2 - Aretha

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Caminho até o quarto que era do papai, ele mudou-se daqui assim que possível, a cama ainda é de solteiro, mas o ambiente é grande e arejado, além de ter uma vista linda, acho que o mato silencioso do Jardim Botânico até combina com o quarto, é sóbrio, cheio de madeira, aquele "simples chique" que Elinor faz questão de manter por toda a casa.

- Você pode dormir com suas irmãs ou sua avó, não sei se o outro quarto de hóspedes está disponível.

Thomas fala ao Fred, mas este sequer move o cenho, encara nosso pai com os punhos cerrados, os olhos escuros quase brilhando de raiva.

- Alemão, o moleque não vai à lugar nenhum. - A mamãe diz devagar, voz cansada enquanto tenta arrancar os coturnos.

Quando acordou no hospital fez questão de vestir suas próprias roupas, saiu de lá pisando firme, mesmo amparada pelo esposo. Thomas se abaixa e com cuidado lhe ajuda a retirar as botas.

- Ati, nós precisamos ficar sozinhos.

- Precisamos sim, meu, mas primeiro você vai se certificar que estamos seguros.

- Já estão cuidando disso. - ele diz pacientemente.

- Massa, mas você tem de ter certeza, meu garoto tomou um tiro, minhas filhas estão com o rosto machucados e eu quase morri, sem falar que não quero colocar um alvo nas costas da sua mãe.

- Eu sei! Eu sei! - envergonhado ele olha para o chão – eu volto já, não demoro.

Antes de sair o pai pára e me dá um beijo na têmpora, depois aproxima-se do Frederico que se afasta, dando um passo para trás, meu irmão precisa de tempo, porra, eu preciso de tempo, mas não tenho coragem de rejeitar um beijo do papai. O Thomas fez tudo errado, mas não foi por falta de amor, foi vacilo, não maldade.

Ati vai em direção ao banheiro e Fred pula meio quarto para ajudá-la, amparamos nossa mãe e a ajudamos a se despir, ela merecia uma banheira para relaxar, mas aqui não tem o luxo do quarto deles. 

Sento-me no balcão da pia e Fred se recosta na parede quando ela entra no box, noto os olhos do meu irmão subir e descer na forma da mamãe, depois aperta as têmporas com as duas mãos, tenho certeza que tá muito perto de pirar de raiva. Eu sei o que está sentindo.

- Eu amo vocês – Ati diz abrindo o chuveiro – mas se vocês continuarem me olhando como se eu estivesse morrendo vou ficar puta da vida.

Fred revira os olhos, já eu sorrio, sim, nós estamos encarando nossa mãe, mas é que ela está toda machucada, hematomas, cortes e inchaço por vários lugares, não somente seu carro tombou como ela brigou com alguns caras, seu ombro tá roxo e um pequeno corte na mama direita chama atenção. Nós estamos assustados com razão!

Filhos tendem a ver seus pais como super heróis, mas nossa mãe? A Ati é tipo uma super heroína, de verdade! 

E porra, temos um mega orgulho da mulher, mas não dá para esquecer o fato de que ela é uma quase senhora, a mamãe fez 50 anos de idade e mesmo sendo forte ela é humana. 

Ela poderia ter se machucado severamente, perdido habilidades motoras, sido morta, estar em coma... meu coração fica pesado e meu estômago embrulhado imaginando tudo que poderia ter rolado, que merda de mundo, meu.

Eu e o papai somente sofremos somente batidas de carro, e eu tô com dor, imagina o que minha mãe tá sentindo? Vê-la machucada me dá uma raiva enorme, raiva dos desgraçados que nos atacaram, raiva do mundo por ser tão sórdido, e raiva do papai por ter nos escondido algo tão importante e tão perigoso.

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora