Capítulo 6

42 7 0
                                    

- Sente-se, majestade.

- Ainda não sei seu verdadeiro nome, Willian.

Falo relaxando na grande cadeira de madeira e o mesmo fica parado na minha frente com a coruja em seu ombro.

- Perdoe senhor, mas desde que sai do outro mundo, sou amaldiçoado a não falar sobre meu passado. A pouca magia que existe neste mundo ainda me prende com o castigo que recebi de meus antigos atos e, até que eu seja perdoado, estarei condenado em viver nessa casca velha que a cada dia dói mais.

Apoio a cabeça na mão. Uma mania minha de quando estou desinteressado na história, mas me obrigo a ouvir.

- Tá, tá. Tanto faz. Conseguiu encontrar a tal jóia?

- Não senhor. Minha magia está fraca, mas consegui uma pequena informação antes de tudo dissipar.

- Revele.

- A joia está próxima. Acredito que esteja na cidade.

- Já é alguma coisa. – Falo suspirando cansado e vejo uma pequena pelúcia velha de ovelha na estante. – Me fale do passado de Cássia.

Ele fica mudo e eu o encaro, vendo a surpresa e susto em seu rosto.

- Não me diga que é outra maldição?

- N-não... Vossa alteza... É que...

- Fale! - Mando.

- Sim, senhor. Quando apareci neste mundo, passei na vida de muitos e, quando conheci Cássia, o mal já tinha feito sua parte.

- Mal?

- Cássia era uma antiga órfã que conheci em uma grande cidade, a muito longe daqui. Ela cresceu cuidando de todos lá, sonhando acordada por causa dos livros que eu dava para ela sobre cavalheiros, príncipes e aventura. Porém, em sua adolescência conheceu um moço, próximo da idade da senhorita. Ele era líder de um grupo muito famoso e perigoso na cidade, mas ela não sabia disso no começo. Se apaixonou pelo moço e fez amizade com todos seus companheiros, aprendendo a ser forte para proteger as crianças do orfanato.

Eu apenas ouvia, um pouco mais interessado, desta vez.

- Ao completar sua maioridade, saiu do local e começou a viver com esse moço, mas sempre ia ao orfanato ajudar, já que recebeu autorização para trabalhar lá. Por ser possessivo, este moço a impedia cada vez mais de sair, cortando sua liberdade de pouco a pouco. Mas ela estava cega pela paixão e não percebia isso. Eu fui o último que ele cortou, talvez pela minha aparência de idoso, mas enfim ela sumiu.

Não estava gostando do caminho que essa história estava indo, mas decido não cortá-lo.

- Em uma grande noite chuvosa, fui acordado com fortes batidas na porta. Já que os ladrões nunca foram tão educados, sabia que não seria o caso, mas...

Fala e para .Eu o encaro e vejo lágrimas caindo em seus olhos, me surpreendendo.

- Cássia havia aparecido, completamente fraca, machucada, chorando e...

- E?

Pergunto e a coruja voa, voltando com um lenço na qual William limpa seu rosto.

- Eu já havia conhecido vários monstros em minha vida, mas... O que eu tinha visto naquela noite foi... Algo inacreditável, até para um humano sem magia.

- O que aconteceu? - Pergunto um pouco baixo e ele não me encarava mais.

- Cássia havia abortado um bebê daquele monstro após sofrer tortura do mesmo. Após alguns dias de cama, ela havia se recuperado de saúde e explicou que, ao contar para ele sobre a gestação, o mesmo não queria algo "imundo" como um bebê para atrapalhar a vida dele. E-ele... Chamou algo tão simples e inocente de imundo. Infelizmente Cássia não conseguia contar para ninguém nenhum detalhe do que ela sofreu naquele dia e noite.

Sua realeza, a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora