7 | rosa inocência

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Com traumas, até mesmo a própria inocência vai embora. Então, porque é tão ruim eu não ser inocente?

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Maconha era uma coisa interessante.

Veja bem, ao mesmo tempo que ela causava relaxamento, euforia, viagem na própria mente e sensação de estar voando nas nuvens, também causava redução motora, redução da memória e até mesmo causava um pouco de pânico. Ainda assim, quem provava uma vez, custava para não provar uma segunda. E muitas das vezes eles não estavam viciados no baseado, mas sim na sensação de libertação que aquilo causava no ápice da sua euforia. Fosse na mente ou no corpo, a liberdade tinha um gostinho diferente.

De mato.

Taehyung tinha acabado de completar 19 anos quando comeu um brownie batizado pela primeira vez. Ele não sabia daquele fato, pensou que aquela sensação nova era porque tinha exagerado no álcool. Foi só três dias depois que ele descobriu que tinha comido maconha, literalmente. O susto veio de imediato, pois assim como muitos, ele também tinha uma visão limitada sobre a erva. Mas sempre que se lembrava da sensação que tinha sentido naquela festa, ficava louco para provar novamente.

Sinceramente, ele amava a sensação de estar a beira do abismo, sempre pronto para cair

Foi então que, na tocaia, comprou algumas gramas, se trancou no banheiro e fumou até sentir a pulsação acelerar e acreditar que estava tendo um ataque cardíaco. Quando a sensação foi embora e teve certeza de que ainda estava vivo, Taehyung começou a usar aquilo sempre que se sentia pressionado naquele mundo de trabalhos e estudos cansativos demais para um ser humano suportar sem colapsar. Sempre se trancava no banheiro, fumava até sentir a euforia tomar conta do seu corpo, espirrava algum perfume para tapear e saía como se não fosse nada — mesmo que seus vizinhos de quarto soubessem, afinal o cheiro era insuportável de tão forte.

Taehyung sempre gostou de pesquisar sobre coisas aleatórias, por isso sabia que precisava tomar cuidado para não virar dependente e isso afetar sua saúde, pois tinha uma criança para cuidar e precisava estar completamente saudável. Então colocou os limites que achou necessário no momento. Não gostava muito de álcool e só bebia quando era realmente necessário, se não fosse, ficava apenas no cigarro. Sempre que transava, desde que teve ciência do seu transtorno, fumava para acalmar os nervos e controlar a obsessão. Aquilo ajudava um pouco, mas a força de vontade era sua força maior. O cigarro era apenas um meio para fim, algo para distrair a mente do sexo.

Recorria a maconha sempre que se sentia cansado, pressionado, irritado, e principalmente sobrecarregado. Taehyung não gostava de se sentir daquele jeito, gostava do confortável e nenhuma daquelas sensações eram confortáveis. Então enrolava um beck e se embebedava naquela sensação de percepção de tempo alterada. Era uma boa para fugir do mundo real. Esses eram os limites das drogas que ele usava, não fazia sempre para não ficar dependente, mas fazia sempre para fugir de algo.

Fumava cigarro para fugir do impulso sexual. Fumava maconha para fugir da vida real.

Até agora tinha dado certo. Não se achava um viciado e acreditava que estava tudo sob controle, por isso continuava fazendo as mesmas coisas de sempre. Por isso que, naquele momento, enquanto pintava algo completamente aleatório que nem mesmo ele saberia decifrar, Taehyung puxava aquela fumaça fedorenta vez ou outra, pois tinha se acostumado com a pressão sanguínea acelerada. Era uma boa para perceber que ainda estava vivo.

Colocou o baseado ainda aceso em cima do cinzeiro e segurou o pincel aquarela médio, mergulhando na tinta preta para contornar algumas linhas na tela rosa e vermelha, fazendo formas e tomando cuidado para que a sensação fosse de que fez aquilo com paciência, mas, na realidade, o único cuidado que estava tendo era para não deixar a tinta escorrer e acabar perdendo a pintura, que nem mesmo sabia o que era.

cores são sentimentos, tysOnde histórias criam vida. Descubra agora