Capítulo 41

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"Sempre que carrego um filho, parece que é uma maldição. Sempre acontece algo ruim e eu saio machucada. Eu não posso perder um terceiro filho, Felipe."

Após descobrir que Cássia sempre soube do filho que perdemos, ela não saiu mais de meu quarto. Mal me encarava e pareceu entrar em uma sombra negra da depressão a cada dia mais. Só dormia e comia pouco. Eu não sabia mais o que fazer e, no meio da noite, sem conseguir dormir, sai do quarto para a varanda, onde pude ver a maior parte do reino, ainda com luzes acesas em alguns lugares, provável que sejam tavernas. Me transformo em minha fera, na qual senti necessidade e pulo, caindo de uma grande altura e pousando em pé antes de me inclinar e correr, escalando os muros do palácio e correndo na floresta verde, onde eu já conhecia. Paro em um pequeno campo vazio que existia, sem nenhuma árvore. No meio do grande círculo vazio tinha as raízes de uma antiga arvore que parece ter sido cortada há muito tempo, como o local em que faço os funerais, que era mais distante da capital. Cheiro e sento em cima da madeira, ainda na minha forma animal. Sinto uma grande vontade de rugir, mas isso chamaria atenção de presenças indesejadas. Solto o ar e abaixo a cabeça até ver o filhote de um esquilo se aproximar da Raiz onde eu estava. Ele tinha olhos marrons, me lembrando dos olhos marrons claros das criaturas selvagens, porém, aos poucos ela ficava mais perto de mim e percebia que os marrons eram mais escuros, de um jeito que nunca tinha visto antes. Logo ela para na minha frente e sorri para mim.

- Perdido? - Pergunto e ele nega com a cabeça e se levanta.

- O que te aflige, grande fera? - Sua voz parecia de uma velha e percebi que este era seu tamanho normal de esquilo. Eu que era enorme.

- Alguém muito importante para mim está sofrendo e eu não sei o que fazer.

Ela vira a cabeça, parecendo querer mais detalhes e deito no tronco, ficando mais próximo dela.

- Ela está com medo. Assustada. Não sai do quarto. Mal come e... Tem uma nuvem negra pairando sob ela que a cada dia cresce mais.

- Ah, a terrível depressão. - Fala começando a entender. – Então está bem sério a situação, não é meu querido? - Fala tocando em meu focinho e sinto uma leve quentura em meu coração.

- O que eu faço, senhora? Estou sentindo algo que nunca senti antes de conhecê-la. Antes eu sempre achei que era apenas matar que tudo resolvia, mas agora... Depois que a conheci, tudo em volta de mim mudou também. E, mesmo tendo todo o poder do mundo, não consigo resolver o problema dela.

Porque estou me abrindo para um esquilo?! Porque me sinto tão seguro com sua presença?

- Quando eras um filhote, o que acontecia quando estavas tristes ou abatido?

- Minha mãe cantava para mim e tudo se resolvia.

Ela sorri e beija meu focinho.

- Já sabes o que fazer então, meu filhote. - Fala e dá as costas, fazendo essa sensação de calma sumir aos poucos.

Levanto a cabeça preocupado.

- Espere! – Falo e ela vira para mim. – Você... Já nos conhecemos?

Ela fica surpresa antes de rir.

- Boa noite, pequena fera. - Fala baixo e some no meio das sombras da floresta.

Porque me sinto incomodado com isso. Porque meu coração está agitado?

Balanço minha cabeça e volto correndo para o palácio. Pulo o muro e escalo a grande torre onde ficava meu quarto. Paro na varanda, vendo Cássia com um semblante triste e Fenrir sentado ao lado da cama, a observando. Volto à forma humana e entro, me ajoelhando ao lado do animal e o encarando. Ele me observa com os olhos verdes brilhantes, tristes.

- Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

Sombras o cobre e ele fica na forma humana. Uma criança de cabelos castanhos escuros e olhos tristes, prendendo as lágrimas.

- Ela... E-ela... Mmmm...

Tentava falar, mas abaixava a cabeça, apertando sua blusa branca com revolta enquanto chorava. Era a primeira vez que o via tão perto e encontrei tanta semelhança. Levantei a mão devagar, ainda não acreditando. Toco em seu rosto quente e ele me encara, soltando as lágrimas. Sorri fraco e o abraço, o surpreendendo.

- Vai ficar tudo bem, filhote.

Repito aquelas palavras e ele chora como uma criança preocupado com a mãe doente. Como era possível aquela alma... Aquela pequena semente branca de um tempo atrás estar em meus braços agora? Eu o afasto e limpo seus olhos antes de morder meu dedo até sair um pouco de sangue. Toco em sua testa e lábios e soou poucas palavras mágicas antes de beijar sua testa. Vejo o sangue sumir, provando que a magia havia acontecido e confirmado o que eu desconfiava. Seus olhos brilham num verde claro, como o meu, antes de voltar ao normal.

- Descanse, Fenrir.

Ele toca na testa, confuso e me encara. Aponta para seus olhos e depois para os meus. Sorri mais ainda. Ele era esperto. Bagunço seus cabelos e o pego no colo, colocando na cama.

Ele a encara e volta a ficar triste.

- Vai ficar tudo bem. Confie em mim. Agora durma e cuide dela, como sempre fez.

Ele concorda e adormece. Decido trabalhar, já que o sono sumiu completamente, porém, agora eu me sinto um pouco esperançoso, pois agora sei como cuidar da minha família.

Sua realeza, a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora