35 - Aretha

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Abro a porta com a digital, precisaria vir aqui de qualquer jeito para cadastrar a do Mau e apagar as nossas, do jeito que o Banguela é espaçoso pode aparecer sem ser convidado. 

O cheirinho da tia Laura permanece no ar, seu perfume era uma mistura de flores e laranja. Laura foi a primeira pessoa que perdi, não quero viver esse sentimento nunca mais, quando chegar a vez dos meus pais provavelmente vou morrer junto.

- Bom dia princesa de olhos de mel! - Fred me dá um beijo na têmpora, depois um abraço.

Se passamos uma semana ou algumas poucas horas sem nos vermos ele age do mesmo jeito, me beija e abraça com o mesmo carinho e saudades. Vou matar a Olívia por fazer meu irmão sofrer, e não tô falando porque tô furiosa, tô falando porque é exatamente o que pretendo fazer, vou esfolar a corintiana viva!

- O que aconteceu com o Maurício?

- Disse ter sido briga de trânsito, mas tá feio demais, foi outra coisa.

Atravessamos sala e corredor, Fred me acompanha com uma garrafa de água nas mãos e se oferece para carregar minha maleta. Bnaguela e sua água. Quando me perguntam como pode ele ser tão bonito eu digo ser água, na verdade é pura genética, mas Fred deve tomar uns 8 litros de água por dia, no mínimo.

- Maurício! - exclamo quando vejo seu estado – o que fizeram contigo!

- Tu veio! Tu fica linda vindo aqui! - ele diz me estendendo a mão.

- Ele tá meio bêbado – Fred informa mostrando a garrafa de vinho no criado.

- Eu tomei tudo que tinha na caixa de remédio do banheiro, mas foi o vinho quem me salvou.

- Pega a caixa – mando ao Fred e abro minha maleta – primeiro vou limpar os ferimentos e fazer os curativos.

Fred entra com a caixinha de primeiros socorros da tia Laura e me concentro na tarefa de preparar as gases para limpar a ferida. 

A caixa de plástico é coberta de borboletas e band-aids de carrinho, eu mesma decorei, lembro de todas as vezes que usamos, quase sempre quando vínhamos passar férias com a tia.

- Você fica linda concentrada. - ele diz com dificuldade, cobrindo a têmpora.

- E você tá alcoolizado. - digo enquanto Fred abre as caixas de band-aids coloridos.

- Não preciso estar bêbado para dizer que você é linda. Linda, linda! Você parece um jóia!

- Mano, me fica só na admiração porque tô aqui, porra. - Frederico manda e se joga na cama fazendo o colchão macio sacudir e Maurício gemer de dor. Ele leva a mão ao tronco.

- Deita para eu te examinar melhor. - ele obedece.

Fred observa meus gestos sem ciúmes, é mais protetor do que ciumento, não teria objeções se eu decidisse esquentar minha cama com esse cara, mas arrancaria os braços de quem ousasse me magoar. Maurício geme a cada lugar que eu toco, seus braços têm somente um hematoma, mas as costelas e estômago estão roxos.

- Respira fundo que vai doer um pouco mais – informo antes de fazer pressão na intenção de descobrir se algum osso está quebrado.

- Meu nariz tá ardendo muito. - ele reclama.

Continuo examinando suas costelas e depois pernas. Ele finge não sentir tanta dor, mas deixo passar porque estou apreciando seus músculos definidos, na coxa direita tem uma tatuagem, um tronco de árvore que vai subindo até onde a boxer cobre. 

Esse cara é gostoso demais! 

O Mau tem alguém. Ele é bonito, todo sarado e tatuado, claro que tem alguém! Que insensível eu fui, sequer perguntei se ele estava interessado em mim, fui direto assumindo. A metidez do Frederico é contagiosa, vou fingir que é culpa sua, e que eu não estava babando nesse fulano marrento que precisa ler Simone de Bouvoir. 

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora