37 - Na escada 🌶️

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- Quantas dias tem essa semana? tá louco meu! - reclamo jogando minha tralha no porta-malas, cancelei as aulas de defesa pessoal por uns dias, o Maurício ainda está se recuperando e conseguimos mais alunas nos últimos dias.

A grana é bem vinda e tals, mas não quero mais alunas, eu tenho de estudar, dormir, treinar e dar aulas. Eu só quero um tempo para ficar na minha cama lendo, porra. As garotas assobiam para mim e mandam beijinhos enquanto caminham para seus carros, aceno de volta.

Detesto estar sozinho! É pedir muito uma namorada pendurada no meu pescoço, de preferência gostosa, linda, carinhosa e que fizesse um macarrão fenomenal?

- Não é só a Olívia que sabe cozinhar! - digo para o rosto que me julga no retrovisor - eu detesto ficar sozinho!

Fecho os olhos curtindo o vento que anuncia a chuva e encosto a cabeça no banco. No meu celular ninguém perguntando onde ou como estou, nenhuma namorada para preparar lanche e proteger contra produtores safados, sinto falta da Isa, mas na verdade sinto falta do relacionamento.

É bom ter alguém para cuidar e proteger, é bom ser cuidado e protegido. Chegando em casa caio na cama depois do banho, meu quarto está O caos, mas preciso descansar, visto uma bermuda e fecho as janelas porque lá fora tá armando uma tempestade.

Abro os olhos no escuro, ouço gargalhadas e a voz profunda do Thomas, levanto esfregando os olhos e descubro que estamos sem eletricidade. Abro a porta e as gargalhadas ficam mais altas, tá tudo escuro com exceção dos relâmpagos que cortam os céus.

Os gemidos veem da cozinha e embora eu não consiga ver porra nenhuma sei que são meus pais. Os dois em eterna lua de mel e eu sozinho! Já que eu nunca vou encontrar minha Ati eu me contento em encontrar meu Thomas, a essa altura qualquer um tá valendo. Ouço uma garrafa de champagne estourar e dou meia volta, eles não pareciam estar em casa quando cheguei, seja como for eu vou dar no pé.

Puxo do guarda roupa as primeiras peças q consigo vislumbrar no escuro, depois de vestir tateio a escrivaninha a procura do meu celular, mas não encontro. Saindo pelo corredor ouço Ati falar sacanagem. Saio de fininho sem incomodar os dois, deixa meus velhos serem felizes, se depois de três filhos, empregos cansativos e tentativas de assassinatos eles continuam apaixonados quem sou eu para atrapalhar?

Ter pais que se amam é bom, quero que meus filhos cresçam na mesma atmosfera que eu, agora só me falta encontrar a mulher legal e que de preferência que não parta meu coração, eis a parte difícil.

As luzes da escada de incêndio me levam ao carro no subsolo, lá fora os trovões estão altos, espero que o Maurício não se importe em me receber, e é a primeira tempestade do Ferdinando, tomara que o bichinho não esteja apavorado.

- Shit! - o mundo está se desfazendo em água, evito as tesourinhas a caminho das 300, a vizinhança aqui também está na mais absoluta escuridão, procuro o lugar mais alto para estacionar.

A enxurrada vai levando tudo que encontra pelo caminho então subo na calçada e invado o gramado, eu que não vou pagar uma fortuna em conserto de carro se ele for invadido pela água. A galera do prédio que me perdõe.

Um relâmpago corta o céu e o trovão que segue indica que o raio caiu aqui pertinho. A portaria está vazia e tá escuro demais, aparentemente nesse prédio não tem luzes de emergência, o elevador está fora de serviço e abro a porta que dá para as escadas.

- Caralho! - exclamo quando dou com a cara na parede e minha perna no degrau! - prédio velho dos infernos!

Agarro o corrimão e devagar vou subindo, não há sequer uma janela para que a escada seja iluminada pelos relâmpagos! Eu deveria ter ficado em casa. Era só trancar meus velhos no quarto com uma garrafa de whisky e pronto, eu não ouviria um piu!

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora