Sentia as gotas de suor misturar com sangue e ambos escorrerem por todo meu corpo. Eu estava ofegante, mas excitado com toda essa ação. Meus pés cobertos com os ossos do inimigo, recém queimados das chamas. Olhei para o céu, escuro com as nuvens que carregavam a chuva que iria me lavar no caminho de volta. Eu estava longe de casa, em terras desconhecidas que antes eram verdes, agora com as gramas queimadas e pintadas dos sangues dos dois exércitos, de meu inimigo e meu.
Se eu soubesse que teria que vir de qualquer maneira, não teria mandado meu exército sair da cidade. Eles eram bons, devo admitir. Mas sempre serei melhor. Sorri com o pensamento e mexi um pouco o pé, com a intenção de me mover. Abaixo a cabeça e vejo alguns ossos logo virarem pó. Ossos dos meus soldados que sacrifiquei para garantir a vitória da batalha.
Puxo o ar e solto profundamente e levanto novamente a cabeça, vendo no meio da pilha de cadáveres, há uma bela distância, um velho. Ele tinha os olhos tristes e logo apertei minha espada em minha mão antes de atacá-lo. Corri e logo visualizei minha lâmina passar em seu pescoço, mas, em um piscar de olhos, seu corpo some. Fiquei imóvel por um segundo,olhando em volta e logo reconheço sua espécie.
- Apareça! – Grito.
Olho em volta mais uma vez e sinto o desespero querer me consumir. Paro novamente e respiro fundo, usando meus outros sentidos para encontrá-lo, porém, ouço somente a sua voz:
- Em respeito a memória de sua mãe, eu não te matei, fera.
- Pare de falar dos mortos e venha me enfrentar! – Rosno alto e furioso.
Viro ao reconhecer seu cheiro, o encontrando mais distante, no pé da montanha mais próxima, falando palavras aleatórias de uma língua morta. Ela estava fazendo um feitiço. Corro em sua direção, tentando matá-lo antes de finalizar a magia. Mas, em poucos centímetros, meu corpo congela e pude apenas encará-lo. Ele levanta um pouco seu capuz negro e vejo lágrimas em seus olhos.
- A escuridão que habitava em seu tio te consumiu.
- Eu não peguei nada daquele velho. Sou muito melhor que ele! - Sorri de lado, retrucando.
Ela me ignora e continua.
- Encontre sua Joia Branca. Ela te libertará, ou seu reino não sairá do destino de ser uma ruína.
- Meu reino está ótimo, seu velho. – Falo entre dentes enquanto conjuro minhas chamas. – Não me venha dar sermões de como...
Sinto meu corpo entrar em choque, como se a eletricidade estivesse me atingindo com sua verdadeira força. Grito de dor e me ajoelho sem forças, encontrando um grande círculo mágico me envolver. Encaro o velho com ódio.
- O que fez comigo?!
- Encontre sua Joia Branca e traga para seu reino. Ela libertará o destino de seu povo e destruirá a escuridão que habita dentro de muitos.
Os ventos me rodeavam e, pela primeira vez, eu desejei não ter sacrificado meu grande exército completo para mandarem matar aquele velho. Mas eu estava sozinho. Escolhi ficar sozinho e agora ninguém podia me ajudar.
- Quando te encontrar novamente, eu te matarei!
- Tenho certeza que me convocará e pedirá minha ajuda. –Sorriu fraco, me deixando mais furioso.
Tento me mexer, mas eu não tinha poder sobre meu próprio corpo. Fecho os olhos com força por conta do vento no local e ouço os trovões me rodearem. Uma luz se aproxima de mim e abro os olhos, vendo uma máquina de metal parando a poucos metros. Estico meus dedos devagar e percebo que tenho controle do meu corpo novamente, relaxo meus ombros, descanso um braço no joelho e finco minha espada no chão. Uma mulher sai do objeto estranho e corre na chuva até minha direção.
- Moço! Você está bem?
Cheiro o ambiente e não percebo nenhum ferro em seu corpo. Não era um soldado, pensei. Suas roupas eram leves e finas. Reparo por conta de uma habilidade que minha verdadeira forma tem e que o antigo rei me ensinou a usar. Uma camponesa, talvez. Me levanto com o apoio da minha espada negra e tento encará-la, mas a lua estava escondida nas nuvens chuvosas, impedindo-me de ver os detalhes de seu rosto. Ela se aproxima e tenta tocar em mim, mas logo seguro seu punho.
Porque não consigo reconhecer de que espécie ela é? Seria uma primata? Ou Elfa? Talvez uma orc?
Meu corpo pesa para o lado e me apoio pela espada novamente, como se fosse uma bengala.
- Minha nossa, você está sangrando!
Fala parecendo preocupada e sua mão quente toca em meu braço. Rosno baixo, não gostando de seu toque. Ninguém toca em um rei!
- Vem, você precisa de ajuda!
Bato em sua mão, a afastando de mim.
- Eu não... Preciso de...
Cambaleio fraco e ela me segura.
- Vamos entrar. Já lidei com pessoas mais teimosas que você. Se não resolver essa ferida, pode infeccionar e você morrer!
Fala de forma firme e ousada, como nunca vi antes. Apenas uma pessoa ousou falar assim comigo, e ele não estava aqui. Cansado, apenas entro no objeto de metal pequeno e barulhento e ela me tranca lá dentro, dando a volta no objeto e sentando na parte da frente. Agora que percebi. Parecia uma carruagem diferente e minúscula.
Em que mundo aquele velho me trouxe?!
Caio para o lado. Cansado, ferido, com raiva, revoltado e fraco. Enfim, meu corpo vence e minha mente se apaga.
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Sua realeza, a Fera
FantasyE se um imperador tirano de um mundo de fantasia viesse para o mundo real? Para salvar seu reino e seu futuro, Felipe, disfarçado de humano, foi jogada para outro mundo a fim de aprender a realidade do mundo moderno. Começando com um quase atropela...