Capítulo 48

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Abro os olhos ao perceber que voltei a forma humana. Minha barriga não doía mais há alguns dias e meu corpo parecia um pouco maior que antes. Balanço a cabeça para as folhas secas caírem e sigo a melodia até um toco de árvore cortada, no meio de todas as demais vivas e fortes. Onde estava a pessoa que era fortemente ligada a mim, segurando dois filhotes humanos em seus braços enquanto ela encarava a lua e se perdia em pensamentos. Dou mais um passo e quebro um galho seco, a tirando de seus pensamentos.

Seus olhos castanhos, agora com uma grande tristeza, me encaram com um sorriso fraco, mas sincero.

- Venha, não tenha medo. – Fala baixo, mas bom para meus ouvidos aguçados. Me aproximo devagar e cheiro os dois filhotes, que estavam em aparência humana, um com cabelos castanhos escuros como o da moça, e outro loiro, como ele.

Rosno revoltado e ela os abraça um pouco mais, me encarando mais triste.

- Eles não têm culpa de nada, Fenrir. Você precisa ensiná-los e protegê-los, caso eu não consigo.

Viro a cabeça, confuso.

- Como assim? – Reparo que minha voz engrossou um pouco, coloco a mão na garganta e faço careta, a fazendo rir finalmente.

- Está crescendo tão rápido, querido. – Sussurra antes de beijar minha testa, transmitindo seu carinho em mim.

- O que aconteceu com ele? Porque ele ficou malvado? – Pergunto triste.

Mas antes de receber uma resposta, sinto duas presenças no local.

- Ele foi amaldiçoado. – Fala o guarda com cheiro salgado que apareceu no meio da floresta junto conosco e está nos escondendo desde então.

- Sim, - Confirma Cássia. – A bruxa tentou jogar essa maldição em mim para ele sofrer, mas parece que Felipe, de alguma forma, conseguiu transferir a maldição para ele.

Fala e suspira, cansada de estar sempre triste. Eu não conseguia parar de encarar atrás do soldado salgado, onde eu sentia a presença de outro alguém. Volto a forma de animal e ando até a parte escura da floresta, onde uma pedra pequena tinha um cheiro diferente, familiar.

- Quem é você? – Pergunto curioso e ouço uma risada.

A pedra rola e fica na forma de um tatu-bola.

- Olá, Fenrir. Você cresceu. – Fala com voz grossa, como se fosse um touro.

- Eu te conheço? – Pergunto confuso e ele ri.

- Não se lembra de mim? – Pergunta e volta a virar uma bola, rolando em direção a Cássia e parando antes de sair da floresta, a observando de longe.

- Lembro que eras um pequeno filhote, quando ela o salvou do frio e da morte. – Explica e suspira. - Pobre menina. Sofre tanto.

- Queria ajudar de alguma forma. – Falo triste, por ainda ser pequeno e não saber o que fazer.

O pequeno tatu-bola ri e sobe um pouco no tronco da árvore para acariciar minha cabeça.

- Eu sei como ajudar. – Fala e desce da árvore, andando até Cássia, que sorri fraco.

- Olá, Mate. – Fala baixo e o moço salgado se ajoelha.

- Perdoe, não a vi chegar. – Fala com a cabeça baixa e ela apenas balança sua pequena pata.

- Não se preocupe, querido. – Fala e vira para Cássia, subindo no toco da árvore e chegando perto dos bebês que estavam dormindo agora. – Eles são lindos e poderosos.

- Obrigada. – Agradece a moça e suspira. – Mate, eu não sei o que fazer agora.

- Não se preocupe. Eu tive uma ideia. – Fala e desce para o gramado, se transformando em um coelho com pelagem alaranjada que nunca vi. Ela bate no chão e a grama balança um pouco antes de ela pegar no meio do verde, um colar com uma pequena bola dourada que fazia barulho.—Tome.

Cássia deu os bebês para o moço salgado e colocou o colar.

- Bata duas vezes no sino. – Explica a coelha.

Cássia bateu de leve com o indicador. O som aumentou e a rodeou, a transformando em um grande gato de pelugem marrom e olhos castanhos, me assustando.

- Uou! – Exclamo surpreso e me aproximo, reconhecendo o cheiro dela. – Cass?

A gata sorriu para mim e acariciou minha cabeça.

- Sim, bobo. – Fala e vira para a coelha. – O que farei assim?

- Irá para o orfanato com Yuri e trabalharão lá enquanto cuida de seus filhos até eu achar uma forma de quebrar a maldição. – Explica a coelha e Cássia fica preocupada.

- É uma magia tão forte que até você não consegue quebrar, Mate? – Pergunta a moça com a voz fraca.

A coelha ri fraco.

- Oh, querida. Fico feliz de achar que sou imbatível, mas magia negra e maldições são minhas fraquezas por ser o oposto de mim. Mas não se preocupe, irei dar tudo de mim para quebrar a maldição e o rei voltará a amá-la. – Fala tentando confortar a Cássia.

- Mas as meninas...

- Ninguém irá reconhecê-la, querida. – Explica e Cássia vira para o moço salgado, que sorri.

- Não se preocupe comigo. – Fala e sua aparência muda para um moço branco de olhos puxados e cabelos longos e lisos. – Ninguém me reconhecerá também.

- Certo. – Cássia responde um pouco insegura.

Tento segui-la quando o coelho me segura.

- Espera aí, mocinho. Sua missão é diferente.

Fala e encaro Cássia, assustado.

- Eu não quero ficar. – Choramingo e a gata agacha na minha frente. – Eu quero ir com você!

Falo e ela me acaricia novamente, como sempre faz.

- Fenrir, meu amor. – Fala de forma carinhosa. – Mate me ajudou a criá-lo quando ninguém mais poderia. Você pode confiar nela com sua vida. Eu confio nela. Sei que nos veremos em breve. – Fala no fim com a voz falha e percebo que ela também estava triste com nossa separação, me deixando mais confiante de seu amor por mim.

- Tudo bem, - Falo um pouco triste e ela me abraça.

Tive que me segurar para não chorar.

– Prometo que ficaremos juntos logo. - Fala me abraçando mais forte e volto a forma humana para abraçá-la no pescoço mais forte.

- Eu te amo, Fenrir. Nunca se esqueça disso, ok? – Sussurra como um segredo.

Lembro que ela sempre dizia isso, mas não sei o significado dessas palavras.

- Tá bom. – Sussurro e nos afastamos.

Ela fica perto do moço salgado e ambos somem com os bebês após uma forte ventania. Suspiro alto e viro para o coelho.

- E então, o que eu faço? – Pergunto e espero sua explicação.

Sua realeza, a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora