Capítulo 121

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Depois de alguns dias eu voltei a trabalhar, a Natalie cuidaria da Bela e então a Maria apareceu na empresa.

Maria: Oi...

Eu: Oi... – sorri – Que surpresa.

Maria: Eu estava indo almoçar e resolvi passar por aqui e te chamar para almoçar comigo.

Eu: Eu preciso assinar só mais um documento, cinco minutinhos. Senta ai...

Maria: Ok. – eu li e assinei, chamei minha secretária, expliquei pra ela e fomos almoçar ali perto num restaurante brasileiro. – E ai, como a Bela está?

Eu: Está melhor. Acuidade em 100%, a sensibilidade diminuiu bastante, mas ela insiste em conversar por linguagem de sinais. Acho que é o costume, sei lá. Ela voltou a dormir direito, a falar, mas ela fala e continua com os sinais. Ela parece com medo sabe.

Maria: Seria bom leva-la numa psicóloga.

Eu: É, o médico que fez a cirurgia recomendou uma psicóloga, eu vou agendar com ela essa semana.

Maria: E você e a Natalie com o novo bebê? Você não me pareceu muito feliz.

Eu: Ai Maria – suspirei – Eu tenho tanto medo sabe. Pode parecer frio, cruel, mas eu não consigo ficar feliz ainda.

Maria: Não é crueldade, é medo inconsciente e de certa forma preconceito.

Eu: Preconceito?

Maria: Sim. Vocês são avós, então condicionaram isso na cabeça de que são avós e não há mais espaços para serem mães de outro bebê porque todo o espaço para amar e cuidar de uma criança, foi preenchido pela Angeline. Você acha que por ela demandar muito de cuidados agora que ela é um bebê ainda, você não pode ver uma criança na vida de vocês que precise de atenção já que tem a Angeline. Mas não é assim Pri.

Eu: Eu tenho medo Maria – deixei cair uma lágrima.

Maria: Medo de que Pri?

Eu: De não estar presente quando ela precisar de mim porque eu estou cuidando de outro bebê.

Maria: Pri... – suspirou – A Angeline tem síndrome de down, e você perto ou longe, ela continua tendo a síndrome, mas também continua sendo uma criança como outra qualquer. Você está tentando colocar um domo em volta dela, porque você está com tanto medo dela sofrer que não sabe o que fazer e quer protege-la a todo custo. Não é assim Pri. Não é assim que funciona. Solta esse ar que você está prendendo. A Angeline é uma criança que é muito amada, muito querida, que tem pais, tem avós, tem uma rede de apoio enorme. Ela não está sozinha no mundo não. Não pode blinda-la de tudo. Olha a Isabela por exemplo. Sua filha não escutava direito, foi assustador no começo com certeza, mas vocês conseguiram passar por isso, aprenderam a linguagem de sinais, sua filha foi operada depois de uma longa busca por um tratamento, e agora refez a cirurgia e independente disso, a audição nunca impediu a Isabela de ser uma criança como outra qualquer, nunca a impediu de brincar, de fazer qualquer coisa. Com a Angeline também é assim. Ela enfrentará desafios, mas ela vai passar por isso e vocês também. Acalma seu coração, tira esse peso desnecessário que você está carregando. – foi uma conversa incrível, eu realmente estava com muito medo de tudo isso. Depois de algumas semanas, fiquei vendo a Natalie deitada. Ela tinha uma pequena barriguinha já e ela estava deitada lendo um livro e a blusa do pijama estava deixando sua barriguinha amostra. Pela primeira vez eu toquei na barriga dela. Meu corpo todo arrepiou com esse toque. Eu viajei por alguns momentos. Me lembrei de quando ela ficou grávida do Eric e a gente era só amiga. Aquele momento me doeu bastante. Saber que ela estava grávida de um idiota que nunca quis nada com ela além de se exibir com ela como se fosse um troféu e leva-la pra cama, mas que na hora da responsabilidade, ele foi um imbecil e caiu fora. Eu fui a amiga, querendo ser a namorada e a mãe daquela criança, mesmo sendo uma adolescente. Eric se tornou meu filho e eu não curti a gravidez dela como a outra mãe. Agora eu era a outra mãe do bebê que estava na barriga dela. Soltei um sorriso involuntário.

Eu: Oi bebê... Oi... Eu te amo meu amorzinho. – dei um beijo na barriga dela e a Natalie colocou os dedos no meu cabelo. Eu deitei ali na barriga dela – Vamos fazer muitas coisas juntos sabia? Se quiser jogar basquete, vai ter que pedir seu irmão para te ensinar porque eu sou péssima nisso, mas no futebol eu me garanto. – ri e a Nat riu também. – A mamãe é uma péssima cozinheira, então aproveita bastante o leite dela, porque o dia que ela resolver cozinhar, a gente tá lascado. – ela me deu um tapa na cabeça.

Nat: Para de falar mal de mim para o nosso filho. – riu.

Eu: Estou trabalhando com verdade ué – dei risada. – Filho... – suspirei – Confesso que estou com medo disso tudo. De ser mãe de novo, do que o mundo tem reservado para você aqui fora, para a nossa família. Me desculpa se eu não me empolguei logo de cara é que são muitas questões. Eu te amo muito... E isso só vai crescer mais e mais – dei um beijo na barriga dela.

Nat: Amor. – falou baixou – Vai dar tudo certo. – eu me sentei na cama – Sei que está nessa tensão toda por causa da Angeline, mas não poderemos proteger nossa neta do mundo. Sei que está com medo dela sofrer preconceitos, mas você não vai poder evitar muitas coisas na vida dela, não vai poder coloca-la numa bolha pra sempre. Sei que está assim pelos ataques que ela sofreu desde que ela nasceu, por essa mídia podre e de certa forma por causa da minha fama. – suspirou. – Mas deixa nossa neta ser criança, deixa as coisas acontecerem como tem que acontecer. Vamos curtir essa gravidez, a chegada do nosso bebê.

Eu: Desculpa ter sido uma idiota com você.

Nat: Eu te entendo amor... Eu te entendo muito. – me puxou e me deu um selinho. – Eu te amo.

Eu: Eu te amo... – nas semanas seguintes, eu e a Natalie decidimos uma coisa meio maluca, renovar nossos votos. Resolvemos fazer na praia, bem cedinho. Era uma praia deserta, só nossos amigos e nossa família. A irmã dela veio com a família, os irmãos também. Natalie já estava com seis meses quando decidimos fazer esse casamento. Todo mundo de roupas confortáveis, descalços e felizes como nós. Foi uma cerimônia linda...


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