1 | vermelho sangue

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Entre a guerra, o conflito e a luta, encontrei no fogo o poder de transformar.

Agosto, 2018.

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O frio chicoteava o corpo nu e suado que estava na varanda. A fumaça do cigarro que saía da boca era a única companhia que ele tinha enquanto olhava a cidade escura, apreciando as cores das luzes que, ao longe, davam a ideia de serem todas amarelas. Segurou no ferro do parapeito e colocou o tronco nu para fora, sentindo o vento ficar mais forte, bagunçando os cabelos vermelhos que aos poucos secavam o suor. Segurou o cigarro com uma mão, enquanto usava a outra para manter o corpo preso ao parapeito, e expulsou a fumaça para fora dos pulmões, olhando o céu sem estrelas.

Na cama bizarra do motel, outro corpo nu e suado habitava, mexendo no celular sem muitas preocupações.

Após finalizar o cigarro, Taehyung voltou para dentro do quarto, passeando como se sua nudez não importasse, já que não se importava em vestir uma roupa. Jogou a bituca do cigarro no lixo após ter certeza de que estava apagado e procurou sua roupa, não se atentando ao banho após o ato. Sem falar nada, se vestiu e foi até o banheiro arrumar o cabelo e lavar o rosto. Encarou-se no espelho sem ter muitos sentimentos, era algo comum se encarar sem ter pensamentos; era apenas normal olhar-se por alguns minutos por dia e saber que aquele rosto era o seu.

O cabelo vermelho estava chegando na altura das orelhas, a pele branca estava um pouco rubra pelo esforço anterior, os lábios finos estavam ressecados e os olhos castanhos não tinham vida, não tinham brilho. Era apenas mais uma pessoa no meio de tantas outras, alguém sem nada interessante para chamar a atenção dos olhos impressionados.

Era apenas alguém.

Puxou o celular para ver a hora e viu que já era madrugada; precisava voltar para o alojamento antes que o tio da portaria não quisesse mais ajudá-lo pela demora. Saiu dizendo que iria apenas jantar, e aquilo tinha sido há três horas. Quando voltou para o quarto, viu Jay terminando de vestir a blusa, também não se importando com o banho. Fariam aquilo quando chegassem em seus respectivos quartos; era melhor do que tomar banho naquela água gelada de procedência duvidosa.

— Vai ter uma festa amanhã, você vai? — Jay perguntou, amarrando os cadarços do tênis.

— De quem é?

— Sei lá. — Deu de ombros, levantando da cama e dando alguns pulinhos para amortecer o tênis. — Deve ser algum riquinho se formando. A única coisa que sei é que vai ter bebida pra caralho, o resto não importa.

Taehyung negou com a cabeça, julgando silenciosamente. Jay era a pessoa mais alcoólatra que conhecia; o garoto vivia para beber e sempre estava com bafo de álcool ou em algum bar perto do campus. Mas também não poderia interferir na vida dele; não conhecia ninguém que fizesse faculdade e não bebesse ou fumasse para sobreviver naquele inferno. De todo jeito, ele tinha as melhores notas em quase todas as matérias, mesmo que nunca aparecesse na aula sem alguns por cento de álcool no corpo.

— Me manda o endereço, qualquer coisa apareço por lá — respondeu, também dando de ombros.

— Fecho... Vai querer carona?

— Não, vou resolver algumas coisas antes de ir para o campus. Falou, fui.

Saiu do quarto antes de Jay, que esperou alguns minutos para também descer. Ambos moravam no mesmo alojamento, com a diferença de alguns andares de um para o outro. Transavam quando a faculdade se tornava insuportável, mas não saíam juntos na sociedade. Jay namorava, e mesmo que fosse um namoro aberto, Taehyung não queria ser o pivô de nada. Era comum que o ser humano, mesmo sabendo de algo, desse uma de burro apenas para falar da vida alheia. Ele namorava, mas se um dia terminasse, a culpa seria sua, pois era assim que a mente humana funcionava. Então preferia não arrumar briga desnecessária.

cores são sentimentos, tysOnde histórias criam vida. Descubra agora