Capítulo VIII - Liberte-se / Parte 5: Edgar Visco

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A lua já descia e eu continuava a dirigir sem destino – mas aos poucos a lucidez se assentava sobre mim. Afrouxava o pé do acelerador, parando o carro completamente.

"O que diabos estou fazendo?" levei a mão ao rosto, aos prantos. "Para que inferno estou indo?"

As lágrimas aumentaram. Era demais para aguentar. Como podia o mundo colocar tanto peso sobre meus ombros? Como podiam esperar que eu resolvesse tudo? Deus... eu perdi o controle da minha própria vida. Eu era apenas um homem!

Uma torrente de pensamentos explodiu em minha cabeça. Um show de infinitas imagens. Como ansiosos sabem, as vezes os pensamentos e as ideias se materializam. Entrei em colapso.

Uma neblina ocupa todos os espaços de todos os ambientes. Linda passava sorrindo por mim e sumia em seguida. Tiros! O assassino abrindo a garganta da mulher. Tiros! Vejo-me caído. Cãimbra! Como poderia ter cãibra num momento como aquele? Linda voltava sem o sorriso, desaparecendo novamente. A neblina se dissipa e o assassino está em minha frente. Eu o reconheço por um instante... Ele sorri. Queria que eu o reconhecesse. Ele está com uma arma na mão. TIRO!

Pulo no banco de meu carro, assustado.

"Linda..."

Voltei as mãos ao volante. Não. Não! Não iria perder. Não podia perder, merda. O mundo – e o quanto pode ser megalomaníaco pensar que o mundo se importa com a nossa vida? – só voltaria ao normal quando aquele desgraçado estivesse morto. E quem era ele mesmo?! Merda! A sensação era da palavra formigando na ponta da minha língua. Mas, como você bem sabe, isso não chega nem perto de ser o suficiente quando todos os olhos de seus colegas estão postos sobre seu rosto enquanto você sente o seu suor descer frio e balbucia, passeando pelas vogais, tentando se lembrar da maldita palavra. Não! Você precisa lembrar a fodida combinação de letras que irá o tirar de apuros. É o único jeito. Antes que você se sufoque.

O momento pedia cautela. Fiz o que julgava ser o mais sensato: coloquei-me em direção à delegacia.

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