52 - Nada pra ver e pais bêbados

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- Eu e a Fabrine, não rolou.

- Isso é bom moleque, ficar um tempo sozinho é importante.

- Eu não gosto de ficar sozinho!

- Mas é bom pra cabeça e para o coração, vai por mim, faz um bem desgraçado.

Ela empilha os pratos sujos, olhos de âmbar sossegados, não sei explicar, mas observar a mamãe me traz paz.

- Ei, mudando de assunto – começo - descobri que uma das minas da para ginástica artística seduz todo mundo, já fez até cara separar da mulher.

- O que tem de estranho? - mamãe pergunta.

- Porque eu não esperava, sei lá, quando você pensa em síndrome de down, cadeirante, acho que deficientes de modo geral, eu achava que todo mundo era bonzinho.

Mamãe gargalha e fica de pé levando os pratos para a pia, na volta me dá um beijo na têmpora.

- Você acha que todo mundo é legal, Fred. Mas eu tô ligada, a mina é uma loirinha, não é?

- Exatamente, a senhora conhece?

- Sim, a mãe dela foi paciente na clínica, e a menina é mais esperta do que eu e você, ela deu em cima do médico da mãe – Ati sorri – Síndrome de Down tem vários níveis – explica - ela tem uma saúde excelente, é inteligente, boa atleta e coleciona namorados, como uma jovem normal.

- Ela me paquerou e tudo, tipo, mó estilo inocente.

Minha mãe sorri.

- Você gostava da Fabrine?

- Não exatamente, mas a transa era fenomenal, e ela era atleta, eu tava ficando com uma medalhista do Pan, porra, tava massa.

- Sem pressa Banguela, a mina certa e a transa fenomenal vão vir.

- Tem certeza?

- Moleque eu já estive errada?

Nos abraçamos e ajudo-a a tirar a mesa, me ofereço para lavar tudo quando voltarmos do passeio, mas ela diz pra eu me divertir e promete cuidar de tudo.

- Ati, vá se trocar! - Thomas diz quando entra.

- Aonde nós vamos? - a mamãe pergunta sem entender.

- Vamos mostrar Brasília para os garotos. - ele diz como se fosse óbvio.

- Pai, nós não chamamos vocês! - digo e minha mãe me dá um tapa na orelha. - ai! Porra, desculpa, mas eu não chamei vocês.

Papai olha para os lados, ajusta o colarinho da camisa bem passada e com seu ar elegante me encara.

- Of course, it is quite alright, it was misunderstanding on my behalf, I apologise (1). - ele diz todo grave e sai deixando no ar o perfume caro.

Quando me viro minha mãe me cobre com uma saraivada de tapas.

- Ai, ai! Pára, porra! Mãe! - me afasto como posso – eu não chamei ele.

- Mas se ele achou que tinha sido convidado o que custava? - pergunta e continua me acertando.

- Ai, ai! Que porra, meu! Pára! Nada a ver sair com vocês!

- Garoto eu te eduquei melhor do que isso! - ela me acerta um último tapa e grita - Alemão! - instante depois meu pai aparece já sem sapatos. - não precisa se trocar, vou me produzir e vamos sair e nos divertir muito mais do que o Banguela.

Meu pai sorri aquele sorriso bonito que guarda somente para ela, me encara como se tivesse ganhando de mim na disputa imaginária que sua cabeça maluca criou.

Fred 2.0Onde histórias criam vida. Descubra agora