo com uma mulher trans e quando percebeu já era tarde demais, mas levou aquilo adiante por, e apenas, curiosidade. Jinnie então entendeu porque nunca saía com ele, porque ele sempre fugia quando tentava uma conversa publicamente, porque às vezes sentia que ele estava lhe dando um perdido ou porque tinha aquele sentimento de que estava fazendo algo errado.

Ela era apenas um brinquedinho nas mãos dele. O segredo sujo que ele queria manter escondido.

Ficou tão arrasada e triste que não quis ouvir as desculpas esfarrapadas que ele tentou dar, apenas o mandou sumir e procurar alguém idiota o suficiente para cair naquele papinho de bom moço samaritano. Desde aquele dia, Jinnie começou a ser mais rigorosa quando se tratava de relacionamentos. Somente saía com pessoas que tinham certeza da sua sexualidade, e às vezes saía apenas uma ou duas vezes, não mais que isso. Para ela estava tudo bem, desde que não se machucasse mais.

Até Namjoon chegar.

Ele surgiu do nada, sempre com seu olhar desafiante como se o mundo fosse seu, com aquele sorriso canalha e o tom baixo que fazia seu baixo ventre vibrar e aquecer. Era óbvio que ele era hétero, e pela experiência nada boa que teve antes, Jinnie quis fugir dele, mas sem perceber, acabou fugindo para ele.

Fazia dois meses que estava se encontrando com Namjoon.

Não houve beijos, mãos bobas ou sexo. Apenas jantaram, foram ao cinema, passearam de carro ou ficaram no jardim da farmácia, conversando por longas horas durante as noites frias que se tornaram quentes. Namjoon era interessante, sabia manter uma conversa fluida e nunca ultrapassou seus limites. Desde o começo, ela avisou que não se sentia pronta para dar um passo adiante, e ele foi muito bom em esperar, nunca jogando indiretas e sempre a tratando como uma rainha. Como sempre dizia, pois ele nunca perdia a chance de dizer que ela seria sua rainha um dia. Sua mulher.

Jinnie sempre ficava emocionada demais quando ouvia essas coisas, parecendo uma adolescente sentindo a magia do amor pela primeira vez. Tudo era novo, brilhante, bonito e instigante. Era bom demais se sentir desejada como mulher. Mesmo que nunca tivesse dormido com ele, e ficasse receosa por ser quem era, ela queria muito que dessa vez desse certo. Demorou muito tempo para se abrir ao amor novamente, e já que estava presa àquele homem sem perceber antes de acontecer, esperava que dessa vez desse certo.

cores são sentimentos, tysOnde histórias criam vida. Descubra agora