Capítulo XXVII

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Taehyung

Sento-me à pequena mesa redonda em meu escritório, e S/n se senta à minha frente, olhando para mim com aqueles olhos castanhos bonitos e cautelosos. Suas mãos se torcem sobre a mesa enquanto ela espera que eu inicie a conversa, e eu deixo o momento se estender, curtindo seu nervosismo.

Deitar ao lado dela na cama minúscula de Tae teria sido uma tortura; se não fosse por meu filho, eu não teria sido capaz de me controlar. Como está, ainda estou duro por estar ao lado dela, sentindo seu calor e respirando seu cheiro doce e fresco. Preciso de todo controle que tenho para não estender a mão e agarrá-la aqui e agora, deitando-a nesta mesma mesa.

Com esforço, eu me controlo. É muito cedo, especialmente porque estou saindo em meia hora e só voltarei dentro de alguns dias. Uma foda rápida não é o que eu procuro. Não será nem perto o suficiente.

Assim que colocar S/n na minha cama, pretendo mantê-la lá por horas. Talvez até dias ou semanas.

Além disso, não foi por isso que a chamei ao meu escritório.

Colocando meus antebraços sobre a mesa, eu me inclino para frente.

— Sobre a noite passada...

Ela enrijece, a pulsação em seu pescoço acelerando visivelmente.

— ... era sobre sua mãe?

Ela pisca.

— O quê?

— Seu pesadelo. Foi sobre a morte da sua mãe?

A pergunta tem me atormentado durante toda a manhã e, uma vez que Namjoon não apresentou o relatório, só há uma maneira de saber a resposta.

Com a palavra "morte", seu queixo balança quase imperceptivelmente.

— É... sim, de certa forma, é sobre ela... — Ela engole em seco. — A morte dela.

— Eu sinto muito. — O que quer que ela esteja escondendo, sua dor não é fingida e me puxa como um anzol. — Como ela morreu?

Eu sei o que disse o relatório policial, mas quero ouvir a versão de S/n sobre isso. Já descartei a possibilidade de que ela possa ter matado sua mãe – a garota que observei nos últimos dois dias é tanto uma assassina quanto eu, um santo – mas isso não significa que algo estranho não aconteceu. Algo que a fez ficar fora do radar e a enviou em uma viagem pelo país em um carro que deveria ter sido jogado fora uma década atrás.

As mãos de S/n se juntam com mais força, seus olhos, com um brilho doloroso.

— Foi considerado suicídio.

— E foi?

— Não sei.

Ela está mentindo. Está claro como o dia que ela não acredita em uma palavra daquele boletim de ocorrência, que há algo que ela não está me contando. Estou tentado a pressioná-la com mais força, obrigá-la a se abrir comigo, mas é muito cedo para isso também. Ela ainda não tem motivos para confiar em mim; se eu forçar a barra, o tiro sairá pela culatra.

A última coisa que quero é assustá-la, fazê-la querer correr enquanto eu estiver fora.

— Isso é difícil — digo baixinho, em vez disso. — Não admira que você tenha pesadelos.

Ela acena com a cabeça.

— Tem sido meio difícil. — Cautelosamente, ela pergunta: — E quanto aos seus pais? Eles estão na Rússia?

— Eles estão mortos.

Meu tom é excessivamente áspero, mas minha família não é um assunto que eu gostaria de aprofundar.

Os olhos de S/n se arregalam antes de se encherem de simpatia esperada.

— Eu realmente sinto muito...

Eu levanto a mão para impedi-la.

— Você não tem um telefone ou um laptop ou qualquer tipo de tablet, certo?

Ela parece surpresa.

— Certo. Eu não trouxe nenhum comigo na viagem.

Eu me levanto e caminho até minha mesa. Abrindo uma das gavetas, pego um laptop novo, ainda lacrado em uma caixa, e o trago de volta à mesa.

— Aqui. — Eu coloco na frente dela. — Estou partindo para o Tajiquistão em — consulto meu relógio — quinze minutos. Não sei quanto tempo estarei fora, mas levará pelo menos de três a quatro dias, e quero que você me mantenha informado sobre o progresso de Tae.

— Sim, claro. — Ela também se levanta, seus olhos castanhos olhando para mim. — Você gostaria que eu lhe enviasse um e-mail diário ou...?

— Vou ligar para você. Peça a Jennie para abrir uma conta para você na plataforma segura que usamos. Além disso — pego meu cartão de visita e entrego a ela —, aqui está o número do meu celular em caso de emergência.

Eu pretendo vê-la através das câmeras no quarto de Tae também, mas não vai ser o suficiente. Eu já sei disso. Preciso de mais contato com ela, preciso ouvi-la falando comigo, vê-la sorrindo para mim, não apenas meu filho. As videochamadas também não serão suficientes, mas é o melhor que posso fazer antes de sair completamente de viagem, e ainda não estou tão longe.

Não, isso terá que servir, e manter-me atualizado sobre o progresso de Tae é uma boa desculpa para essas ligações.

Meu peito aperta novamente ao pensar em meu filho, mas, desta vez, a dor é acompanhada por uma espécie de calor inquietante. Tae riu comigo, olhou para mim com outra coisa que não cautela esta manhã... e foi por causa dela, porque ela estava lá, me emprestando sua doçura, sua magia radiante.

Eu quero mais disso.

Eu quero tirar todo o seu sol, usá-lo para iluminar cada canto escuro e oco da minha alma.

Lentamente, tomando cuidado para não assustá-la, eu me aproximo e gentilmente curvo minha palma sobre sua bochecha suave como a seda. Ela me encara, imóvel, mal respirando, aqueles lábios macios e carnudos de boneca entreabertos, e minhas entranhas se apertam em uma onda violenta de necessidade, uma fome tão intensa quanto escura. Por mais que eu queira fodê-la, quero possuí-la ainda mais.

Eu quero possuí-la por dentro e por fora, acorrentá-la a mim e nunca deixá-la ir.

Algo da minha intenção deve ter se mostrado porque sua respiração engata, sua garganta move-se em um engolir nervoso.

— Taehyung, eu...

— Mantenha o laptop ligado à noite.

Eu ordeno baixinho, e baixando a mão, dou um passo para trás antes que eu possa ceder ao turbilhão perigoso dentro de mim.

A besta, que nenhuma quantidade de refinamento pode esconder.

Devil's lair (A Obsessão Kim) - Imagine Kim TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora