Capítulo 35

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                Amélia Ferrari

Consegui ficar longe do Renzo ontem, embora hoje eu não possa fazer isso, já que ele está na sala me esperando para irmos juntos à empresa. Ele me olha ansioso, parece chateado. Eu nem sei o que devo fazer, a única coisa que sei é que ele me magoou muito. Só me usou como um objeto, ele não queria nada comigo de fato. Na verdade, ele nunca nem deixou explícito que éramos algo a mais do que um contrato de casamento. Eu que fui ingênua demais.

— A gente pode conversar? — Ele pergunta cauteloso, se aproximando com as mãos no bolso da calça. Ele me encara profundamente e sinto um arrepio na nuca. Como posso gostar dele depois de tudo? Como pode um simples olhar me desestabilizar tanto?
Desvio o olhar, encarando minhas mãos séria.

— A gente não tem nada para conversar, para mim já está tudo claro — respondo seca.

— Não está não, você ainda não acredita em mim e nem confia — murmura. Viro o rosto para ele e solto um risinho amargo, apertando os olhos em sua direção.

— Confiar em você? Sinceramente, existem mil razões para não confiar em você.

— Eu sei disso... mas eu estou falando a verdade, Amélia. Eu não tenho nada com nenhuma daquelas mulheres.

Solto uma respiração profunda.

— Renzo, eu não quero saber de nada disso. Fique com quantas mulheres quiser, eu não me importo.

Mentirosa.

Renzo franze a testa, parecendo que eu o feri com as palavras que saíram da minha boca.

— Você está sendo injusto comigo. Eu estou aqui tentando essa merda toda de acertar as coisas, mas você não está facilitando nada. Eu não sei que porra você quer de mim, Amélia! — braveja, enfiando a mão no cabelo negro.

Meu peito se agita com respirações rápidas. É difícil manter a respiração estabilizada com Renzo.

— Eu não quero nada de você! — arquejo. Ele passa a mão na boca em frustração e se afasta, abrindo a porta da sala e saindo, batendo a porta com força. Sorte que Lurdes não está aqui.

Sinto um nó na garganta e uma vontade de chorar. Quero ir atrás dele e fingir que nada aconteceu ontem, voltar para o dia em que estávamos indo tão bem, quando tudo parecia real para mim, quando ficamos juntos esses dias. Mas se eu fizer isso, irei perder toda a minha dignidade. Eu não pretendo me tornar como minha mãe, perdoando as coisas que ele faz e seguindo em frente. Eu não. Eu tenho o meu orgulho e irei suportá-lo até o contrato acabar, mesmo que tê-lo tão perto me doa tanto. Porque caramba, eu gosto tanto dele e nunca pensei que teria esse tipo de sentimento por ele, mas está claro que ele não sente o mesmo por mim.

................

— Gostou do lugar? — Leonardo pergunta, afastando uma cadeira para que eu possa sentar. Estamos em um restaurante que ele escolheu. Combinei de vir almoçar com ele, mas sinceramente já me arrependi de aceitar. Me sinto estranha vindo sozinha com um homem, mesmo que ele seja um amigo da minha família. Leonardo e eu com certeza não somos mais aqueles dois jovens que implicavam um com o outro, e o jeito que ele me olha é bem diferente de quando eu era uma garota de 16 anos.

— É bonito — observo o lugar enquanto ele se acomoda à minha frente. As cores são vibrantes e o lugar é acolhedor. Me lembro de Renzo dizendo que me levaria para jantar. O que você está fazendo, Amélia, pensando nele de novo?

— Eu projetei esse lugar, sabia? — Ele diz com um sorriso no rosto, tirando-me dos meus devaneios. O encaro, elevando o canto da boca em um meio sorriso.

— Não sabia, mas é bonito. Você tem muito talento. — Assim como Renzo Leonardo, ele se formou em arquitetura. Renzo de novo?

— Obrigada. — Olhamos o cardápio e fazemos o pedido ao garçom.

— Mas me diz, Amélia, como vai a vida de casada?

Brinco com minhas mãos na mesa, dando de ombros.

— Normal, como qualquer vida de casados.

Até parece.

Ele arqueia a sobrancelha e me observa com atenção.

— Desse jeito, até me dá vontade de casar. — Brinca ele.

Ri.

— E por que nunca se casou? — Pergunto curiosa. Leonardo é um cara bonito e, com certeza, deve chamar a atenção. Talvez ele seja avesso a relacionamentos, assim como Renzo.

— Eu ainda sou muito jovem para me casar. Eu só tenho 26 anos e gosto de aproveitar a vida. — Assinto, um motivo compreensível até. — Mas eu me casaria, sabe, com uma mulher que despertasse coisas em mim, que eu gostasse. — Seus olhos me olham profundamente e um sorriso presunçoso acende em seu rosto, mas não é igual ao de Renzo, que me deixa atordoada.

— Tenho certeza de que vai encontrá-la. — Digo por fim.

— Talvez eu já tenha encontrado — o jeito que ele fala me deixa desconcertada, é como se tivesse uma insinuação em suas palavras. Para o meu alívio, logo os nossos pedidos chegam.

— E como andam seus pais? Faz tanto tempo que não os vejo, na verdade, desde que você foi para Londres, se não me engano. Ouvi rumores de que a empresa estava indo à falência — comenta e dá um gole em sua bebida.

— Eles estão bem, a empresa realmente estava indo à falência, mas já está se recuperando.

— E os Santoros têm algo a ver com isso?

Sua pergunta me pega de surpresa.

— A ajuda deles foi importante.

Ele assente.

— Vocês se conhecem? — pergunto curiosa, ele me lança um olhar estranho.

— Digamos que sim.

Voltamos a aproveitar a comida e Leonardo fala sobre outros assuntos, me fazendo perguntas, mas confesso que minha mente está em Renzo. Nem avisei quando saí da empresa, não que ele tenha dado falta, na verdade.

— Tem um pouco de molho bem aqui — Leonardo diz, apontando para o meu rosto. Passo a mão na boca para tirar um pouco, envergonhada. Ele ri e estica o braço, e seu dedo passa no canto da minha boca, limpando.

— Agora está melhor — sorrio. Ele afasta o braço.

— Obrigada.

Então Renzo aparece de repente ao nosso lado com um semblante furioso. Que merda ele está fazendo aqui? Não tenho muito tempo para processar nada além disso, seus olhos disparam de mim para Leonardo, ardendo de raiva e ciúmes.

— Que merda é essa, Amélia?! — vocifera. Eu me encolho na cadeira, vendo a cena se desenrolar. Em seguida, Leonardo se levanta e encara Renzo com deboche.

— Renzo, que surpresa você por aqui... — nem dá tempo de Leonardo terminar, porque Renzo dá um soco no rosto dele, fazendo-o cair. Olho a cena horrorizada. Renzo, ainda furioso, segura meu braço e me puxa com força para fora do restaurante, atraindo um monte de olhares chocados em nossa direção.

Que merda acabou de acontecer?

Uma Aliança De ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora