Capítulo 23

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                  Amélia Ferrari

Não sei por que convidei Renzo para ir ao covil da minha família. Minha mãe insistiu tanto quando fui à casa dela para irmos jantar que não tive como dizer não, mas seria melhor se eu tivesse dito. Ela só quer ver com os próprios olhos se Renzo está me tratando bem, se é uma boa pessoa, só que é estranho essa preocupação quando nem se importou em me vender para ele. Meus pais são hipócritas, mas ainda são meus pais, corre sangue deles nas minhas veias e não tem como fugir desses laços familiares.

— Você não parece muito empolgada com esse jantar — comenta Renzo, dirigindo o carro que está a caminho do meu pesadelo. Pelo menos tem a Celeste, estou fazendo isso por ela. Estranho que Renzo esteja puxando conversa comigo, desde ontem ele vem me evitando.

— E não estou — balbucio, olhando para a janela do carro, e ele não diz mais nada.

Chegamos na casa dos meus pais, saímos do carro e caminhamos para dentro da casa. Celeste vem correndo nos receber, abraçando a mim e até se atreve a abraçar Renzo, que fica constrangido com o afeto da minha irmã. Celeste sempre foi carinhosa com todos que ela gosta. Minha mãe vem logo atrás e me dá um abraço, e depois meu pai aparece.

— Boa noite, Renzo — diz meu pai a ele, estendendo a mão para Renzo, que olha por longos segundos até pegar.

— Boa noite, senhor.

— Vamos entrar então — minha mãe chama — e Amélia, venha me ajudar a arrumar as coisas.

— Claro — tento não ligar para o fato de que meu pai nem se deu o trabalho de cumprimentar a própria filha.
Sigo minha mãe até a cozinha, deixando Renzo à mercê do meu pai.

— Leve esses pratos para a mesa — pede, pego os pratos e os coloco na mesa, arrumando-os. Ajudo minha mãe a colocar a comida na mesa.

Logo nos sentamos à mesa, todos reunidos. Renzo senta ao meu lado. Meu pai começa a conversar sobre como está feliz que a empresa está cada dia melhor. Ele finge prestar atenção às palavras dele, mas dá para ver o quanto acha tudo isso entediante, assim como eu.

— Fico feliz que Amélia tenha se casado com você, finalmente essa garota serviu para alguma coisa e rendeu alguns negócios bons para a família — meu pai diz, escorregando veneno em sua língua, que não serve para outra coisa senão me ofender sempre que pode. Me enrijo, ficando calada, porque não posso dizer nada, já que aqui eu não tenho voz.

— Eu acho que Amélia é muito mais do que uma moeda de troca, senhor, sem querer ofender. E eu que fico feliz de casar com alguém decente e com caráter, como ela, diferente de algumas pessoas que têm por aí — quase engasgo com a comida que coloquei na boca. Renzo acabou de me defender? Viro rosto para encará-lo, surpresa por essa atitude dele. No entanto, ele não me olha, seus olhos estão fixos no meu pai. A mandíbula contraída mostra que ele não gostou nem um pouco do jeito que ele falou comigo. Meu pai pigarreia sem graça com a resposta de Renzo.

— Claro, você tem razão — responde meu pai, envergonhado. Nunca vi ninguém deixá-lo assim sem graça.

Nunca pensei que Renzo seria o cara que iria me defender. Por um momento, achei que ele ficaria calado ou talvez até concordaria com o meu pai. Afinal, a única coisa que fazemos é discutir o tempo todo. No entanto, às vezes ele pode ser legal comigo, é raro, mas acontece.

Com o término dessa conversa, voltamos a aproveitar a refeição com um clima tenso. Quando o jantar acaba, digo graças a Deus. Antes de irmos, Celeste chama Renzo e eu para irmos ao quarto dela, pois ela quer mostrar algo.

— Então vai ter um jogo de vôlei na minha escola e eu queria que vocês fossem me ver, já que a mamãe e o papai não vão — Celeste diz.

— Claro que eu vou, Celeste. Pode contar comigo, maninha. Só me diz o dia e horário.

— Sexta, às 5 horas da tarde — ela olha para Renzo, que ainda não disse nada — Renzo, você vai, não é? Promete que vai?

— Renzo está muito ocupado, Celeste, então só eu vou — duvido que ele queira passar seu tempo vendo crianças jogarem. Renzo me encara com a sobrancelha erguida.

— Eu acho que posso falar por mim mesmo, Amélia — ele diz e se vira para minha irmã — Eu adoraria ver você jogar. É claro que eu vou, pequena.

Sua voz é gentil e ele até sorri para ela. Minha irmã sorri alegremente.

— Sério, você promete que vai? — pergunta empolgada. Ele faz que sim com a cabeça.

— Prometo.

— Você tem certeza disso? Prometer algo a uma criança é coisa séria. Depois, se você não for, ela vai ficar muito chateada e eu também. Não quero que machuque os sentimentos da minha irmã — digo a ele enquanto Celeste está entretida em seu mundo.

— Não se preocupe, eu vou para o jogo dela. Ela parece tão empolgada com isso — Renzo sendo amável com alguém é estranho, mas gostei disso.

Ele me encara por longos segundos e eu esqueço completamente como voltar a respirar. Fico lembrando do jeito que ele me defendeu do meu pai. Talvez ele não seja tão ruim assim.

— Obrigada por ter dito aquelas coisas para o meu pai. Às vezes, ele pode ser um babaca.

Ele desvia o olhar, alisando a roupa.

— Acho que temos isso em comum — comenta com uma voz indecifrável. Encaro seu rosto, tentando decifrá-lo ou ir além do que seu rosto mostra, mas Renzo é difícil de ler. Quero descobrir quem é o homem por trás dessa máscara impenetrável que às vezes me ofende e depois me chama de bonita, implorando para ficar no quarto com ele, e que me defende, mas me ignora. É tão difícil entendê-lo, porque todas as vezes que penso que posso ir um pouco mais fundo, ele se fecha totalmente.

Uma Aliança De ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora