36 - Aretha

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Abro os olhos confirmando minha sensação de ser observada, Maurício está na porta usando uma boxer azul. Boy, the dude can be creep (1)!

- Te acordei

- Mais ou menos.

- Desculpa – ele mexe nos cabelos bagunçados. - você tá na cama da Ati Sales Furquim.

Sento-me e olho pela janela, o dia deve estar para nascer.

- O Fred avisou que cê tava deslumbrado de estar aqui. - noto que o safado retirou os curativos que lhe fiz no rosto.

- Muito, sua mãe foi durante muitos anos uma ideia, agora eu a conheço e moro na casa dela, é muita coisa pra absorver.

- Tudo bem, é muita coisa pra mim também.

- Posso? - ele indica a cama.

- Claro – respondo dando espaço.

Maurício deita-se ao meu lado e juntos olhamos para o teto. Dormi nesta cama muitas vezes, criança, adolescente e adulta, mas é a primeira vez que tenho a vívida sensação que estou no lugar da minha mãe.

- Como é ser filha dela?

- A Ati é uma ótima mãe – respondo.

- Eu sei... - Suspira e depois fica de lado olhando para mim. - meus pais são ótimos, mas imagino que não tão bons quanto os seus.

- Por que diz isso?

- Não sei... - ele titubeia – a história dos teus pais é especial.

- Meus pais erraram e acertaram, como qualquer outros.

- Nahh – ele faz um muxoxo – você é perfeita, eles não cometeram erros.

- Todo mundo diz isso.

- É ruim, ser sempre perfeita?. - pergunta baixinho, enrolando o dedo no meu dread.

- Mais um pra me chamar de perfeita?

- Sorry beautiful, but you are perfect (2). Te incomoda?

- Nunca me cobraram perfeição, se é isso que quer saber.

- E o que te cobraram?

- O nosso melhor, mas nunca excelência a qualquer custo. 

- Eles ficavam felizes? 

- A mãe tem esse jeito misterioso e sossegado, mas vê-la sorrir sempre foi fácil, diferente do papai que é quieto e gentil, mas sorrir? O sorriso ele reserva para minha mãe, então fazê-lo feliz e receber seu sorriso é viciante. Notas, esportes, organização, gosto musical, louça lavada... acho que fomos adestrados sem perceber.

Maurício sorri, acaricia meu queixo virando meu rosto para sua direção.

- Quando fomos para a casa da sua avó, vi o Thomas entrar na cozinha sorrindo, o mundo acabando e ele sorrindo com cheiro de suor. Achei que tinha batido a cabeça e tava delirando.

- Ah, conheço essa cara, acorda assim quando dorme com a Ati, era fácil saber quando o plantão tinha se estendido. Ele saia do quarto com uma tromba enorme e andava pela casa parecendo um robô, polia a madeira de todo o apartamento até ela chegar, depois de meia hora perdia a graça e tentávamos alegrá-lo de qualquer jeito.

- E tu... - ele pergunta – o que te faz feliz ou triste?

- Gosto de fazer outros felizes.

- Eu notei. Mas quando quer ficar feliz, o que você faz?

- Maurício...

Maurício toma meu queixo, aproxima os lábios com vagar, cuidadoso, o beijo é tão leve que fecho os olhos, beija minha bochecha, se move com dificuldade, mas sem gemer avança, os selinhos seguem até encontrar meu ponto fraco, atrás da orelha, um pouco abaixo. 

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora