27 - Maurício

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Saio do quarto consciente de que o supervisor vai arrancar meu fígado, deixei o Fred se aproximar demais, Thomas não vai gostar. 

Minhas primas assobiam quando entramos na sala e a Sarinha chega mais perto, ao invés de me abraçar ela toma a mão do Fred e nos leva para a cozinha, a mesa foi posta com todas as regalias. Toalha sem mancha, panos de prato branquinhos e louça de domingo de páscoa. Oferecerem assento para ele e todos arrastam bancos e cadeiras, nos sentamos onde dá.

- Sarinha vem cá – estendo a mão para a menina.

- Ele é igualzinho o ken! - ela diz cutucando o braço dele.

- Não, ele é igual meu Max Steel – o Junior diz.

Nem tinha notado esse moleque ontem, as crianças da minha família se multiplicam que nem brasileiros em Londres, é tipo gremlin!

- Não, ele não é! Sara, pára de cutucar a visita! - eu digo – tia, por favor pega a menina, o Fred não quer ficar com criança no colo!

- Meu filho eu vou te servir – minha mãe diz com a garrafa de café nas mãos, mas é o Fred quem recebe o café fumegando.

Reviro os olhos e estendo minha caneca. Bolos, biscoitos e pães vão passando pela mesa. Deve ser a primeira vez que Fred vê essa quantidade de comida na vida, quando leva o café na boca sei que vou sorrir, acompanho atento.

Ele engasga e começa a tossir, de repente duas primas estão batendo nas costas dele. Outra põe a mão no peito dele. 

- Gente pára com isso! - eu grito – Mãe me ajuda! Sara, pára de cutucar o Fred!

- Sossega o rabo gente! – mamãe me ajuda - O menino vai achar que vocês nunca viram homem bonito!

- Claro que viram, sou eu! - Milton responde, sempre se achou o mais bonito, mesmo não sendo.

- Vocês são muito simpáticas, mas eu tô bem! - Fred responde tentando afastar as várias mãos em cima dele – será que a senhora pode me dar uma água, por favor?

- Melhor meu filho – mamãe puxa a garapa e põe também um copo cheio de buruti na frente dele.

Acho que se o Fred comer a quantidade de açúcar que estamos oferecendo terá um choque anafilático. Levanto e tiro um pouco de água da moringa no centro da mesa.

- Mãe, o Fred não consome muito açúcar, vamos deixar ele provar o que for menos doce! - entrego o copo de barro para ele.

- Oh meu filho, mas por quê? - minha mãe pergunta ao Fred como se não comer doce fosse por doença.

- Açúcar provoca inflamação, deixa a insulina lá em cima, atrapalha na concentração, aumenta os níveis de cortisol e ansiedade, e às vezes tira o sabor das coisas.

- É filho de médica – meu pai confirma entendendo – A casa é sua Frederico, coma o que quiser o tanto que sentir vontade.

- Obrigada – ele procura os olhos da minha mãe - mas eu gostaria de provar um pedacinho pequeno dessas coisas de nomes diferentes, sua mesa tá lindona.

- Puxa saco! - eu murmuro e reviro os olhos.

O café da manhã prossegue e o vejo trocar mensagens com alguém pelo menos três vezes. Fred responde às perguntas que lhe são feitas da maneira mais educada possível, das questões íntimas ele desvia e as pessoas nem notam, devolve as perguntas de maneira a colocar o foco no outro, massagia egos e oferece total atenção a que conversa com ele. Esse é filho do Thomas, nem precisa ser sua cara cuspida.

O Fred seria um excelente agente de inteligência, especialmente porque é mais simpático do que seu pai, um sorriso seu e todos se desarmam, homem ou mulher, mas pelo que conheço do desgraçado ele pode estar conversando e sorrindo contigo, mas na verdade tá pensando em sei lá que livro ou dando uns amassos com alguma gatinha no mundo da lua.

Quase três horas depois as pessoas vão se levantando e ele faz questão de ajudar a recolher a mesa, as meninas suspiram, os meninos ficam aliviados por serem excluídos do serviço e eu sorrio. Fred se despede prometendo estender o convite da visita à sua mãe.

- Com quem você troca mensagens? É a Aretha?

- Não, a garota da madrugada passada.

- O conceito de ficar é: Tu fode, dá tchau e segue a vida.

- Onde isso tá escrito?

- Tá interessado em chamá-la para sair?

- Talvez, é super simpática e tem um profissão foda, eu toparia trocar uma ideia e tomar um Jack.

- O que ela faz?

- É controladora de voo.

- Meu Senhor da glória! - arranco o telefone da sua mão – ela tem de prestar atenção no computador, não ficar no celular!

- Relaxa – ele toma o aparelho de volta – a mina ainda não tá no trabalho! - Frederico vai abrindo a porta do carro, os cachorros param com o barulho e noto que a chuva passou.

- Espera, controladora de voo? Quantos anos ela tem?

- 37.

- Por que sair com mulher velha? Você tinha trocentas garotas interessadas.

- 37 anos não é velha, além do mais ela é interessante.

- O que ela te disse de interessante?

- Nada, ela sorriu. - ele informa e pisca para mim.

Vai embora e a blazer dos seguranças segue atrás. Ele rejeitou aquele monte de mulher bonita e escolheu uma pelo sorriso? O Frederico precisa ser estudado.

895 palavras

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora