Passadas algumas quadras em direção ao centro da cidade, deparei-me com um bar que lembrava-me uma parte boa de meu passado, lembrava-me de tempos bons e distantes quando ao meu lado havia alguém que eu podia abraçar... Uma fachada com alguns traços de faroeste anunciava um bar ao melhor estilo rock and roll. Saleh Rock Bar; um bonito nome, soava bem.
Decidi que não havia um lugar melhor para tomar um pouco do veneno que acabara com minha vida e com a de tantas outras pessoas na cidade de Circodema. Um veneno que se alastra pela sociedade, deixando seus rastros no coração daqueles que foram atingidos. Como, no entanto, acabar com uma vida era meu objetivo, um brinde não seria tão contraditório.
Próximo a entrada, pude ouvir a inconfundível guitarra de Jimmy Page ecoando para fora do local; um ótimo convite de boas-vindas.
***
Não saberia explicar bem o que senti adentrando aquele recinto. Não pela beleza rústica do interior e nem tanto pela própria música; havia algo no cheiro que emanava uma paz e um sentimento nostálgico, o cheiro de dias distantes e melhores, dias passados...
Subi a mão ao peito, apertando a medalha que chamava pelo toque. A saudade estava pulsante.
Como clientes, apenas um grupo de adolescentes portando suas long necks; provavelmente havia pouco tempo que o bar – que mais parecia um saloon – abrira as portas. O toque faroéstico era explicitado em seu interior: o tom de madeira escura no chão, parede e balcão; os quadros de artistas espalhados e, bom, um montante considerável de bebidas. Próximo destas, estava o balconista clássico; possível dono, que lembrava um motoqueiro, com seu cabelo longo, barba e diversas tatuagens pelo braço desnudo. Como nunca havia ido em tal lugar? Como nunca a levara lá? Senti-me como em minha própria casa; ou melhor, até mais à vontade do que em minha casa.
Aproximei-me, pedindo uma dose de Jack Daniels. Era o que os grandes nomes da música bebiam e naquela hora parecia uma boa ideia. Vez ou outra Jimmy Page era fotografado com uma destas na mão.
"É uma ótima pedida!", o balconista concordou. "Cigarro?", disse, entregando-me um maço de Lucky Strike.
"Pensei que fosse proibido fumar em lugares fechados...", apontei, puxando meu próprio maço do bolso. Preferia meu Marlboro de filtro laranja.
"Bom... e menores não podem beber", arqueou as sobrancelhas em direção aos jovens, recolhendo o maço e puxando para si um cigarro. "Talvez por isso o mundo esteja tão fodido." Ofereceu-me fogo. "Chamo-me Daniel."
"James."
"James... Esse nome lembra-me um grande cantor."
"Era o cantor preferido de...", engoli em seco, "uma querida amiga minha."
"Ela deve ser uma boa garota."
Apenas acenei, concordando. Ela era... Ela era.
"Uma boa bebida, uma boa música e um bom cigarro, garoto. Essa é a solução para esse maldito mundo." Virou-se e voltou com a dose em um copo. Virei a mesma, voltando a mão à medalha que levava sempre em meu peito; a mesma parecia queimar em alguns momentos.
Daniel pegou o controle remoto sobre o balcão e ligou a televisão atrás de si. "Vejamos..."
Ao mesmo tempo que a imagem se formava, minha boca se entreabria.
"Esse aí", ele disse, tragando seu cigarro, referindo-se ao homem que aparecia na TV, "é a prova de que o mundo está mesmo de cabeça para baixo."
Mesmo atacado por velhas e dolorosas lembranças, sorri com a lamentável cena que transmitia-se para toda a região.
Daniel tinha razão, ele era a prova viva de que o mundo virara de cabeça para baixo, onde os justos não têm vez e os malditos pecadores caminham ilesos, como se seus erros estivessem sido perdoados...
Não por muito tempo... Ao menos para você, Edgar Visco. Seu erro sempre será lembrado.
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Liberte-se
Mystery / ThrillerObra disponibilizada na íntegra para o Wattpad. Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/511410ED517738 Para adquirir o livro pela Amazon: http://www.amazon.com.br/Liberte-se-Matheus-Mundim-ebook/dp/B00ZPSLZHE/ Convite: O passado nos constrói e nos co...