Os cookies estão no forno e Frederico me deixar raspar a vasilha, sem camisa e de braços cruzados ele me encara recostado no mármore da cozinha.
- Porque tu tá me encarando?
- Você não tem cara de cana, ou de assassino, ou de cana assassino.
- Não sou policial, teoricamente sou militar cedido à agência de inteligência.
- Reaça que pariu, a porra só piora!
- Já pedi desculpas por ter mentido, eu ter ido com sua cara não tem nada a ver com meu trabalho.
- Quantas pessoas você já matou? - ele pergunta sem preâmbulos.
- Não muitas. - respondo e abandono a vasilha.
- Você sabe quem eram? Se tinham família? Quem é você para tirar a vida de alguém? Tem gente que muda para melhor na cadeia! Você tomou a oportunidade e a escolha de alguém.
- O que você sabe sobre mim é verdade, eu sou de esquerda, eu e minha família, não me juntei ao exército por moralismo ou por amor à "ordem", não sou hipócrita, fiz a escolha porque achei que seria útil e...
- Daí você decidiu matar pessoas?
- Puta que pariu! Eu posso me explicar?
- Quem você matou?
- Fred eu não sou soldado... - eu deveria ter ficado em casa, preciso descansar e não ser interrogado – sou atirador, eu sou o cara que está há quilômetros de distância com um rifle esperando autorização para o disparo.
- Fuck! - Fred esfrega as têmporas como se tivesse sido atacado pela pior das enxaquecas – então você simplesmente obedece uma ordem? - ele tá me julgando, não gosto disso.
- Fred...
- Esquece, eu não quero saber, não agora.
Ele abre a segunda garrafa de whisky e entorna no gargalo, desconfio que o Fred seja um mamute, qualquer pessoa teria caído com uma garrafa de whisky, mas ele? Não está tonto ou com a fala enrolada.
- Eu não vou me sentir mal porque você não aprova minha profissão. Nunca matei quem não merecia morrer. Eu jamais machuquei um inocente e eu não simplesmente obedeço ordens, eu...
- Mano, por favor, cala a boca! - ele me interrompe e vem na minha direção, ficamos frente a frente. - Não existe isso de merecia morrer, essa decisão tem de ser tomada por um juri, com direito à defesa, com direito ao diálogo, é por isso que a polícia é uma mentira. Porque vocês se sentem acima dos contratos sociais. Porque a lei só funciona quando é conveniente para vocês.
- Direito ao diálogo? Tem gente ruim por aí, gente que compra jure, juiz, e sai ileso.
- Eu sei – ele bufa na minha cara, mas não me mexo, não quero socar a cara dele depois de salvar sua vida, mas se for necessário... - o que você esquece, meu caro Maurício, é que gente ruim ainda é gente.
- O que tá acontecendo?
Thomas entra na cozinha, caminha até nós. Seu rosto tenso exibe olheiras profundas, não está na mesma roupa de quando me deu carona e cheira à pólvora. Ele é daqueles que resolve as coisas sozinho, mas acho que entendo. Aretha vem chegando, ombros tensos, eu e Fred não gritávamos porque ele usava comigo aquele tom baixo de sociopata.
Frederico é um Pit Bull com energia de Golden Retriver, mantenho minha opinião. O que na verdade é muito mais ameaçador porque depois que abaixamos a guarda ele pode muito bem rasgar nosso pescoço.
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Fred 2.0
Roman d'amourDepois de sobreviver a um atentado e descobrir desagradáveis verdades sobre a Família Frederico tenta se ajustar na companhia da irmã Aretha e um novo amigo. Multiplos pontos de vista narrativo, todos em primeira pessoa. O texto possui conteúdo adu...