Capítulo II - O Motivo e o Caminho / Parte 9: Edgar Visco

2.1K 211 9
                                    

Todos olhavam para mim à medida que eu adentrava o escritório, observando que eu já não era mais o mesmo. Charles, seu cretino, por que você fez isso? Meu olhar era o de um predador olhando para sua frágil presa – intenso, quase palpável.

"Ei, Charlie!", chamei o desgraçado, que se virou, surpreso. "Você mesmo, seu filho-de-uma-puta!", puxei-o pelo braço, socando-o na cara.

Tornamo-nos, neste momento, tudo o que existia no escritório. Pessoas saíram de suas salas, indagando o que diabos estava acontecendo. Profissionais e clientes não se distinguiam mais, todos eram apenas a plateia.

"Edgar, seu desgraçado! O que você pen...", ele não completou a frase, pois acertei-lhe um chute na altura do estômago. Sangue corria de seu nariz.

Charlie, Charlie...

"Seu moleque nojento. Infeliz. Não cansa de ser desprezível?", abaixei-me ao lado dele, que cobria o rosto com a mão, desacreditando no que se passava.

"Seu porco maldito, seus dias aqui aca..." Outro chute na barriga.

"POR QUE VOCÊ NÃO SE CALA? PELO MENOS UMA MALDITA VEZ!" Ele se encolhia, temendo outro golpe.

"Já chega, Edgar...", uma sóbria voz disse, seguindo de um toque em meu ombro. Ronne. Olhava-me assustado, desacreditando em minhas atitudes.

Com os punhos ainda cerrados, preparados para outro golpe, voltei os olhos para as pessoas na sala. Todos possuíam o mesmo olhar, como se um leão houvesse fugido de sua jaula. Voltei-me para Charles, que, encolhido no chão, olhava-me, afoito e assustado.

"Eu me demito, seu monte de merda." Cuspi sobre ele e coloquei-me a caminho da porta.

"FILHO DA PUTA! VOCÊ ESTÁ ACABADO! ISSO NÃO TERMINA AQUI, DESGRAÇADO!", gritava enquanto alguns o ajudavam a se levantar. A camisa estava manchada de vermelho, e o sangue ainda escorria do nariz.

Sem desviar o olhar, levantei o braço, mandando-lhe o sinal universal para "foda-se, Charlie, foda-se você e toda essa merda."

"Me solta, infeliz!", ainda o escutei murmurar com um dos rapazes que o ajudavam a se levantar. "VOCÊ ESTÁ MORTO INFELIZ! MORTO!"

Foi a última coisa que o ouvi dizer.

***

Como que não notando o atípico cenário que se formava naquela rua que eu tanto conhecia – um maldito carro sobre a calçada, pessoas aglomeradas, uma mulher chorando, uma criança chorando –, caminhei a passos largos. Desatento, esbarrei em um homem.

"Ei!", ele reclamou.

Virei-me, encarando o desgraçado que chamara minha atenção. Meu sangue ainda fervia pelo desentendimento prévio. O homem, sábio, sentiu-se intimidado pelo olhar e abaixou a cabeça para mim, que desviei o rosto e segui meu caminho.

No céu, uma tempestade ameaçava se formar. Ouviu um trovão no horizonte; a trilha sonora perfeita para minha ira, pensei. Meus sentimentos estavam em sintonia com o clima; talvez até o controlando. Porém, o inverso também valia, pois eu mesmo já não conseguia controlar o que sentia.

Continuei em frente, ao passo que a aglomeração se dissipava atrás de mim.

Liberte-seOnde histórias criam vida. Descubra agora