28 - Rest in rover

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Evito o elevador e subo as escadas, a reforma no prédio continua e julgado os olhares que recebo todos sabem que temos alguma relação com o atentado. 

Segundo Vi nós estamos livres de qualquer culpa, acham que nos atacaram porque o ex-presidente estava aqui, mas ainda assim, ninguém gosta de quase ter morrido, além do quê o prédio teve milhões de reais em prejuízo, a fachada do prédio e demais custos vai entrar no nosso condomínio nos próximos anos, o Thomas também se ofereceu para pagar a maior parte. Eu preciso conferir se o garoto cereja e a irmã precisam de ajuda, seus pais não dão a menor atenção, tem gente que não deveria ter filhos, isso sim.

Para quê colocar alguém no mundo se não for cuidar e amar? Aliás para que ser pai se vai mentir? A Ati tem razão, se eu e Thomas formos para o tatame será feio, eu tô furioso e ele não é mais um menino.

Mas meu pai é profissional, literalmente matou gente com as próprias mãos, por isso luta tão bem, por isso minha mãe é tão boa, eles não estavam somente pensando em nos proteger, eles calculavam que seria necessário matar em algum momento. Talvez seja melhor não ir para o tatame com alguém que sabe matar. Coloco a digital e ponho a senha, o clique de aprovação é ouvido e a porta abre.

- Seu filho do reaça! - Minha mãe grita do quarto.

- O que foi? - pergunto entrando.

- Vaza da minha frente agora! - Ati grita e meu pai sai do quarto seguido por um coturno do qual desvia a tempo.

Ela pega o objeto do chão e tenta acertá-lo novamente, enquanto lágrimas gordas escorrem dos seus olhos de lama. Jogo as chaves do carro no criado e a puxo pela cintura.

- O que tá acontecendo?

- Nada! - Meu pai diz pegando o coturno-arma do chão.

- O filho da puta do seu pai quer que eu dirija um carro de gambé! - ela esbraveja e tenta se soltar.

- Ati, a rover se foi, não tem conserto, eu não vou te deixar sair de casa em um carro que não seja blindado.

- Eu quero meu carro!

A mamãe se debate, mas eu mantenho firme, eu até sorriria do drama, mas a mulher tem um apego insano por aquele carro, acho que a rover era tão filha dela quanto o resto de nós.

- Seu carro virou um entulho! Nós podemos encontrar um carro que você goste.

- Eu quero meu carro! - ela grita, com as mãos esticadas tentando alcançar o marido.

- Você precisa usar o meu ou o dos meninos.

- Um carro de gambé ou um renegade? Fala isso de novo que eu te esfolo!

Ati me dá uma cotovelada e momentaneamente me desequilibro caindo no sofá, ela corre e acerta meu pai com um soco no braço, ele tenta se defender e decido não me meter, os dois rolam no chão e a custo ele controla a esposa ficando por cima.

Eu sempre soube ser o adulto dessa casa, mas isso é demais. Espera.

- Ei, qual o problema como nosso jeep?! Eu tô ofendido!

- Me escuta, Furquim! Você fica com meu carro só até escolhermos um pra você.

- Eu não vou dirigir seu carro! Eu vou dirigir meu carro!

- Seu carro está no ferro velho!

- O quê?

Thomas recebe nova saraivada de socos enquanto ela chora, as próximas palavras são irreproduzíveis porque acho que nunca ouvi tanto palavrão, aliás eu nem sabia que essas palavras existiam! Ati tenta derrubar o esposo que a essa altura já está machucando seus pulsos.

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora