Capítulo 3

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Amélia Ferrari

Entro no meu quarto pisando os pés e me tranco nele. Penso no casamento ao qual serei forçada. Estou cansada de ser a filha obediente que sempre faz o que os pais querem sem questionar. Foi assim quando fui obrigada a ir para a Inglaterra e abandonar minha antiga escola e meus amigos. Tive que deixar minha irmã e minha mãe para trás, e agora estou sendo forçada a casar contra a minha própria vontade, e ainda nem sei quem é esse homem. Não sei como é sua personalidade, se é algum tipo de maluco, psicopata, alguém que poderá se aproveitar de mim. Isso eu nunca vou permitir. Posso ser esposa desse homem, mas nunca passaremos de estranhos dividindo uma casa e um sobrenome.

Quero fazer algo, quero ser rebelde hoje, e eu vou ser. Pego um vestido azul rodado na minha mala, vestido esse que foi dado por uma amiga da Inglaterra. Costumávamos fugir à noite do internato para ir a clubes noturnos. Eu morria de medo de sermos pegos, mas nunca acontecia nada. Visto a roupa e faço uma maquiagem simples. Hoje eu não vou me importar com nada, vou fazer o que me der vontade, que é ir para uma boate. Se vou me casar, eu deveria aproveitar os dias que vou ter de solteira. Devo me embebedar e beijar o primeiro cara que eu ver. É isso que vou fazer.

Pulo da janela do quarto discretamente para não acordar meus pais. Pego um Uber que me deixa em uma boate que está bombando no momento. Entro e passo pelo segurança. Ando até o bar, observando a boate, mulheres dançando sensualmente sem pudor com homens. A música alta é vibrante, aqui não há escrúpulos. Ou talvez eu seja requintada demais, afinal, vivi confinada do mundo por 3 anos em um internato.

Peço ao barman uma tequila, só espero que o cartão de crédito ainda esteja funcionando. O barman me serve um copo de tequila e eu engulo de uma vez. A coisa faz minha garganta queimar. Eu nunca bebi álcool na vida, mas hoje vou experimentar. Só não entendo o que acham de bom nisso. O gosto é estranho, talvez eu devesse beber mais. Peço ao barman mais um copo e engulo o líquido pela segunda vez. Fica melhor. Assim, peço mais um copo. Enquanto ele serve, deixo meus olhos percorrerem a parte mais alta da boate, que suponho ser para os clientes VIPs. Noto que um homem está olhando na minha direção. Não, olhando para mim. Aqui não dá para ver como ele é. Uma mulher loira segura seu rosto e o beija. Viro-me para o barman. Isso não me interessa.

Pego o outro copo de tequila e engulo de uma vez. Estendo o copo para o barman novamente, pedindo mais. Ele dá de ombros e despeja a bebida. Quando estou prestes a tomar, um homem senta ao meu lado. Nem me dou ao trabalho de olhar.

- Vai com calma aí. Dessa jeito, não vai sair em pé daqui - viro-me para o dono da voz aveludada. É o mesmo homem que estava com a loira agora pouco. Ele está sorrindo para mim, aquele sorriso sedutor que deve lançar para todas.

Agora de perto, posso ver todos os seus detalhes que estavam ocultados longe da minha vista. O cabelo é negro e curto, o que contrasta com os olhos verdes. Tem porte forte e é alto. Ele é bonito, tipo um deus grego que deve arrebentar corações por aí, como diria minha amiga. Dá para ver que é um mulherengo.

- Esse é o plano - engulo a bebida e já posso sentir os efeitos do álcool em mim. Minha visão já está começando a ficar turva e estou me sentindo leve e pesada ao mesmo tempo.

- Estou atrapalhando o plano então? - não sei se é uma pergunta ou uma afirmação.

Volto para ele com um sorriso no rosto.

- Não sei... ainda - ele arqueia as sobrancelhas grossas com um sorriso malicioso.

- Só quero aproveitar essa noite de liberdade - comento, brincando com o copo no balcão. Ele estreita os olhos, curioso e confuso.

- Liberdade?

- Sim, vou me casar, mas não quero o cara. Deve ser um babaca idiota. Só quero curtir essa noite.

Noto algo mudar nele, mas não sei o que é. E não sei por que estou aqui desabafando com um estranho qualquer em um bar. Acho que é o efeito do álcool. Até sinto um pouco minhas pálpebras pesarem.

- Então você está comprometida? E quer uma despedida de solteira...

Seus olhos me encaram com intensidade enquanto se aproximam de mim como um predador. A mão direita sobre o balcão e o corpo inclinado para mim. Eu não me afasto, erguendo os olhos para encarar os dele.

- Eu não me importo em fazer isso por você - ele continua com suas investidas. Sua mão que está no balcão fica sobre a minha, fazendo círculos. O calor da sua mão na minha é um peso bem-vindo. Penso em seus lábios nos meus, como deve ser o seu beijo. Não sou de beijar estranhos por aí, mas hoje é o dia em que não vou me importar com absolutamente nada.

Por isso, deixo que o estranho bonitão toque meu rosto com delicadeza e, em um instante, ele puxa meu queixo para ele, seus olhos fixos nos meus, pedindo permissão para avançar. Eu dou um passo e prensamos nossos lábios um no outro. O estranho me beija sem paciência alguma, seu beijo é intenso e nada romântico, é possessivo. Ele devora meus lábios, segurando meu rosto entre suas mãos, e nossos lábios trabalham em sintonia. Ele tem gosto de perigo e eu gosto disso. Sinto minha respiração acelerar, o estranho está me dando o maior beijo que já recebi na vida e nem me importo se vai ser só por uma noite.

Consigo sentir sua respiração oscilar com a minha, uma de suas mãos desce para minhas costas e para na minha coxa, fazendo-me arrepiar. Ele para de me beijar e inclina a cabeça próxima ao meu ouvido e sussurra com a voz rouca:

- Quer ir para outro lugar, longe daqui?

É como se toda minha coragem se esvaísse. Eu sei o que ele quer e sei que não é só beijos e amassos, mas não tenho coragem de ir além do que já fiz hoje. Nunca fiquei com alguém além de beijos, mesmo que esse homem me leve às loucuras, não sou capaz de fazer esse ato ainda.

Afasto-me dele, recuando um pouco.

- Eu preciso ir agora. - Isso é verdade, tenho medo que meu pai entre no quarto e não me ache, e pense que eu fugi. Se bem que foi uma pequena fuga.

O estranho parece confuso.

- Mas já?

Levanto-me do assento e ajeito o vestido para ficar comportado.

- Sim...

- Bom, espero que tenha curtido a sua despedida de solteira - seu rosto confuso dá lugar a um sorriso presunçoso. Ele me puxa para si e deposita o último beijo da noite antes de eu sair e voltar para casa.

Uma Aliança De ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora