14 - Aretha

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- Eu não consegui ficar de boca fechada, não sou agente de campo por muitos motivos – Gaúcho se apressa em justificar – contei tudo aos meus pais e o menino foi adotado pela minha família, hoje é meu irmão mais novo, tem 20 anos e se acha dono do mundo porque conseguiu passar para Direito em primeiro lugar na UFRS – ele e Thomas sorriem.

Vi levanta-se e abraça apertado o papai, depois Gaúcho, eu também quero abraçá-los, mas o Fred está tão agarrado à mim que parece estar por um fio, decido ficar com ele.

- Ele não tem muita memória do que aconteceu, então peço que a história fique entre essas quatro paredes. - o homem pede quando senta-se novamente.

- Claro – Fred e Mau respondem ao mesmo tempo.

- Mas, acho que ficou claro que o Thomas não servia mais para o campo. - Gaúcho sorri retomando o assunto.

- Ficou sim. - Vi diz e senta-se novamente.

- E isso é porque não contei para ti que a cada cinco minutos ele tava com um celular na mão olhando uma foto da tua mãe e suspirando.

- Vocês têm outras perguntas? – Thomas muda de assunto meio encabulado.

- Você disse que por causa da minha mãe ele ficou em trabalhos burocráticos, explica. - meu irmão pede em tom de voz mais tenso.

- Tu podes imaginar, a Ati era o principal rosto do Levante, a garota da rampa, tua mãe colocou arma na cara de PM, literalmente parou na frente do cano e disse tudo que nenhum policial quer ouvir, a Ati...

- Não fez nada que qualquer pessoa com inteligência e dignidade não tivesse feito. - Fred interrompe.

- Eu sei, não tô criticando, até porque acho que a polícia teria executado todo mundo, mas o que quero dizer é que tua mãe mandou o Estado tomar no cu, e... bom, nós somos quem mantém o Estado.

- O que o Gaúcho quer dizer é que ser o namorado da sua mãe, e futuramente noivo, me fez persona non grata, não confiavam mais em mim.

- E as promoções vieram de onde? - pergunto.

- O mundo dá voltas – Gaúcho toma a iniciativa de responder - o presidente Rui sentiu que teu pai era de confiança quando descobriu que ele era casado com a garota da rampa.

- No dia do atentado, quando o Rui apareceu lá em casa ele ficava perguntando pela mamãe e pelo pai – Vi conta ao Gaúcho.

- Eu não sei sobre o assunto. Teu pai é uma pessoa muito reservada e sendo tão odiado na agência ele tinha seus motivos, mas até onde sei o Rui confia nele e teu pai fez um excelente trabalho, e tem feito.

- A aposentadoria não saiu?

- Em breve. - Thomas responde.

- Não sei se ajuda, mas vocês deveriam saber que o pai de vocês fez muita coisa importante e boa para o Brasil, também rejeitou muita oportunidade de crescer mundo afora pelo bem estar e segurança de vocês. Eu imagino que seja difícil descobrir tanta coisa de uma vez, mas tudo que ele fez sempre foi pensando em vocês, a gurizada dele.

- Você já raqueou nossas contas? - Banguela Pergunta.

- Já – ele responde sem exitar – todo aplicativo que não funcionou, rede social da qual as contas de vocês sumiram, fotos que estranhamente apagadas, éramos eu ou Thomas.

- Somente por segurança – Thomas se intromete – nós sempre ensinamos vocês a serem discretos então raras vezes foi necessário.

- Pai, – Vi chama e ele roda a cadeira na direção dela – você investigou nossos namorados?

- Todos – Gaúcho responde sorrindo – tudo que teu pai não consegue pede para mim.

- Pai! - eu grito e fico de pé. - eu já mandei fotos íntimas!

- Mandou não. - Thomas responde sem a menor vergonha. - eu limpava antes mesmo do fulano receber – ele olha para baixo meio encabulado – mas você só fez isso duas vezes, e como ele não respondeu você ficou chateada e terminou o namoro. Resolvi dois problemas de uma vez só. Mais alguma pergunta? – muda de assunto como se não tivesse feito nada de errado. - o Gaúcho tem de ir embora.

- Não! Eu posso ficar a madrugada toda! - apressa-se em responder – meu guri é recém nascido e ninguém consegue dormir, essa tensão horrível de vocês é o momento mais relaxante que tive a semana toda.

Maurício sorri, meu pai também, mas Frederico fico bravo, assim como eu, meu irmão é sensível e feminista pra caralho, imaginar que tem uma mulher sozinha tentando cuidar do filho e caindo de sono enquanto o pai está na casa dos outros e correndo deles não é engraçado, nenhum pouco engraçado.

Thomas põe-se de pé e oferece a mão ao amigo que relutante se levanta, o homem passa a faixa fechando o roupão escuro e agora entendo porque apareceu na casa dos outros de pijamas, ele literalmente fugiu de casa para não ajudar a esposa!

- E a Ati, eu posso vê-la antes de ir?

- Não, você não pode ver minha mulher!

- Ela está dormindo – Vi explica enquanto Maurício e Gaúcho vão para a porta do escritório.

- Tudo bem, a Ati é inesquecível, certas imagens são impossíveis tirar da cabeça! - ele diz e sorri para o meu pai.

- Get the fuck out! - Thomas ralha, mas dessa vez sem achar graça de nada.

É sempre muito doido ouvir meu pai xingar. Ficamos os quatro, Thomas vai a caminho da porta do escritório, quando Fred se põe de pé.

- Pai – ele chama - você matou os caras daquele lugar, não foi, os que te levaram a criança?

- Todos os que consegui encontrar – Thomas responde tranquilo, sem remorso ou titubeio. 

Fred fica em silêncio, olhos sumidos, Vi diz que teria feito a mesma coisa e eu grito por Maurício preferindo ir com ele do que ficar nesse clima maldito.

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Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora