32 - Maurício

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Acordo cedo e ajudo meus pais a colocarem os pães no forno, quando saio meu pai tá indo para a padaria, negócio deles.

O comércio é pequeno, umas quatro mesas, servem café da manhã, lanche e um serviço de lotérica, também faziam apostas, mas depois que Thomas me levou para a Abin pedi para que parassem, eu não queria nada que me impedisse de trabalhar com ele. 

Eu não quero Thomas como genro porque é perigoso e ninguém em sã consciência cruzaria o caminho dele, mas trabalhar com o homem é uma honra.

O vento é frio nas ruas, as casas já estão decoradas para o Natal, inclusive a minha, a caminho da Asa Norte passo por vitrines e pelo shopping com aquele gigante laço brilhante. Gostaria de dar um presente de natal para a Aretha. Do que gosta? O que odeia?

Não é somente porque seu pai é meu supervisor, mas ela é quase médica enquanto eu ainda tenho milênios para pegar meu diploma. Meu vencimento da Abin é ótimo, mas não sabemos quanto tempo vou continuar por lá depois que Thomas se aposentar, e o soldo de soldado é baixo. Que chance tenho de fazer feliz uma mulher como ela?

A garota sorri e quero dar a ela o mundo inteiro, imagina se eu pudesse tocá-la. É por isso que o Thomas dá presentes para a Ati o tempo todo.

Se você acorda com a mulher dos seus sonhos quer oferecer tudo: roupas, flores, joias... quer retribuir a felicidade que sente, mas Thomas é rico, enquanto tudo que tenho de meu é essa moto que demorei dois anos pra pagar!

- Militar não deveria ser pontual?

- No momento eu sou agente de inteligência! - respondo à provocação do Fred e desço da moto.

- Não sei o que é pior! - ele diz puxando a chave do bolso – vem, assassino da democracia, deixa eu te mostrar o lugar.

Não respondo, mas sigo atrás. Subimos dois lances de escadas pois o elevador está estragado, no segundo andar ele destranca a porta e destrava com a digital. O ambiente tem perfume adocicado que dá pra sentir mesmo por trás do cheiro de madeira polida e lugar fechado.

- Que cheiro é esse, eu conheço.

- A mamãe e a tia Laura tinham perfume parecido.

- Tua mãe vem muito aqui? - deixo minha mochila no sofá.

- Não muito, mas se brincar o cheiro tá aqui desde a adolescência.

- Sua mãe morava aqui? - olho os móveis cobertos.

- Sim, morou aqui até voltar para SP.

- Espera, eu tô na casa da garota da rampa? - abro as cortinas e olho pela janela. - A Ati Sales Furquim saiu daqui para o Levante?

Fred pisca algumas vezes tentando entender de onde vem minha animação, para ele Ati é mãe, mas para mim é um ícone histórico. Frederico joga a mochila no sofá e sorri.

- O quarto dela era o primeiro à direita.

Corro na direção indicada e dou com um espaço pequeno e arrumado, móveis simples, as paredes de um azul claro.

- Eu não acredito que tô aqui, na casa da Ati Sales Furquim!

- Pois pode acreditar! - Fred confirma que não tô sonhando. - e para de falar seu nome todo!

- A Ati se arrumou aqui e saiu por essa porta pra se tornar a garota da rampa?!! Ela olhou por essa janela imaginando o que faria? Ou ela se arrumou sem ideia de como seria? Eu aposto que ela saiu obstinada a mudar o mundo!

- Mano, você me quer uma água com açúcar?

- Cala a boca e não estraga o momento! - respondo lhe dando um soco.

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora