43 - Aretha

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- Tom de voz, caminhar e olhar – repito para mim mesma no elevador – tom de voz, caminhar e olhar.

Só preciso fingir que sou a Ati e ninguém resiste a mim. Tô casada há duzentos anos e meu marido ainda perde a fala, o rapaz que empacota as compras no mercado treme quando eu chego perto e o porteiro sempre tropeça quando eu passo.

– Sou filha da Ati, eu consigo.

Coloco a digital na porta, mas paro, não posso simplesmente entrar na casa dos outros. Bato na porta e empino o tronco mentalizando: tom de voz, caminhar e olhar. Tom de voz, caminhar e olhar.

Instantes depois a porta é aberta, Maurício esfrega os olhos, tadinho, tava dormindo, mas não me arrependo, tá seminu e o cabelo uma bagunça, nem preciso chegar perto para sentir seu corpo irradiar calor. Se depender de mim voltamos para cama agora!

- Aconteceu alguma coisa? - ele pergunta.

- Não, por quê?

Ele estende a mão me puxando para dentro e fecha a porta.

- Porque são 5:45 da manhã.

- Merda! Desculpa! Eu cheguei em casa e... Desculpa!

Meu nível de cansaço tá tão grande que nem percebi ser noite quando cheguei em casa ou agora, enquanto dirigia.

- Então você simplesmente sentiu minha falta? - pergunta repuxando um sorriso.

- Vim ver meu paciente, há dias que não nos falamos.

Ele guarda o riso e cruza os braços na frente do peito, fico firme, eu que não vou desviar meu olhar para esse corpo gostoso ou deixar ele ver que eu tava com saudades, ou o quanto estou desesperada. Eu sou filha da Ati, eu consigo: tom de voz, caminhar e olhar.

- Mas já que tô aqui me deixa te examinar ou no mínimo passar um café.

- Jesus, não! - ele diz e com as duas mãos faz um gesto me parando.

Arregalo os olhos sem entender porque foi tão dramático.

- Você é visita, eu passo o café.

- Tá bem. - digo, mas passo a frente fazendo questão de requebrar bonito. Meu bumbum é um espetáculo, ele não vai resistir. - posso te ajudar? – digo chegando mais perto dele – no que quiser. - capricho na voz sexy.

Tom de voz, caminhar, olhar.

Na cozinha ele puxa uma cadeira para mim, mas me recuso a sentar, essa calça valoriza minhas curvas esse filho do reaça tem que por os olhos em mim, não me mandar sentar!

- Tudo bem no hospital? - puxa conversa, mas não respondo, vou à procura da louça fazendo com que seus olhos me sigam e caiam sobre meu bumbum que fica sensacional nesse jeans, sabe aquele jeans sem erro? É esse.

- Cansativo, mas de muito aprendizado – digo e torno para frente com o bule – Mau, você quer que eu esvazie a casa? Agora que me dei conta que a casa continua montada, não tive coragem de me desfazer das coisas da tia Laura, mas se você quiser...

- Não mesmo, ter a casa montada é um alívio. Minha mãe veio e trouxe tudo que tenho – ele coça a nuca – somente roupas e uns poucos livros, mas me arrastou pra comprar uns trem e eu tomei um susto.

- Por quê? – pergunto me aproximando e colocando os peitos pra jogo.

- Trem de casa é uma fortuna! - ele exclama – nós compramos roupas de cama e umas panelas, só mas eu tive de usar o cartão de crédito!

- Quando viemos de São Paulo fui com o papai comprar as coisas para o flat, escolhemos tudo do mais modesto, mas ainda assim ficou caro. - digo sorrindo, mas capricho no tom de voz – mas com certas coisas não vale a pena economizar.

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora