Fred 2.0

56 - Não era pra ser assim

Saio pela sala e Vi vem atrás, bato na porta, mas entro antes de ouvir resposta, Ati está enrolada na toalha vestindo a calcinha, me viro para lhe dar privacidade e Vi se joga na cama.

- Mãe, eu imaginei que cê ficaria do meu lado, que ficaria feliz por mim.

- Mas é muito homi mesmo! - ela reclama e furiosa joga um coturno em mim.

O sapato acerta, mas não resmungo, quando me viro ela está ajustando as alças do sutiã, indo ao closet puxa um jeans e depois uma camiseta. Veste as peças bufando de raiva e bem perto de lançar raio laser ou me matar com a faca da cozinha, nesse ponto não duvido de nada.

- Mãe, eu quero que cê converse com a Fabrine porque ela tá pirando!

- Eu vou te matar Frederico, vou te esfolar, depois te esfolar de novo, pra em seguida te esfolar novamente!

- Eu não fiz nada de errado! Eu tô assumindo o bebê! Vou cuidar dele, eu tô pronto pra ser pai!

- Homi! - ela agarra outro coturno e lança em mim – e na mina, quem tá pensando nela?

- Mãe, eu vou ajudar a pagar tudo!

- E você vai gerar? Vai amamentar? Será seu corpo a ficar fodido? Serão seus peitos a doer que nem a morte? Você tem ideia de como uma gravidez pode ser dolorosa? Dinheiro é o de menos!

- Eu também não pedi isso, tá ligada?

- Mas é ela quem vai sofrer! É ela quem vai perder!

- Mãe, eu vou estar presente...

- Quando? Quando vai ajudar se trabalhará 24 horas por dia? Tem noção do quão caro é ter um filho! E a pobre da menina ainda vai perder as olimpíadas por causa de uma coisa que não quer, nem estava preparada, cê entende isso?

- Cê falou com ela?

- A mãe da mina me ligou quando eu tava no mercado.

- Merda!

- Exatamente! Imagina minha situação. - ela coloca um telefone imaginário no ouvido - Oi, eu tô ligando porque seu filho desgraçado engravidou minha filha e destruiu a carreira dela!

- Ela pode retomar!

- Você não sabe, ninguém sabe, ter um filho mexe com o corpo feminino de um jeito que não dá pra calcular, pode ser que ela saia ainda melhor ou que desenvolva mil problemas e nunca mais corra!

- Que exagero!

A mamãe me joga outro coturno, mas me esquivo a tempo.

- Você sabe porque ela é cega? Você tem noção do histórico médico da garota? Tem noção de que seu filho tem 90% de chance de nascer cego?

Sem forças eu me sento na cama, Vi fica totalmente alerta e acho que vou vomitar. Com o peso da informação o silêncio toma o quarto, da mamãe vem uma vibração louca de raiva, não exatamente de mim, eu sei, mas a coisa toda é fodida demais.

- Mãe, nada disso foi premeditado, tá ligada? O Banguela não é vilão!

Ati suspira e olha para cima, depois me encara, olhos de lama emanando fúria.

- Eu sei, mas o que é só diversão para os homens pode se tornar um peso terrível para as mulheres, nada que você disser ou fizer vai mudar a dor da Fabrine, nada.

- Onde você vai?

- Tô indo lá.

- Eu vou contigo.

- Eu também. - Vi toma minha mão e eu agarro à sua precisando de toda a força que me derem.

Mamãe não usa o elevador, vamos pelas escadas e tenho a impressão que até a terra lhe abriria caminho, é o momento errado para comentar, mas essa Ati é tão assustadora quanto a rainha Ati do livro que a vó Virgínia escreveu.