cores são sentimentos, tys

10 | marrom seriedade

A seriedade do momento é demais para aguentar sem me afogar.

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Junho, 2021.

Marrom era uma cor de merda, literalmente.

Não era tão fechado quanto o preto, cinza e azul, mas também não era tão aberto quanto o rosa, amarelo e branco. Estava no meio da escala, uma cor que não se destacava muito. Taehyung nunca tinha visto um quadro na cor marrom, simplesmente não tinha, e se existisse, não era tão famoso a ponto de ele saber. Marrom era como o irmão do meio, não era tão amado quanto o mais velho e nem tão protegido quanto o mais novo; ele apenas estava lá para mostrar que fazia parte da família.

Taehyung queria matar o diretor da Blue&Gray.

O homem queria tanto atanazar seu dia que acampou na recepção. Quando chegou na galeria, viu-o conversando com uma das recepcionistas enquanto tomava café, como se não fosse transformar seu dia em um dia de merda. Disse, enquanto sorria como um demônio vindo diretamente do inferno, que naquela semana queria uma pintura com a cor predominante marrom. Onde caralhos Taehyung iria enfiar a cor marrom em uma de suas obras? Seus quadros eram conhecidos pelas cores totalmente abertas ou completamente fechadas; ele nunca tinha nem sentido o cheiro da tinta marrom! Não fazia a menor ideia do que pintar, e só não comeu o fígado do infeliz porque ele era seu chefe e, bem, precisava fazer o que o homem mandasse se quisesse permanecer na galeria.

Taehyung pensou seriamente em cagar em cima do quadro e depois espalhar com os dedos, mas achou que seria muito nojento e o cheiro seria insuportável, então a ideia foi descartada no mesmo segundo.

Agora, observando o quadro em branco apoiado no cavalete, Taehyung pensava seriamente em se entupir de maconha, mas o dia mal tinha amanhecido e ele ainda não tinha tomado café. Seria difícil suportar a agonia no estômago, então ele estava usando a inteligência para decidir o que fazer. Não era do tipo que passava dias pintando um quadro só; ou terminava no mesmo dia, ou descartava qualquer esboço que tivesse feito. E se o maldito diretor queria um quadro de merda, então era isso que ele ia receber.

Só faltava descobrir como.

Taehyung deu duas voltas ao redor do pequeno sofá, encarando a tela como se fosse um baseado gigante que não pudesse pegar porque estava com os pés amarrados. Depois, caminhou até a grande janela e observou o dia: o horário de pico, os carros passando, as pessoas correndo, os ônibus lotados e os comércios abrindo.

Ele tinha ido trabalhar bem cedo naquele dia, deixando um desjejum para o irmão e uma mensagem pedindo para ele descansar e não ir ao estúdio naquele dia. Jungkook treinava de segunda a sábado, três dias pela manhã e três dias pela tarde. Segundo ele, isso foi estabelecido para atender às necessidades de todos os alunos, já que nem todos podiam comparecer de manhã ou de tarde. Para resolver a disputa, o professor criou um novo horário, e funcionou.

Jungkook treinava todos os dias sem falta. Nos três dias pela manhã, ele ia a pé, pois aprendeu o caminho até lá e era bom fazer cardio antes do treino, especialmente porque o sol ainda estava na paz. Naquele dia, apesar do treino pela manhã, Taehyung pediu que ele não fosse, devido ao incidente da noite anterior e sua tontura que ocasionou em um desmaio. Seria melhor comer e descansar bem antes de se esforçar. Embora precisasse ficar em casa, Taehyung estava nervoso demais com os remédios que tinham sumido, não sabia como lidar com a situação. Optou por sair mais cedo para o trabalho, na esperança de esfriar a cabeça, planejando conversar com Jungkook mais tarde para entender o que realmente estava acontecendo.

Taehyung respirou fundo e verificou a tela do celular, mas não havia nenhuma notificação de seu irmão. Se Jungkook fosse teimoso o suficiente para ir treinar, provavelmente já teria chegado lá. Respirou fundo novamente, dando uma última olhada para o trânsito antes de voltar sua atenção para o quadro. Decidiu pintar um cavalo correndo, adicionando um toque de vermelho também; era a única ideia que tinha, mas seria melhor do que nada. Separou os pincéis e organizou as tintas, surpreendendo-se ao encontrar uma lata lacrada de marrom. Sabia que aquela pintura levaria mais tempo do que o normal, já que teria que usar o pincel mais do que o habitual, mas estava esperançoso de que isso ajudaria a aliviar a preocupação que sentia pelo irmão.