Capítulo III - O Bom Filho a Casa Torna / Parte 10: Edgar Visco

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E mais uma vez encontrava-me naquele local. Estranho ter os pés novamente sobre o piso da lei. Não podia dizer que esperava que isso fosse acontecer algum dia, pelo menos não há poucos dias, antes de receber a ligação de George. Cumprimentei alguns rostos que me olhavam curiosos. O local estava vazio, mas não havia mudado nada; o mesmo ambiente marrom com mesas de escritórios, papéis e computadores espalhados pelo salão após o lobby da entrada. Resolvi apostar na sala de reuniões; talvez George estivesse lá discutindo o caso. Pelo menos era o que eu pensava.

Precisei apenas de um passo dentro da sala para ser notado.

"O que você está fazendo aqui?", um policial negro do qual eu não me lembrava questionou em alto tom.

Alguns dos agentes – que eu também não me recordava – encontravam-se em pé, outros sentados. Na frente do cômodo estavam os quadros com os retratos dos crimes e o que quer que fosse que haviam suposto até o momento. Continuei caminhando pela sala até o encontro das imagens e dos quadros – o que realmente importava –, ignorando o questionamento do policial.

"Onde está George?", perguntei.

"George não veio hoje", o policial seguiu-me. "E você não respondeu minha pergunta. Esta é uma sala reservada para reuniões e eu tenho que pedir que se retire."

"E você é...", olhei para o fardado homem.

"Paul Thompson". Do qual nunca ouvi falar, pensei.

"Então, meu caro agente Thompson. George me procurou buscando ajuda para este caso... se não se importa", disse, voltando os olhos para os quadros. As imagens que possuíam eram muito interessantes e não foram ao público: o homem com um "dois" cravado nas costas, do qual George falara, o pobre infeliz nu jogado sobre a rua – cuja imagem a televisão, obviamente, não mostrara. As marcas de picada: uma na região da coxa, uma na região do pescoço... Desgraçado...

"Não precisamos de ajuda."

O tal agente Thompson mostrava-se um tanto inconveniente – a primeira impressão é a que fica, dizem.

"Alguém me alertou sobre isso", e Linda com certeza o fez, "mas se vocês não precisassem de uma maldita ajuda, por que George viria até mim?", olhei para os outros agentes. "Para os que não me conhecem, chamo-me Edgar Visco." Paul abaixou os olhos, notando a surpresa no rosto de seus colegas. "Ótimo. Alguém mais possui alguma objeção?" Claramente, todos se mantiveram calados. "Se é assim, mãos à obra", disse, voltando os olhos às fotos das cenas, um pouco mais relaxado por intimidar as pessoas daquela sala. "Alguém pode me informar o que diabos temos até aqui?"

Pude ver no olhar do tal do Paul Thompson que o desgraçado queria me retrucar, mas, antes disso, reconheceu seu lugar e começou a passar-me as informações levantadas.

"Duas vítimas. Assassinatos... dois homens de meia idade."

Assenti. Nada que eu não soubesse. Nada que qualquer pessoa daquela maldita cidade não soubesse, pensei, mas mantive a calma, pois também tinha meus segredos.

"Continue."

"Foram vistos pela última vez em bares..."

Essa frase causou-me um certo mal-estar. Um toque pessoal, meu amigo.

"Quais? Indique no mapa." Havia um mapa da cidade ao lado das fotos das cenas dos crimes.

"Aqui e... hm... aqui", ele apontou.

Peguei dois alfinetes de marcação que estavam na base do quadro e os coloquei nos lugares. Batendo os olhos, não pareciam estar a mais de um quilômetro de distância um do outro; era um ponto de partida e todos na sala perceberam isso.

"Comecemos por aqui", disse, desenhando um círculo em volta dos bares. "Colocamos alguns caras à paisana nos bares dessa região", concluí, virando-me para os que na sala se encontravam. Eles assentiram em concordância. Nada de genial, mas prático, tinham que admitir.

"Você está louco?", Paul retrucou. "Isto seria quase, se não todas as malditas pessoas que possuímos aqui! Temos outros problemas, outros casos! Não posso permitir isso."

"É o que precisa ser feito, garoto. Quanto mais sangue você quer ver derramado?"

"Garoto? Com quem você pensa que está falando?! Quem você pensa que é para se dirigir a mim dessa maneira?" Já era o segundo dia seguido em que eu protagonizava uma cena para todas as pessoas que estavam na sala assistirem e comentarem.

"Eu sei quem eu sou", olhei-o no fundo dos olhos. Voltei-me para os outros. "Há outra urgência? O que me dizem?"

Timidamente, homens e mulheres que lá estavam concordaram, exceto, claro, o meu mais novo amigo, Paul Thompson. O que eu havia feito para aquele cara?

"George não vai gostar disso...", ele disse, em voz baixa.

"Ele quem me convidou. Se possuir outras prioridades, sinta-se à vontade para não ajudar, policial. Apenas não atrapalhe."

"Alguém tem que o vigiar, Edgar. Talvez os outros aqui não o conheçam, ou tenham esquecido, mas eu me lembro muito bem. Velhos hábitos não se vão fácil, é o que dizem."

"Então você deveria ter cuidado com o tom de sua voz, infeliz", sorri. Ele não sabia com quem estava brincando. "Será uma honra, agente." Voltei meus olhos para os outros. "Vamos organizar isso, moças e rapazes."

Fiquei perguntando-me onde estava George. Algo me dizia que havia alguma coisa errada, mas com o tempo, me imergi no trabalho e não pensava em outra coisa que não fosse a operação daquela noite. Dezessete bares marcados e trinta e nove policiais alocados para a operação – alguns de outros distritos –, mais três postados na estação. O resto da tarde e o começo da noite foram reservados para elaborar os detalhes e estratégias; como agir e quando agir, primordialmente.

Nove horas. Alguns diriam muito cedo, outros diriam muito tarde, mas esta era a hora. Nove horas da noite...

***

Momentos antes de sairmos para a operação, quando todo o grupo se encontrava junto, pedi licença para meus "antigos novos" colegas para fazer uma ligação.

"Linda..."

"Eddie, meu amor! O que vamos fazer hoje? Já estou quase saindo aqui."

"Droga", pensei, levando a mão ao rosto. "É sobre isso que eu queria falar...", disse.

"O quê? O que houve?" A voz hesitou por um momento, talvez esperando por minhas respostas, que não se fizeram necessárias. "Não, Edgar... Não!"

"Eu não poderei vê-la hoje", doía dizer aquelas palavras.

"Eddie, por Deus, estamos noivos! Eu mal o vi desde então... Por favor!"

"Temos uma operação. Precisamos pegar esse maldito assassino... Me desculpe."

"Isso não pode continuar assim, Eddie..."

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