19 - Olívia

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Mais uma Olívia de IA, quem sabe um dia o computador acerta?


- Vingança! - digo e atiro o primeiro ovo contra o portão.

- Olívia! - ele vem, mas eu desvio e jogo outro.

- Joga comigo ao invés de me atrapalhar!

- Isso não é maduro! - ele tenta, contendo o riso que eu sei querer escapulir.

- E daí? Quem se importa?

- Olívia! Será que dá pra adulta?

- Joga um! Você vai se sentir melhor! - digo e consigo acertar o interfone em cheio.

Já se vão seis ovos quando Fred decide pegar um, indo para o outro lado ele mira uma janela do lado direito. O muro é pouco afastado da casa e eu não tenho braço para acertar no mesmo lugar que ele, o som do casca quebrando e ovo se espalhando o faz sorrir. 

Era isso que eu queria, o Banguela merece sorrir. Pego outro ovo e tento acertar no mesmo lugar, o filho da puta gargalha da minha pouca força e meu coração dá um duplo twiste carpado.

- Eu jogo por você! - diz e acerta mais dois na janela que eu imagino ser da insossa. - Ei, aonde você vai? - pergunta quando lhe entrego os ovos.

- Espera. - eu abro o porta malas e arranco três papéis higiênicos – eu vejo nos filmes e sempre quis fazer isso.

O gato não entende, é uma das coisas que pretendo mudar assim que ele me der outra chance. Como pode alguém não curtir assistir filme? Chamar o Fred para assistir um filme é receber o maior não, ele diz que não consegue ficar tanto tempo no mesmo lugar, dando atenção à alguma coisa. Mentira! Porque se você chamá-lo para passar horas lendo ele topa, sem pensar duas vezes!

No semestre passado a Vi me enviou o vídeo de um sarau no qual o Fred recitou alguns poemas que escreveu, segundo ela os versos são horríveis, ele tava mega contente, ela foi embora assim que ele se apresentou enquanto o Banguela ficou por horas e horas, com a insossa.

Agora eu pergunto: quem consegue assistir a um sarau de poesia, mas não consegue assistir um filme de 1 hora e 20 minutos?

- Você vai limpar os ovos com papel higiênico?

- Não!

Abro o rolo e puxo várias e várias folhas, depois jogo por cima do muro, o rolo vai voando e soltando metros e metros de papel que agora está no muro e nas árvores atrás dele, faço o mesmo com os outros rolos e Frederico sorri novamente, enchendo o dia de luz. 

Minutos depois saímos correndo porque os segurança saem do carro pra falar com a gente. Provavelmente avisaram ao Thomas o que fazíamos, mas se o tio falar alguma coisa eu mesma brigo com ele. Voltamos ao mercado para mais ovos e minutos depois estamos no apartamento, o cheiro de pizza se espalha no ar, mas minha cintura me lembra que não posso. 

Tô firme na dieta, porque preciso perder no mínimo 7 kg, sem chance de competir com as mulheres com as quais o Frederico sai se eu estiver enorme. Se pelo menos a gordura fosse para os peitos ou bumbum, mas não, a miséria tem de se plantar nas minhas coxas e braços.

- Nossa! Vocês foram na granja pedir o ovo para a galinha? - Vi quer saber, Thomas ri, mas Ati me olha de um jeito que eu juro que se não tivesse testemunhas eu teria feito xixi na roupa.

- Nós tivemos um pequeno detour.

Banguela informa e meu pobre pai faz uma carinha de contente, coitado, mal sabe ele que eu vou ter de suar muito para ter lugar na vida do Fred, pelo menos nesse contexto.

- Vem, eu preciso fazer mais massa. - meu pai leva os ovos, eu quero ajudar, mas Thomas me puxa para mostrar o quão mal feito está meu trabalho.

Quase uma hora depois estou disposta a perguntar à Ati como ela consegue conviver com uma pessoa perfeccionista como é o Thomas, e olha que eu sou perfeccionista! Mas tá louco, acho que o tio Thomas precisa de ajuda psiquiátrica. 

Maurício continua tentando chamar atenção da Aretha, ele deve achar que ela tá se fazendo de difícil, não imagina que a garota é daqueles seres humanos perfeitos que se ouve falar na ficção, quando ela faz uma coisa é só aquilo, ela se concentra, foca e não há ser humano capaz de atrapalhar. Às vezes eu não sei se chamamos a Aretha de perfeita para zoar ou por puro despeito.

- Toma. - Vi oferece um prato com pizza.

- Não. - recuso com água na boca – pizza não tá na dieta.

- Mais pra mim. - ela diz de boca cheia.

Dois minutos depois Banguela vem com dois lindos pedaços no seu prato, o vinho na taça me lembra que álcool também não está na minha dieta.

- Não vai comer?

- Eu tô de dieta! - resmungo, ele notou o quanto estou maior, ele nem deveria oferecer.

- Olívia...

- Nem vem, eu sei que tenho de emagrecer, nem vem com os papos de "você é perfeita como é" que isso é coisa que sua mãe te ensinou a dizer.

- Não era que eu ia dizer. - ele me interrompe tampando minha boca.

- Se você está desconfortável no seu peso e quer emagrecer é um desejo e direito seu, ninguém tem nada com isso, o que eu iria dizer é que você não tem que abrir mão de nada, só tem de encontrar o equilíbrio em tudo. Toma – ele oferece o prato. - come somente uma fatia.

- Mas eu tô me comportando tão bem.

- Mas não vai durar, você vai pra Itália! Você não pode abrir mão de tudo pra depois comer pra caralho. Aprende a comer um só.

- Fred...

- Por favor, por mim? - Ele pede. Seus olhinhos pretos são a pura criptonita e acho que vou derreter.

- Tá, mas somente uma fatia.

- É o suficiente. - ele diz e morde a fatia que tem nas mãos.

987 Palavras


Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora