5 | preto emocional

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Junto com a memória emocional, o mistério de quem sou permanece.

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Aos 10 anos, Jimin se tornou órfão de mãe, e por quase nunca ver o pai, sentia que também estava órfão de pai.

Naquele tempo, as únicas pessoas que estavam ao seu lado eram Yoongi e seu avô, o homem que fez o papel de pai por muitos anos, mas que, devido à saúde debilitada e a incapacidade de sair da cama, percebeu que não poderia contar por muito tempo. A única pessoa que realmente estaria ao seu lado era o irmão, aquele que tinha certeza que nunca desapareceria, sempre estaria lá, fosse para abraçá-lo quando estava chateado, ou para repreendê-lo quando fizesse algo errado.

Yoongi era o melhor irmão que ele poderia ter, e se tivesse a chance de renascer, escolheria nascer naquela família, apenas para poder ser irmão dele mais uma vez.

Yoongi esteve ao seu lado quando o primeiro dente de leite caiu, quando foi à escola pela primeira vez, quando sua mãe morreu, e esteve ao seu lado quando seu pai se casou pela segunda vez. Aos quase 13 anos de idade, Jimin surtou quando descobriu que o lugar da sua mãe seria preenchido em menos de 3 anos de perda, teve febre alta e vomitou por dias, não querendo aceitar que outra mulher fosse dormir na mesma cama, no mesmo quarto, na mesma casa que sua mãe morou e morreu.

Ele não aceitava. Ele nunca aceitou.

As discussões tornaram-se constantes, e mesmo que Jimin morresse de medo do pai, desde que ele anunciou o casamento, o medo e o pouco respeito que ainda sentia por aquele homem foram parar no lixo. Começou a desafiar suas ordens e gritava mais alto que todos daquela casa, querendo que sua voz infantil e sentimentos confusos fossem ouvidos. Aquilo fez ele sair de casa e ir morar com Yoongi aos 14 anos, pois foi quando de fato seu pai se casou e Jimin gritou com raiva que não iria morar na mesma casa que uma mulher e um homem que nem mesmo esperaram o corpo da esposa esfriar — palavras dele.

Desde quando saiu de casa, novo demais para entender o que um casal realmente significava, Jimin nunca mais teve um contato íntimo com o pai. Só visitava aquela casa amaldiçoada duas vezes por ano; uma no aniversário de morte da mãe porque Yoongi sempre o arrastava, e outra no aniversário do avô porque ele não conseguia sair da cama. Se não fosse por causa daquilo, ele nunca mais pisava o pé lá. Sentia no ovo esquerdo que aqueles jantares eram apenas para manter a pose de família perfeita, ou para tirar o peso dos ombros pela morte da mulher que foi negligenciada até ser tarde demais.

Jimin desejava, de todo coração, que todos eles se fudessem até os ossos.

Parado em frente à mansão amaldiçoada dos Min, ele desejava que se um meteoro fosse cair na terra, que caísse ali, amém. Olhou para o lado quando sentiu a aproximação de Yoongi, ele encarava a casa com um olhar sério no rosto; ele também não gostava de ir àquela casa, mas se esforçava por sua mãe. E, apesar de tudo, seu pai não tinha culpa pela morte da esposa e merecia recomeçar a vida ao lado de outra pessoa, não merecia e nem tinha o porquê de ficar sozinho para sempre. Jimin sabia e entendia aquilo, mas não conseguia conter o ressentimento e o sentimento de traição sempre que via seu pai ao lado daquela mulher. Gostava dele, mas a única coisa que queria fazer era vomitar.

— É a nossa mãe — Yoongi disse, apertando o ombro do irmão.

Jimin respirou fundo e fechou as mãos em punhos, tentando se acalmar.

— É a nossa mãe.

Com a promessa silenciosa de que fariam aquilo pela mulher que há muito tempo não estava mais junto deles, os irmãos entraram naquela casa para mais uma noite torturante.

cores são sentimentos, tysOnde histórias criam vida. Descubra agora