9 - Maurício

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- Fred eu acabei de salvar sua vida, não me faça te matar! - digo para o telefone sem abrir os olhos, coloquei um toque especial para o Frederico.

- Desculpa incomodar – ao som da doce voz eu abro os olhos e sento-me na cama.

– Aretha? Desculpa, eu achei que fosse seu irmão.

- Eu que peço desculpas, mas finalmente consegui fazer minha mãe apagar e o Fred precisa de um amigo fora dessa loucura... na verdade eu preciso de você.

- Vou me trocar e vou para aí.

Escovo os dentes às pressas e dou graças a Deus que a mãe tenha me feito tomar banho quando me chamou para comer. Me troco, pego a jaqueta e dou um beijo na mamãe que tem um uma jarra de café disfarçada de caneca nas mãos. 20 minutos depois paro na garagem e deixo o capacete sobre a moto. Atravesso o jardim e entro na cozinha pela porta dos fundos, Aretha tem as mãos sujas de sangue debaixo da torneira.

- Hei! What happened(1)?

- Cortei o dedo, nada demais. – ela diz enquanto a água escorre – Que bom que você veio.

Ela enxuga as mãos e faz o curativo. Quando termina seus olhos de mel me encaram, são profundos, densos e com poder de fazer o mundo inteiro sumir. Uma lágrima escorre do rosto, meus braços com vida própria a envolvem apertado, ela retribui na mesma medida e meu coração bate tão forte que consigo ouvi-lo.

- I am sorry asked you to come, but I had a feeling we will need you (2).

- Don't apoligize beautiful girl, I am here whenever you need me (3). - sua cabeça descansa no meu ombro e minhas palavras ainda pairam no ar, e elas foram honestas.

Ela se solta e meu corpo sente sua ausência, limpo as lágrimas que escorrem da sua bochecha e paro quando noto o que estou fazendo.

- Sorry, I...

- Tudo bem, você tá sendo gentil além do mais I am a beautiful girl, almost irresistable, right? - ela pergunta sorrindo.

O inglês da Aretha é claro, dito devagar, não tem nenhum registro de sotaque, o que significa que ela não tenta imitar o cockney do Thomas e que tem fluência o suficiente para que quem a ouça não faça ideia de que é uma brasileira falando inglês. Perfeita.

- You are – eu mordo o lábio para esconder o sorriso por ela ter gostado do que eu disse – you are the most beautiful girl I've ever seen it (4).

Aretha pisca e joga o pano de prato em mim indicando as vasilhas, obediente eu começo enxugar. Com a destreza de uma chef de cozinha a mulher pica legumes e depois limpa um pedaço de carne. Permaneço em silêncio porque ela parece relaxada e cantarola uma música bonita, pelo ritmo imagino que seja jazz, mas não tenho certeza. 

Quero elogiar sua voz bonita, mas não quero interromper, ela vai e volta no fogão e a frigideira brilhante recebe o pedaço de carne, Aretha sabe o que está fazendo e me pergunto se é justo que uma mulher tão linda, tenha voz bonita e ainda cozinhe bem. É como se ela tivesse passado duas vezes na fila da perfeição antes de descer do céu.

- A mamãe e o papai discutiram.

- Feio?

- Bom, na verdade ela não falou muito, ela jogou todos os objetos possíveis na cabeça dele e disse que ele vai pedir desculpas pra gente ou ela jogar o whisky dele pelo ralo.

- Sua mãe?? - pergunto sem conseguir imaginar a mulher tranquila que vi hoje de cedo tacando coisas em alguém.

- Ele nem alterou o tom de voz, nós só vimos os coturnos voando pelo corredor e meu pai se esquivando. - ela conta e eu começo a rir – ei, porra, não tem graça!

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora