Capítulo VI - O Epitáfio e o Espetáculo / Parte 6: Michelle

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Fechava a floricultura, pensando no merecido descanso que viria. Talvez ligaria para um de meus amigos naquela noite. Talvez. Encaminhando-me para acionar o alarme, ouvi passos. Virei-me alertando: "Já estamos fechando...". E era o misterioso homem de momentos antes.

"Desculpe... eu volto outra hora", ele disse e se virou.

"Não, não! Tudo bem. Em que posso ajudá-lo? A pessoa não gostou das rosas?". Uma resposta afirmativa seria estranha.

"Não! Elas são lindas! É só que eu precisava...", pausou. "Você tem alguma rosa branca?"

"Ó...", arfei. Minhas sobrancelhas se curvaram. "Sim... apenas um instante". Não havia muito o que dizer. As rosas brancas são as piores.

"Obrigado".

Olhei por entre as flores, um pouco trêmula. Em minha carreira descobri que rosas brancas significavam uma coisa: morte. Era fácil escolher uma rosa de cor vermelha; pensava em minhas paixões e visualizava as sedutoras flores, escolhendo a que mais me agradaria. Rosas brancas, porém... Como poderia escolher algo tão íntimo? Rosas vermelhas poderiam ser entregues sem o menor sentimento, um prelúdio para uma quente noite de sexo que deixaria apenas recordações, fossem estas boas ou ruins. Rosas brancas... A tristeza tocava meu coração. Na tentativa de me livrar deste fardo, fechei os olhos e puxei uma no meio de tantas. Esperava que ela servisse; esperava, do fundo do meu coração, que ela fosse a melhor.

"Aqui está". Entreguei a rosa a ele.

"Agradeço, novamente", ele replicou, pegando-a.

Ele pagou por ela e saiu.

Acompanhei-o com o olhar, enquanto ele seguia para o seu negro sedã. As rosas vermelhas trouxeram-me curiosidade; a rosa branca, porém, trouxera-me apenas um sentimento de piedade para o indesvendável homem. Ainda não sabia seu nome.

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