Evito o elevador e subo as escadas, a reforma no prédio continua e julgando os olhares que recebo todos sabem que temos alguma relação com o atentado.
Segundo Vi estamos livres de qualquer culpa, acham que nos atacaram porque o ex-presidente da república estava aqui, mas ninguém gosta de quase ter morrido e o prédio teve milhões de reais em prejuízo, a fachada e demais custos entrará no valor do condomínio por anos. Parece que Thomas se ofereceu para pagar uma boa parte.
Eu preciso conferir se o garoto cereja e a irmã precisam de ajuda, seus pais não dão a menor atenção, tem gente que não deveria ter filhos. Para quê colocar alguém no mundo se não for para amar e proteger? Eu desentendo tradições.
Coloco a digital e ponho a senha, o clique de aprovação é ouvido e a porta abre. Nossa casa vai virar uma fortaleza.
- Seu filho do reaça! - Minha mãe grita do quarto.
- Ati! - é meu pai reclamando.
- Vaza da minha frente, agora! - Ati grita e meu pai sai do quarto seguido por um coturno voador do qual desvia a tempo.
Ela pega o objeto do chão e tenta acertá-lo novamente, enquanto lágrimas gordas escorrem dos olhos de lama. Jogo as chaves do carro no criado e a seguro pela cintura, mas talvez eu nem devesse salvar o Thomas.
- O que tá acontecendo?
- Nada! - Meu pai diz pegando o coturno-arma do chão.
- O filho da puta do seu pai quer que eu dirija um carro de gambé! - ela esbraveja e tenta se soltar.
- Ati, a rover se foi, não tem conserto, não vou te deixar sair em um carro que não seja blindado.
- Eu quero meu carro!
A mamãe se debate, mas lhe seguro firme, eu até sorriria do drama, mas ela tem um apego insano por aquele carro, acho que a rover era tão filha dela quanto o resto de nós.
- Seu carro virou entulho! Podemos encontrar um carro que você goste.
- Eu quero meu carro! - ela grita, com as mãos esticadas tentando alcançar o marido.
- Você precisa usar o meu ou o dos meninos.
- Um carro de gambé ou um renegade? Fala isso de novo que eu te esfolo!
Ati me dá uma cotovelada e momentaneamente me desequilibro caindo no sofá, ela corre e acerta meu pai com um soco no braço, ele tenta se defender e decido não me meter. Eu tô vendo isso mesmo? Acho que minha vida é meio cenário de novela a cada dois dias!
Os dois rolam no chão e a custo Thomas controla a esposa ficando por cima. Eu sempre soube ser o adulto dessa casa, mas isso é demais.
- Mãe, qual o problema como nosso Jeep?! É um bom carro!
- Me escuta, Furquim! Você fica com meu carro só até escolhermos um pra você. - meu pai tenta.
- Eu não vou dirigir seu carro! Eu vou dirigir meu carro!
- Seu carro está no ferro velho!
- O quê?
Thomas recebe nova saraivada de socos enquanto ela chora, as próximas palavras são irreproduzíveis porque acho que nunca ouvi tanto palavrão, aliás eu nem sabia que essas palavras existiam!
- Me solta! Eu vou buscar meu carro!
- Meu amor, me escuta, a rover se foi!
- Não!
- Mãe é só um carro!
- Meu amor nós vamos comprar o carro que você quiser. - Thomas insiste.
- Mãe! É só um carro! - repito.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Fred 2.0
RomansDepois de sobreviver a um atentado e descobrir desagradáveis verdades sobre a Família Frederico tenta se ajustar na companhia da irmã Aretha e um novo amigo. Multiplos pontos de vista narrativo, todos em primeira pessoa. O texto possui conteúdo adu...