Capítulo I - Ligados por Sangue / Parte 6: Edgar Visco

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Atendi o telefone, tentando manter a calma, tratando a situação como algo normal. Perguntei quem era, apresentei-me, mas o silêncio persistiu. Insisti na pergunta e nada, mas eu podia ouvir a respiração do desgraçado. De alguma forma eu sabia que estava no telefone quem tinha escrito o bilhete. Quando minha calma se esvaiu, ele desligou. Senti-me como se houvesse sido derrotado de alguma forma, fraquejado, mostrando-me assustado como um carneiro perante a um lobo sem um cão pastor para apoiá-lo. Coloquei o telefone no suporte, observando o bilhete ao lado; o sangue dava um toque macabro às palavras.

Na televisão, uma voz começava a chamar minha atenção. Tive a sensação de que a conhecia de algum lugar, foram necessários alguns segundos para associá-la a um rosto.

George.

Com o bilhete em mãos, voltei ao sofá para prestar atenção às palavras de meu antigo tenente.

"É do meu entendimento, e de todos os meus colegas, que uma cena como a de hoje traz medo e horror para nossa sociedade. Um inadmissível caso de covardia e crueldade.", ele dizia. A posição que ocupava requeria um pouco de tato. Comover as pessoas, fazendo-as lembrarem quem são os mocinhos da história e confortá-las, dando-lhes a certeza de que o bem sempre vence. "Contudo, peço que mantenham a calma e controlem os ânimos, pois lhes dou a minha palavra de que tudo que está ao nosso alcance está sendo providenciado. Além do mais..."

A âncora o cortou. "Estas foram as palavras do tenente George Hoff, do Segundo Distrito Policial da Cidade de Circodema, sobre o crime desta manhã que abalou a todos nós, moradores da região. Fique agora com a previsão do tempo para Presinde e as cidades próximas com meu caro amigo e repórter, Ian... "

Voltei minha atenção ao bilhete. "Ligados por sangue...", sussurrei. Os discursos serviam apenas para a população. Nós que trabalhávamos naquele lugar, principalmente na minha época, sabíamos que o bem dificilmente ganhava; prendiam-se os desgraçados, mas isso nunca trouxe ninguém à vida, nunca devolveu nenhum pai à sua família, nenhum filho ao conforto dos braços da mãe... Glenn, meu parceiro que... Droga. No mais, mesmo que eu não trabalhasse mais como detetive, o fato de você se pôr no caminho entre uma pessoa e sua liberdade é um pacto para a vida toda; quando estas querem se vingar, elas não vão atrás de títulos, de outros policiais ou outros detetives... vão atrás de você, que pode até dizer que estava fazendo o seu trabalho, mas alguém que passou um bom tempo na cadeia não estará muito interessado nisso.

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