Duas viaturas já se encontravam no local quando cheguei. Errei um pouco no freio, tornando-o mais brusco que o necessário e marcando a rua com a borrada dos pneus do meu carro. Desci do carro, ponderando os olhares e deparando-me com uma excêntrica figura. O Beco dos Ratos era conhecido por pessoas dos mais diversos tipos, das mais diversas índoles e de muito fácil reconhecimento. Um homem de moicano roxo, colete deixando à mostra uma tatuagem acima do quadril, uma calça de couro colada; o Beco dos Ratos sempre surpreende, pensava, reprimindo as partes mais conservadores de meu gênio e imergindo de forma mais concreta em meu passado policial.
***
Paul Thompson chegara nos minutos seguintes, deparando-se comigo esbravejando com um par de policiais frente a um dos inúmeros becos escuros.
Ao perceber que eu estava lá, veio ao meu encontro, diminuindo o passo quando notou que eu o aguardava.
"Fale para esses...", contive-me, respirando, "caros colegas me deixarem passar. Por Deus..."
Não sem esboçar um sorriso, o policial assentiu, seguindo junto a mim para o escuro beco de onde emergiram as más notícias. "Corpo", ela dissera ao telefone. Os rostos dos agentes que cercavam o local transpareciam a imagem de que nenhum deles estava preparado para a cena. A polícia de Circodema reformulara-se muito desde minha saída, o que me fazia sentir incomodado em meio aos novos e despreparados rostos. Esqueceram o rosto da cidade em que habitavam; o comodismo transformara o grupo em alguma coisa um pouco acima de agentes de trânsito.
"Aquele", um dos policiais começou a falar, apontando na direção contrária "homem, o de moicano roxo, identificou a vítima como Alex, mas não encontramos documentos." Será que a figura do Beco dos Ratos estaria envolvida? Voltei os olhos para o homem e segui adiante.
Posso dizer com convicção que nem em meus mais loucos sonhos e pensamentos em toda minha vida ocorreu-me uma cena tão inesperada e grotesca como a que presenciei.
"CHARLIE?", gritei, após alguns segundos de observação. "MAS QUE... PORRA!"
Uma mão escorou-se em meu ombro, fazendo-me virar.
"Charlie?", o policial perguntou. "Não era Alex?", tornou o olhar para os colegas, com o lábio torcido, gesticulando que não estava entendendo.
Continuei a encarar o corpo, boquiaberto. As calças arriadas, deixando tudo – bom, pelo menos tudo que sobrou – à mostra; muito sangue por entre as pernas, braços e toda a roupa; marcas de tiro no peito e abaixo do umbigo e um olho roxo que, bom...
"Você o conhece, Edgar?", Paul perguntou-me.
"Eu...", balançava a cabeça, buscando localizar-me. "Trabalhamos... Trabalhávamos juntos. Esse rapaz é Charles Keller, sobrinho de Eric Keller."
"Meu Deus...", Paul levou a mão à cabeça em resposta. Se para mim o ato parecia algo totalmente pessoal e destacava a aproximação de um inimigo misterioso, para Paul Thompson e os outros policiais significava a morte de uma pessoa próxima a um figurão da cidade; tais mortes causam um alarde extremo. Bêbados assassinados, tudo bem, era horrível, mas contornável. Agora, um Keller? Deus... Pessoas poderosas, ricas e influentes não aceitam serem expostas ao risco. "Isso não pode estar relacionado com..."
"O que é aquilo na boca dele?", intervi, esticando o braço, mas uma mão me impediu.
"Porra, Edgar. Isso é uma merda de uma cena de crime! Parece até que você nunca trabalhou com isso."
"Me desculpe...", o comentário me constrangeu. Agira por impulso.
"Onde está Rachel?", ele perguntou aos outros policiais.
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Liberte-se
Misteri / ThrillerObra disponibilizada na íntegra para o Wattpad. Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/511410ED517738 Para adquirir o livro pela Amazon: http://www.amazon.com.br/Liberte-se-Matheus-Mundim-ebook/dp/B00ZPSLZHE/ Convite: O passado nos constrói e nos co...