Fazia exatamente 6 horas que meu voo tinha pousado, 6 horas que estou em meu "lar", lar esse que não me sinto em casa. Londres foi meu refúgio por três anos, mas agora que terminei o colégio interno ao qual meus pais me obrigaram a ir, tive que voltar para casa. Só não imaginei que, ao voltar, descobriria que a empresa da família está à beira da falência. E não foi só isso que me pegou de surpresa: os rumores em todas as redes sociais sobre meu pai trair minha mãe não param de circular em todo lugar. Mas o estranho é que minha mãe parece não se importar. Afinal, ela sempre soube que seu amado marido a traía desde sempre. Meu pai não é um homem exemplar; ele é grosso e arrogante com todos, e nem mesmo sua família escapa disso. Agora mesmo, aqui nessa mesa, toda a nossa pequena família reunida em um jantar familiar de boas-vindas para mim, ele sequer me abraçou ou disse que sentiu saudade. É porque não sentiu.
— Minha filha, estou feliz de ter você de volta em nossa casa! — minha mãe diz com um sorriso que não chega aos olhos, mas vou fingir também que estou feliz por estar aqui. É o que fazemos de melhor: sorrisos falsos para as fotos, uma família feliz.
— Eu também — forço o maior sorriso que posso.
Meu pai, na cadeira da ponta de frente para nós, ergue um copo de vinho. Talvez ainda não estejamos tão na ruína que bebemos vinho.
— As coisas vão melhorar com você aqui. Finalmente vai servir para algo — meu pai nem percebe o quanto suas palavras são cruéis, mas pergunto que planos são esses que ele tem para mim quando diz que vou servir para algo. Será que finalmente vai me deixar assumir a empresa? Acho meio improvável. Meu pai é um machista que acha que mulher só tem que ficar em casa cuidando da casa, não em um grande escritório comandando uma empresa.
— O que quer dizer, pai? — Pergunto inocentemente, mexendo com o garfo a comida no prato, uma mania que aprendi ao longo do tempo quando fico apreensiva. A comida não está má, mas sinceramente não estou com vontade de comer nada, não com tudo que está acontecendo.
— Você vai se casar — Larguei o garfo no prato em choque. Me casar? Meu pai não perguntou se vou casar, ele afirmou que vou me casar. Ele só podia estar louco! Eu só tenho 19 anos, mal saí da escola e meu pai quer me casar?
— Eu não vou me casar, papai. Eu acabei de chegar de Londres — Digo apreensiva. Meu pai me encara com aqueles olhos duros, como um aviso para não o contrariar.
— Eu não estou perguntando se você quer, você vai se casar. A situação da empresa é deplorável e a única empresa que ainda pode nos salvar e quer fazer negócios conosco é essa, e a condição é que você se case com o único filho do dono da empresa.
Levanto-me da cadeira e seguro a mesa com força. Nem morta que me casaria com alguém só por pura conveniência. Eu não quero me casar, o casamento dos meus pais já deixou claro para mim que não quero isso para minha vida. Não vou submeter o meu destino igual à minha mãe.
— Eu não vou me casar! Ainda mais quando não tem amor! Este é o século 21, pai, ninguém se casa desse jeito mais!
Meu pai, raivoso, também se levanta do seu lugar, batendo na mesa com os punhos, irritado. Vejo minha irmã de 8 anos se encolher. A última vez que a vi, ela só tinha cinco anos. Tenho pena dela, assim como tenho de mim, com essa família.
— Ah, você vai sim! Já está tudo planejado. Irá se casar, querendo ou não!
Escuta aqui, Amélia, se me desobedecer, sabe bem do que sou capaz!
— Eu já tenho 19 anos, não pode me mandar para outro internato! — grito a plenos pulmões. Meu pai nunca gostou quando eu retrucava ele em qualquer coisa que não achava certo, e por isso fui mandada para Londres. Mas antes, eu só tinha 16 anos, não podia tomar minhas próprias decisões.
Meu pai se aproxima de mim, ficando na minha frente. Posso sentir sua raiva tão de perto, mas eu não vou ter medo, não hoje, não agora.
— Eu não posso te mandar para outro lugar, mas tem outra coisa que posso fazer: te por na rua agora mesmo! Sem teto para morar e mendigar na rua!
— Eu me recuso a me casar e ser igual a você e à mamãe, um casal mentiroso! Você traiu a mamãe e ela ainda está aqui com você... — Nem termino de falar porque sinto o tapa no meu rosto dado pelo pai. Passo a mão na minha bochecha, que arde com o tapa. Encaro ele incrédula. Ele nunca se atreveu a me bater. Sempre foram suas palavras que me machucaram, não suas mãos.
Minha mãe, à minha frente, solta uma arfada, e minha irmã parece à beira de um choro.
Sinto as lágrimas caindo do meu rosto enquanto encaro minha mãe. Ela é minha mãe e não faz nada além de olhar.
— Você é minha mãe, devia me defender!
— Filha, por favor, obedeça seu pai. Será melhor para você, tudo ficará mais fácil.
Enxugo as lágrimas, sabendo que essa luta não vou ganhar, que não tenho vontade própria. Porque se não fizer o que me mandam, tenho certeza de que vou morar na rua.
— Vá para o seu quarto, seu casamento é semana que vem — diz meu pai, e percebo que não há nenhum remorso pelo que acabou de fazer e nenhuma desculpa.
Meu único desejo nesse momento é voltar para Londres e nunca mais voltar, mas infelizmente meu pai nunca me deixaria fazer isso. Ele é capaz de tudo só para me fazer casar com esse homem, seja lá quem for. E não há nada que eu possa fazer, senão seguir suas ordens como sempre.
~ Espero que gostem e comentem o que achou do primeiro capítulo ~
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Uma Aliança De Contrato
RomanceAmélia Ferrari acaba de voltar do internato de Londres depois de 3 anos. Ela só não imaginava que esse tempo fora viria cheio de surpresas, começando com algumas notícias sobre sua família circulando pelo país e a decadência da empresa da família. N...