5 - Maurício

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- Fred é melhor eu ir. - digo olhando para baixo, filho da mãe de mão pesada.

- Mau – Ati me chama pelo apelido idiota que seu filho me deu – você salvou meus filhos – sua voz tem imediato efeito, Frederico relaxa e abandona meu pescoço, ela levanta a cabeça olhando para o marido e beija-lhe os dedos ainda pousados no ombro nu – Alemão acho que o Mau já é quase família.

- Minha rainha...

- Pai – Aretha chama – o Mau fica.

Olho para a garota de olhos de mel e meu coração derreteu no peito, nunca me chamaram de um jeito tão carinhoso e doce, sua voz é doce, doce como os olhos, doce como os lábios, doce como as curvas, a Aretha é...

- Mãe – Aretha continua interrompendo minha viagem – você nunca mentiu – Thomas encara a filha e a mão deixa o ombro da esposa – eu rolei na cama noite e a madrugada tentando lembrar de um mísero momento no qual ela tenha nos dito que você era funcionário da Receita Federal, mas não existe, quando eu era criança ela dizia que seu trabalho era de gente grande e sem graça, quando você passava dias fora e eu queria saber porque meu pai não estava conosco ela dizia que alguma coisa tinha te impedido porque nada o deixava mais feliz do que me contar histórias de fadas. 

A garota tem a voz triste, mas tem força, não a conheço o suficiente, mas acho que também está com raiva, como o irmão.

– Quando nós crescemos e seu trabalho era de alguma maneira assunto ela dizia que não fazia a menor ideia de como era seu dia. Ela nunca mentiu, você mentiu!

Aretha termina com a voz firme, mas tão triste que eu quero bater em Thomas. Frederico levanta derrubando o banqueta na qual estava sentado e passa atrás de mim envolvendo Aretha nos braços.

- Princesa eu não tenho...

- E você mentiu para nós! - Aretha aponta a irmã mais nova – Nós sempre fomos um time e cê mentiu para nós! Você sabia, chegou a dizer que foi na Receita com ele, pegava meu carro e dizia que ia buscá-lo no Banco Central! Mentirosa do caralho!

- O segredo não era meu! - Vi diz impaciente.

Já não gosto dessa garota, ela deveria se colocar de joelhos e implorar o perdão dos irmãos. A Aretha não merece chorar, nem ficar triste, além do mais se a Ati Sales Furquim pede desculpas ela não pode?

- Tem coisas que é melhor não saber! - Thomas corta.

Não sei ler seus olhos, mas seu corpo demostra tranquilidade, nada de suspiro ou cenho franzido, diz a coisa com a mesma tranquilidade com a qual torceu o pescoço de três pessoas, uma delas já desmaiada. 

Ati cobre o rosto, esse gesto não é difícil de ler, de tudo que o marido poderia ter dito ele escolheu justamente a pior de todas, como se os filhos se sentirem traídos e excluídos não fosse motivo para chateação.

Ati olha para o teto, vendo a expressão da esposa Thomas abre a boca, percebe que fez besteira.

- Oh how appropriete – Um sotaque britânico interrompe o momento – I'm constantly livid with your manners, you should have set the table, not be sitting around the kitchen counter, I do not like this, you know it(1).

- Mother good morning! - Thomas se aproxima da mulher que oferece a bochecha para o ligeiro selo – we didn't plain, we were just chatting a bit (2).

A mulher de cabelos louros é bem branca, o sotaque não deixa dúvida de que é inglesa, daquelas orgulhosas e metidas, bem parecida com a senhora que me recebeu no meu intercambio.

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora