25 - Maurício

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- Ele tá apaixonado. - mamãe diz.

- De onde você tirou isso? Tudo que eu fiz foi dizer que ela é linda.

- Mas tia isso não significa nada, ele namorava aquela fulana com uma falha gigante entre os dentes?

Todo mundo sorri e eu decido sair da cozinha. Ela não era minha namorada e a falha era sexy pra mim, saímos algumas vezes, mas parando para pensar foi ela quem parou de me procurar.

Logo me chutam do meu quarto para dar a tia Mari, nossa casa é pequena então os colchões se espalham na sala, sempre adorei esse momentos de férias porque eu e meus primos fazíamos farra até algum adulto vir e brigar conosco. 

Deito em um dos colchões que sei ser mais fofo e minhas primas fuçam a internet tentando encontrar uma foto da Aretha e do Fred, mas não conseguem. Seus perfis nas redes sociais não têm foto pessoal e toda imagem dos três publicada no perfil de outra pessoa é imediatamente apagado por Thomas.

Mais um motivo para eu me afastar, não posso sonhar com a Aretha, ela não é para o meu bico. Olha essa zorra, nós somos barulhentos, falantes e variados do juízo enquanto eles são silenciosos, ouvem jazz e se beijam e abraçam como gesto de afeto constante. 

Eu nem lembro a última vez que abracei meus pais, peço benção, mas é só isso. A Aretha aqui seria como um unicórnio, todos ficariam desorientados. E olha a casa deles, é tudo tão chique, de cor clara, moderno, quase não tem enfeites, parece cenário de filme do futuro, o flat é o espaço mais chique que já conheci, até o espaço tem cheiro de coisa cara.

- Ei – um travesseiro voa na minha cara – tamo te fazendo uma pergunta.

- Como você conheceu esse povo?

- No serviço.

- Como?

- Não é da sua conta.

- Ele tá apaixonado! - a Katiane grita.

- Não adianta esconder, sempre que você foge do assunto é porque tá gostando de alguém.

- Tudo que eu fiz foi falar que ela é linda! - me defendo, mas sou logo acertado por uma meia fedida.

- Tu sabe que eu posso partir sua cabeça com um coc, né? - ameaço quem me jogou a meia.

- Tu tem que provar que é linda, cadê uma foto?

- Tô sem meu celular – digo, mas também não tenho foto da Aretha.

- Então vá buscar!

- Tá com o Fred.

- O tal menino da Ati? - Kátia pergunta.

- É, amanhã eu pego.

- Eu acho que ela é feia, sua mãe acha todo mundo lindo.

Jogo o travesseiro na direção da qual veio o comentário. A Aretha é linda, perfeita, mas ninguém tem nada com isso, além do mais eu conheço meus primos, no segundo que a virem vão fazer todo tipo de comentário sexual e vão me deixar nervoso. Eu também faria se fosse outra mulher, como não reparar? A Aretha é gostosa pra caralho.

Depois a conversa varia. Nós crescemos, todos estudam ou trabalham, namoram ou estão noivos, fico ouvindo, não consigo pegar no sono. Fui mal educado com a Aretha hoje, mas quis bater no Thomas pelo mesmo motivo. 

Minutos depois ficam em silêncio, de olhos abertos vejo as horas passarem e o sol vai nascendo, os mais velhos acordam, espero minha vez na fila do banheiro e depois vou para a cozinha, minha tia faz um cuscuz de arroz de comer até passar mal, mas eu não tenho tempo para café, ter chateado a Aretha tá me deixando azucrinado. Eu deveria estar honrado dela ter aparecido na minha casa, ela ainda tava ajudando meus pais, imagina, foi simpática o suficiente para dizer sim aos dois espaçosos.

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora