"Estas foram as palavras de Edgar Visco, ao vivo para vocês, diretamente do canal sete!", a repórter exclamou.
Inacreditável, eu pensava. Simplesmente inacreditável! Havia melhor palavra para descrever o ocorrido? Creio que não.
A imagem da TV voltou ao estúdio.
"Três mortes já estão associadas ao misterioso assassino que como um espectro...", a âncora se virou para o lado, "espectro é uma boa colocação, Ralph?". O outro âncora assentiu. "Certo,", voltou os olhos para a câmera, "que como um espectro surgiu sobre nossa cidade, recuperando antigos demônios e disseminando o medo entre os nossos cidadãos". Uma série de fotos começou a ser mostrada. Dos lugares eu me lembrava, dos rostos... Não tanto. Não saberia afirmar se isto era algo bom ou ruim. "Um espectro ronda nossa cidade", ela afirmou. "Um espectro ronda Circodema."
Quem quebrou o gelo fora Daniel. "Três coitados que serão esquecidos na próxima semana", afirmou. "O espectro", enfatizou a palavra, "por outro lado, bom... Este será lembrado por muito tempo". Tornei minha atenção para ele. "Temido, odiado! Porra, até mesmo amado! As pessoas precisam de monstros criados para apontarem os dedos acusando-os das coisas que amariam ter feito. Um grande homem uma vez disse que o ser humano é mal por essência. Não me lembro o nome dele, mas é a pura verdade, meu caro James". Tragou seu cigarro. Eu não conseguiria desviar minha atenção de suas palavras nem se Edgar se sentasse ao meu lado. "Todas as pessoas buscam assassinos, sangue, terror e tragédia. Seja em livros, seja em filmes ou na maldita televisão. As pessoas desaceleram ao passar por um acidente; não conseguem passar por um corpo e simplesmente olhar para frente e seguir. Não... Um instinto faz com que a cada passo olhemos para trás curiosos com a ausência de vida. Os feitos desse desgraçado..." voltou ao cigarro, "Ele se imortalizará. Isso ninguém poderá tirar dele: seu nome, seus feitos. Não é mesmo meu jovem?"
Admiração silenciosa foi tudo o que pude proporcionar a ele em resposta. Acendi um segundo cigarro, enfeitiçado pelas palavras do homem. Queria ter um pai que tivesse me dito tais palavras! Eu estava sendo humilde pelo que almejava até então. Nunca temi o futuro que sabia que me aguardava, e Edgar... Edgar era e sempre seria o clímax, não havia dúvidas. Mas eu poderia... Poderia de alguma forma deixar minha marca; tornar-me imortal! Um nome eterno na suja história de Circodema. O ego inflamava em meus olhos com meus próprios pensamentos. Nunca me entendi como alguém vaidoso. Justo; justo era a palavra que me definia. Mas talvez alguém em algum lugar, algum dia, escreveria um livro sobre a minha história. Isso eu prezava. As pessoas precisavam saber a verdade e, dado o pequeno incentivo, alguém iria atrás da verdade: expor ao mundo o verdadeiro vilão.
Decidi que iria fazer a trilha de migalhas de pão para que algum João seguisse o trajeto até mim, até minha história.
"Sua sabedoria me inspira, Daniel...". Bebi o resto da dose, postando-me de pé.
"E sua juventude me causa inveja, caro James."
"Foi um prazer", estendi a mão. "Quanto te devo?"
"Uma boa companhia é melhor do que algumas notas velhas", ele esticou o próprio braço.
"Volte sempre que precisar de uma boa música..."
"Ou um bom cigarro, ou uma boa bebida...", pensei.
Sentia-me poderoso; como se alguém estivesse me observando, torcendo por mim. Esperava que assim fosse; merecia minha vingança.
Sentia-me um artista, por que não?
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Liberte-se
Mystery / ThrillerObra disponibilizada na íntegra para o Wattpad. Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/511410ED517738 Para adquirir o livro pela Amazon: http://www.amazon.com.br/Liberte-se-Matheus-Mundim-ebook/dp/B00ZPSLZHE/ Convite: O passado nos constrói e nos co...