Capítulo Onze

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Max Fraield:

— Por favor, me deem um pouco de tempo. — A frase saiu de meus lábios com uma gentileza forçada, contrastando com a fúria que ainda percorria minhas veias.

Jéssica e Marcelo hesitaram por um instante, seus olhos cheios de perguntas e preocupações. Mas, com um aceno silencioso, saíram do quarto, fechando a porta atrás de si.

Sozinho, encarei meu reflexo no espelho. O rosto de Max me fitava de volta, ainda estranho e desconfortável em minha própria pele. As marcas da batalha recente ainda eram visíveis, tanto em meu corpo quanto em meu espírito.

A impressão do romance em mim era um turbilhão de emoções. Como em tantas outras histórias de fantasia medieval, a visão de mundo era permeada por uma ideologia de superioridade e conservadorismo. Mesmo com a presença da magia, a lei da força bruta ainda reinava, com os poderosos dominando os fracos.

No caso de Max, era evidente a negligência que sofreu do Duque. Seu pai nunca lhe dedicou atenção ou afeto, preferindo dedicar seus cuidados ao irmão mais novo e à primeira filha, enviando-os para estudar em terras distantes. Era fácil entender como tal tratamento poderia ter distorcido a personalidade de qualquer criança.

Max, naturalmente, ansiava pela atenção e aprovação do pai. Mas seus esforços eram em vão. O Duque nunca o via como algo além de um fardo, um inconveniente.

Como Max deve ter se sentido, vivendo sob a sombra da indiferença paterna? Ansiando por amor e reconhecimento, mas recebendo apenas desprezo e humilhação. Não era de se admirar que ele tivesse se tornado amargurado e ressentido.

Suspirando, sentei-me na cama, exausto física e emocionalmente. Tudo o que eu queria era dormir, esquecer por um tempo a dor e a angústia que me consumiam e pelo menos parte do que eu queria havia acontecido.

Mas, mesmo com os olhos fechados, as imagens do romance ainda assombravam minha mente. A guerra, a violência, a crueldade... Tudo isso parecia se repetir em um loop infinito, sem fim à vista.

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Finalmente, o sono me venceu, mas meus sonhos não trouxeram descanso. Pesadelos terríveis me assombravam: monstros grotescos, batalhas sangrentas, uma brutalidade que parecia se manifestar dentro de mim, consumindo-me.

Em meio ao caos, uma figura familiar surgiu: o Max original. Diferentemente das outras vezes, ele não emanava uma aura macabra. Parecia quase normal, calmo e sereno.

— Você não vai fazer nada? — questionei, com a voz embargada pelo medo e pela angústia. Notei que, sem perceber, me aproximava dele.

Mas, antes que pudesse tocá-lo, ele se afastou rapidamente, desaparecendo no horizonte onírico.

Acordei sobressaltado, o coração batendo forte no peito. O terror dos pesadelos ainda pairava sobre mim, misturado com a frustração por não ter conseguido alcançar Max.

A fome era uma força irresistível. Mesmo contra minha vontade, levantei-me do quarto, arrastando meus pés cansados pelo corredor. A solidão pesava sobre meus ombros como um manto de chumbo.

Com voz baixa e hesitante, pedi aos servos que me trouxessem algo para comer. A resposta foi um prato divino, uma explosão de sabores e texturas que despertou meus sentidos adormecidos. Cada mordida era um escape momentâneo da tormenta que se desenrolava dentro de mim.

Satisfeito, voltei para o quarto e me deitei na cama. O sono me acolheu como um abraço reconfortante, e dessa vez, os pesadelos se afastaram. A mente, exausta, encontrou paz em um sono profundo, sem lembranças do romance que tanto me atormentava.

Cuidado com O Vilão! (MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora