Capítulo 10

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                Amélia Ferrari

Consegui uma entrevista de emprego como garçonete. Não é grande coisa, mas é o melhor que posso conseguir tendo apenas o ensino médio.

Entro na lanchonete e falo para o atendente que vim para a entrevista de emprego. Logo sou recebida pelo gerente. Ela faz algumas perguntas e tento ser o mais calma possível. No final da entrevista, o gerente diz que estou contratada e que vou trabalhar meio período no horário da noite, das 18:00 às 23:00 horas.

— Seja bem-vinda à equipe, você começa amanhã — diz ele gentilmente.

Sorrio agradecida.

—Obrigada.

Volto para casa um pouco mais leve por ter um emprego. Penso que vou juntar dinheiro aos poucos para uma emergência, tipo quando esse apartamento fica tão sufocante, eu tenha dinheiro suficiente para fugir daqui.

— Você parece feliz — diz Lurdes, me observando.

— Feliz não, mas leve sim — respondo, pegando uma maçã na geladeira e dando uma mordida.

— O senhor Renzo disse que não vai vir almoçar.

Ela sempre diz isso. Renzo nunca vem almoçar, às vezes só vem jantar. Fora isso, é raro tê-lo por perto.

— Tudo bem, vou tomar um banho.

Entro no meu quarto e tomo um banho. Depois que visto minha roupa, pego meu laptop e noto que tem uma mensagem da minha amiga de Londres, Lucy. Ligo para ela pelo Facetime.

—Oi Amélia, faz quanto tempo que a gente não se fala? — diz ela em inglês, sua língua materna. Lucy é uma garota bonita, com olhos escuros e cabelos curtos e pretos. No internato, costumava ser popular.

— Oi Lucy, faz muito tempo... você nem faz ideia do que aconteceu na minha vida.

Ela me olha confusa.

— Me diga por que estou entediada e tenho bastante tempo. No próximo mês, vou para a universidade na Alemanha, então ainda tenho tempo para fofocas. É engraçado pensar que antes eu tinha os mesmos planos que a Lucy: terminar o colégio, ir para a universidade, arrumar um emprego. Casamento estava fora de cogitação.

Lucy, vendo minha tristeza, pergunta:

— O que aconteceu?

— Fui obrigada a me casar e o cara é um babaca.

Lucy franze a testa e vejo choque em seus olhos.

Não sabia que fazia falta ter alguém para desabafar. Lucy era esse tipo de amiga, contávamos segredos uma para a outra, mas os problemas dela não se comparam aos meus.

— Casamento arranjado hoje em dia?! Isso é o cúmulo!

— Pois é, um casamento para salvar a empresa dos meus pais. Essa não era a vida que imaginei para mim quando voltei de Londres. Ah, Lucy, você não sabe o quanto o odeio — desabafo.

— Mas ele não te obriga a fazer nada, né? — pergunta preocupada.

Balanço a cabeça negativamente.

— Nessa parte pode ficar despreocupada, a gente mal se fala. É como se eu fosse um móvel na casa e nada mais.

— E se você fugisse e viesse para Londres de novo? Você sabe que na casa dos meus pais sempre vai ter um espaço para você — ela propõe gentilmente.

Sorrio, apesar de ser uma boa proposta, nunca faria tal coisa. Meus pais encontrariam um jeito de me achar.

— É uma boa oferta, mas acho meio impossível eu fugir. Mas obrigada.
Ela faz uma cara triste.

Uma Aliança De ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora