1 - Aretha

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-Ei, Fred, você precisa comer ou beber alguma coisa. - acaricio seus cabelos louros, mas ele sacode a cabeça negativamente, os olhos pretos sempre cheios de amor e curiosidade agora estão frios e cansados.

- Posso ficar aqui com vocês? - Vi abaixa-se e pergunta, eu aceno positivamente, mas Frederico não responde, o olhar continua fixo na cama de hospital.

Vi senta no chão e recosta-se na parede, Fred sequer a olhou desde que chegamos aqui, a ruiva segura minha mão e noto os pequeninos pontos, ainda não perguntei se foi se defendendo ou na explosão da porta.

Nosso pai está ao lado da cama, não tem sequer um arranhão, segura a mão da esposa e embora tenha os olhos fechados sei que está acordado, sei que foge do olhar do meu irmão. As últimas 16 horas mudaram nossa história e precisamos de respostas que ele não quer dar. Foi Thomas a encontrar a Ati, poucas quadras da nossa casa, ela estava desacordada entre corpos e dois carros capotados. 

Depois de nos salvar ela conseguiu perseguir aqueles que atiraram na nossa casa, a perseguição não durou muito, porque capotaram logo, mas só saberemos o que aconteceu quando ela acordar. Foi a única encontrada com vida.

Thomas trouxe-a para o socorro imediatamente, esqueceu-se de nos avisar que a encontrou, e por isso passamos horas infernais no apartamento em cacos. As piores horas da minha vida! Fred não levantou-se do chão, permaneceu de joelhos, tremendo, não falava ou parecia nos entender, estava em estado de choque.

Ao meu lado ele fecha os olhos e recosta a cabeça na parede, estamos sujos, machucados e precisando de um banho, mas meu mano é tão bonito que parece um galã de filme de ação nos minutos finais da história, levando em conta a situação do corpo e os ferimentos. Vi contou que tudo aconteceu muito rápido, mas eles dois se saíram bem, não fosse pelo Fred ter tomado um tiro poderiam até se gabar, os criminosos que invadiram nossa casa mexeram com a família errada.

O Banguela recusou-se a fazer RX ou qualquer outra coisa, desde que chegamos não tirou os olhos da mamãe e a enfermeira teve de assisti-lo aqui mesmo, não adiantou nós insistirmos, em todo caso não parece ter fragmento da bala na ferida e se sente alguma dor não demonstrou. 

Não fez nenhuma careta durante a limpeza e os pontos  do ferimento, seus olhos escuros iam da Ati ao Thomas, quando a enfermeira terminou ele sentou aqui no chão, onde estamos agora, acho que já se passaram umas 8 horas, não sei se é dia ou noite, preciso descansar, mas não quero deixá-lo sozinho, a cada som no corredor, a cada vez que essa porta é aberta ele fica alerta e leva a mão em direção à arma que não saiu da cintura.

Vi, eu e papai também estamos armados, temos escolta policial aqui na porta e lá fora, tem mais gente protegendo esse hospital do que posso contar, estamos seguros, mas não vamos dar sorte ao azar, a mamãe quase morreu por nós, mais de uma vez, o mínimo que podemos fazer é velar pelo seu repouso.

- Aretha? - a enfermeira chama - Vem aqui por favor.

Levanto-me e deixo o quarto. A Van é a enfermeira preferida da mamãe, as duas juntas falam mais sacanagem do que adolescentes, e olha que eu sou irmã de dois, já ouvi o moleque hormonal falar muita coisa! Muita coisa! As duas trabalham juntas há anos e ela é sempre parte da equipe quando a Ati tem de fazer cirurgias. Ela me escaneia de cima embaixo e pela cara de pena que faz imagino que esteja ainda pior do que me sinto.

- Quando você chegou?

- Há quase 1 hora, mas não me deixaram entrar, tem um esquadrão inteiro aí na porta, achei que teria de provar até minha última menstruação para que me deixassem passar.

- Nós sofremos um atentado - explico.

- Eu sei princesa, o Thomas contou quando me chamou. Eu já olhei tudo, exames e medicação, tão fazendo tudo certo, mas vou ficar por aqui, tem mais homem do que mulher nesse plantão, sua mãe ficaria tiririca.

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora