Capítulo 19

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                  Amélia Ferrari

Recebi uma mensagem de um número desconhecido quando estava na empresa de manhã. Era a mãe do Renzo querendo conversar comigo a sós, sem que ele soubesse. Fiquei curiosa para saber o que ela queria falar comigo e, por isso, inventei uma desculpa de que precisava ir na casa da minha mãe ao invés de ir para casa e jantar com Renzo.

— Tem certeza que não quer que eu te leve? — pergunta, com a mão apoiada no carro. Ele parece diferente hoje, menos ranzinza.

— Não precisa, eu já até pedi um Uber — respondo, tentando disfarçar o nervosismo. Se Renzo descobrir que vou me encontrar com a mãe dele, não vai gostar nem um pouco.

Ele me estuda com os olhos. Tenho que dar um jeito de sair logo daqui.

— Certo, vou comprar um carro para você não ficar andando de táxi por aí — arregalo os olhos, surpresa.

— Ah, eu não preciso de um carro e eu também não sei dirigir.

— Isso não é um problema, existe auto escola para isso...

— Mais tarde conversamos sobre isso, tenho que ir — a essa hora a mãe dele já está me esperando. Renzo acena, enfim me deixando ir.

Pego um Uber e ele me leva até o endereço. Fico pensando no que a mãe dele tem para falar comigo. Enfim, chegamos. Entro no restaurante que a mãe do Renzo mandou o endereço. Logo, meus olhos capturam a figura da mulher que deve ter por volta dos 50 anos. Ela acena para mim e ando até ela e me sento à sua frente. Assim de perto, noto que Natalie se parece muito com ela: os cabelos escuros no mesmo tom, os olhos verdes que Renzo e Natalie devem ter puxado dela.
Ela sorri para mim.

— Olá, que bom que veio — ela parece ser tão gentil... Não entendo porque Renzo a tratou daquele jeito no dia que casamos.

— Olá, sim, eu vim. Fiquei curioso sobre o que queria falar comigo — dou um sorriso a ela.

Ela se inclina para frente, descansando o queixo na palma da mão. Cruzo as pernas, me endireitando na cadeira, esperando que ela fale.

— Você deve saber que eu e meu filho não temos uma boa relação.

— Sinceramente, não sabia, mas supus depois de como Renzo te tratou aquele dia.

Ela suspira, jogando-se para trás, com semblante cansado.

— Renzo tem muita raiva de mim e eu nem o culpo por sentir isso. Quando soube que ele casou, eu só queria estar presente como mãe, vendo essa união, sabe? — seus olhos parecem marejados.

— Sinto muito por isso, mas por que Renzo tem tanta raiva assim da senhora? — pergunto curiosa, descansando minhas mãos na mesa.

— Eu fui embora há muitos anos, deixei Renzo e Natalie com o pai. Os abandonei para viver minha vida longe daqui e foi a pior coisa que fiz — ela parece envergonhada quando passa a mão no rosto. — Cometi um erro que afetou muito a vida dos dois, eu nunca deveria tê-los deixado.

Agora entendo o motivo de Renzo não querer ver a mãe, ela os abandonou.

— Eu não sei o que dizer — digo por fim.

— Eu te chamei porque acho que, como esposa, você poderia mudar a mente dele, tentar fazer com que eu me reconcilie com meu filho — diz esperançosa, os olhos cheios de expectativas. Engulo em seco, não tem como eu ajudar essa mulher. Renzo ficou furioso comigo só pelo simples fato de abrir a porta para ela, imagina só eu tentar fazer com que esses dois se aproximem?

— Renzo é muito difícil, senhora. Confesso que não faço ideia de como posso fazer isso...

Ela segura minhas mãos desesperada.

— Por favor, me ajude a me aproximar do meu filho. Tenho certeza de que ele vai te escutar, ele deve te amar muito porque casou com você.

Afasto minhas mãos das delas, meio sem graça. Ela não sabe que o amor em nosso casamento é tudo uma farsa.

— Eu posso tentar, senhora, mas não sei se ele vai me escutar.

Ela balança a cabeça, concordando cabisbaixa. Pelo menos ela está tentando se reconciliar com o filho. Alguns nem tentam, mas será difícil amolecer aquele coração frio.

— Obrigada por isso. A propósito, meu nome é Perla — diz, estendendo a mão sobre a mesa. Seguro sua mão.

— Amélia, mas acho que já sabe — ela ri e solta minha mão.

— Meio difícil não saber, mas eu vou ter que ir agora. Pode pedir o que quiser para comer, já está pago — ela levanta da mesa e faço o mesmo.

— Não precisa, Perla.

— O mínimo que posso fazer é pagar o jantar da minha nora — Perla se aproxima, me abraça e dá um beijo em meu rosto — Aqui está o meu número.

Ela tira um cartão de visita da sua bolsa e me entrega, e então vai embora. Me sento de novo, ainda mais curiosa com a vida passada de Renzo e sua família. Será por que ela abandonou os filhos? Aquela explicação não parece muito concreta.

— Amélia? — ouço uma voz masculina em tom de surpresa pronunciar meu nome. Ergo o queixo e dou de cara com um homem familiar...

Ele abre um sorriso enorme para mim, como se me conhecesse. Esse sorriso eu conheço.

— Não está me reconhecendo? Sou eu, Leo! — Agora me lembro, Leonardo Conti, filho do amigo do meu pai. Leo e seu pai iam para minha casa às vezes. Lembro-me de quando tinha 16 anos, antes de ir para Londres. Ela gostava de implicar comigo, me perturbar por ser mais nova. Na época, acho que ele tinha 22 ou 23 anos. Agora é um homem com um rosto com feições mais maduras, está mais bonito também. Sempre o achei bonito.

— Sim, me lembro — digo sorrindo para ele. Leo afasta uma cadeira e senta.

— Está esperando alguém? — pergunta. Faço que não com a cabeça. — Que bom então, você está muito bonita e diferente daquela garota irritante! — brinca ele. Solto uma risada.

— Você que era irritante! — ele me encara com seus olhos escuros e desce para a aliança no meu dedo, e seu sorriso se desfaz.

— Soube que se casou. Está em todas as manchetes dos jornais.

É claro que ele e o mundo sabem disso. Não sei por que escondo a mão, trazendo-a para mim.

— Sim, casei. Isso tem mais de um mês.

— Você não parece feliz. Na verdade, nunca achei que você fosse do tipo que viveria presa em um casamento — comenta, passando a mão no cabelo.

— Algumas coisas mudam.

— Claro, bom, estou feliz por ter encontrado você. Senti sua falta de implicar com você — ele levanta da cadeira. — Espero que nos encontremos mais vezes — conclui, presunçoso.

Ele se aproxima e beija meu rosto. Posso sentir meu rosto ficar vermelho.

— Pode me passar seu número? — pergunta antes de ir. Meio atordoada, tiro meu celular da bolsa e o entrego. Ele dá o seu para anotar o meu. Devolvemos os celulares. — Podemos marcar um jantar qualquer dia desses, sabe, para colocar a conversa em dia? — Ele pergunta.

— Claro, por que não?

— Te mando uma mensagem então. Até mais, Amélia.

Leo me lança um sorriso antes de ir embora.

O que foi isso?

Chego em casa já passou das nove da noite e percebo que Renzo está se exercitando na varanda, levantando peso com as mãos. Me escondo para espiá-lo. Ele está com fones de ouvido, então nem deve ter percebido que cheguei. Seus braços fortes levantam o peso facilmente. Renzo é forte e fica incrivelmente sexy sem camisa, usando apenas um short. Fico hipnotizada encarando seus bíceps e seu tanquinho se contraindo. Sinto um calor no corpo, é como aquele dia em que nos beijamos. Engulo em seco, tendo pensamentos pecaminosos. Dou um tapa mentalmente no meu rosto e caminho em direção ao meu quarto.

Onde está a minha cabeça?

Devo estar louca esses dias, deixando esse homem entrar em meus pensamentos...

Uma Aliança De ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora