Capítulo 38

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Renzo Santoro

Escuto a apresentação do novo projeto com os estagiários, desculpa, errei ao dizer que estou escutando. Estou fingindo que estou prestando atenção porque minha mente está bem longe daqui, como sempre, pensando em Amélia e também na fatura bancária que Giulia me mandou ontem para pagar. Como eu queria conversar com aquela mulher! Simplesmente paguei a coisa toda. Se ela quer jogar esse jogo, então vamos jogar. O que são alguns trocados para mim? Ela ainda não está satisfeita e me importuna com dinheiro para pagar coisas para esse bebê. Ela está exigindo uma pensão para um bebê que ainda nem nasceu, mesmo sem fatos provando que sou o pai. Realmente, isso é exaustivo. Tenho tantas responsabilidades que às vezes tenho a sensação de que irei me afogar em tudo isso.

— Então é isso, senhor Renzo — a estagiária que estava apresentando diz. Meu tio me balança, trazendo-me de volta à realidade.

Pigarreio, recuperando a consciência.

— Irei avaliar os trabalhos e selecionar o melhor projeto. Quem conseguir me surpreender vai conseguir uma vaga aqui na nossa empresa — uso um tom formal. Os estagiários assentem. Percebo o nervosismo deles. Todos querem uma vaga para trabalhar aqui e eu só escolho os melhores para o meu time. Mas ando mais cauteloso com os funcionários dessa empresa, já que possivelmente algumas pessoas andam me apunhalando pelas costas.

Lanço um breve aceno de cabeça para eles e começo a me afastar, saindo, e meu tio me segue. Odeio sua presença insistente ao meu lado. Ele é apenas mais um hipócrita da minha família imperfeita e um cachorrinho fiel do meu pai. Dá para ver que não gosto muito dele só por isso. E ainda tenho que aguentá-lo perto de mim, porque ele é meu braço direito na empresa, já que é o diretor de operações.

— O que está acontecendo com você? Está muito desligado — comenta. Ele também é o meu vigiador, cada coisa que faço ele sabe, então leva ao meu pai, como um cão de guarda.

— E isso te importa? De todas as pessoas do mundo para falar sobre os meus problemas, de longe essa pessoa não seria você.

Ele arqueia uma sobrancelha e franze os lábios.

— Garoto petulante — grunhe ele, e se afasta. Agradeço por finalmente me deixar respirar em paz.

Entro no meu escritório e minha amada irmã está sentada na minha poltrona, bem envolvida no celular. Quando me vê chegar, ergue o olhar e lança um sorriso travesso.

Me aproximo com as mãos no bolso e ombros relaxados. Ela é a única pessoa da qual posso, pelo menos, não fingir o tempo todo a pose de chefe durão. Afinal, é a minha irmãzinha mais nova, que nasceu 10 minutos depois de mim.

— Pretende me substituir quando eu morrer de infarto alguns dias? — brinco. Ela levanta a sobrancelha e estica os lábios.

— Você é muito novo para morrer de infarto, mas seria legal te substituir. Eu seria uma ótima CEO — se vangloria.

— Então se prepara, porque com tantos problemas que acontecem na minha vida, eu diria que estou bem perto do infarto.

— Vira essa boca pra lá, você ainda vai viver muitos anos e eu vou ter que te suportar por muitos anos ainda, chato.

Ri, achando um pouco de graça, sento-me na cadeira giratória de frente para ela.

— Tenho alguma pendência hoje? — pergunto.

Ela coloca os cotovelos sobre a mesa e apoia o queixo nas mãos, pensativa.

— Sim. — Procuro mentalmente alguma pendência no trabalho, mas sinceramente não me lembro. Vincius já me atualizou sobre todos os meus compromissos hoje e não tinha nada marcado com Natalie.

— Que pendência? Já vou avisando que não tenho tempo nem para respirar hoje e não tem como eu dar um jeitinho para ver ninguém — aviso.

Natalie me olha de um jeito estranho, na verdade, ela está estranha. Parece brilhante demais, empolgada demais com seja lá o que esteja planejando. Estou ficando assustado já. Um vinco aparece entre as minhas sobrancelhas enquanto a encaro impaciente.

— Operação reconquistar a Amélia! — exclama, como uma doida que é. Às vezes me pergunto se saímos da mesma barriga. Natalie é o oposto de mim, tão animada e feliz o tempo todo. Às vezes até queria ter o jeito dela. Apesar de tudo que passamos, ela nunca se deixou abalar por nada. Ou talvez só seja seu jeito de camuflar a dor. Cada um tem seu jeito de lidar com as coisas, e meu jeito é me fechar, me isolando completamente de todos.

— Operação o quê? — questiono, sem entender o que ela está dizendo. Natalie sabe das merdas que acabei fazendo com a Amélia. Cometi a loucura de contar no meu estado bêbado, e ela não para de me irritar com isso.

— Operação reconquistar a Amélia. Presta atenção, você vai ter que se esforçar para conquistá-la e assim ela pode reconsiderar e te dar uma chance de novo!

Franzo a sobrancelha e bufo.

— Ela já deixou bem claro que não quer, e eu vou respeitar a decisão dela, Natalie. É melhor assim, você sabe que eu não sou o cara ideal para ela, ou para ninguém na verdade. Obviamente, não levo jeito com isso — digo frustrado.

Ela enruga o nariz e me olha como se eu fosse um tapado.

— Ah, meu Deus! Homens são tão tapados! Renzo, apesar de você ser um gênio e ter sido o melhor aluno da classe todos os anos, parece que você é um tapado! Ela falou isso, mas a verdade é que ela não quis dizer isso de verdade — olho para ela confuso, mulheres são tão confusas.

— O que você quer dizer é que ela não quis dizer isso? porque para mim foi bem claro que sim — afirmo.

— Renzo, ela gosta de você, caramba! Mas você a magoou e a única coisa que você pode fazer para que ela pense que pode, ao menos, pensar em te dar uma chance é tentar conquistá-la.

Conquistar? Eu nunca fiz isso na vida, nunca cheguei a namorar e nunca implorei por atenção de nenhuma mulher. Eu não sou nenhum romântico, estou muito longe disso. Antes, as mulheres que entravam na minha vida eram somente para levar para a cama e no dia seguinte as dispensava, mas com Amélia foi diferente. Eu gostava de estar com ela, de abraçá-la, de beijá-la ou apenas assistir a um filme bobo na TV, nada mais. Eu sinto tanta falta dela que chega a doer. Estamos tão perto, mas tão distantes.

— Eu não sou bom nessas coisas, você sabe que nunca fui bom em demonstrar afeto por ninguém. Eu não sou gentil, bondoso, delicado e essas montes de baboseiras... — reviro os olhos ao terminar de falar.

— Seja sincero com ela, isso é o bastante. Convide-a para sair, tente conhecê-la mais, faça algo legal para mostrar que a quer de verdade.

— Eu não sei fazer nada disso, e se ela me rejeitar de novo? Já tenho um "não", não quero mais outro.

— Você vai tentar até ter o "sim", quantas vezes forem necessárias.

— Ela me odeia.

— E um monte de gente também — zomba ela, franzindo os olhos.

— E você acha mesmo que ela vai querer ao menos sair comigo?

Natalie me olha pensativa, como se uma ideia se acendesse em seu consciente.

— Já sei, sábado vai ter o gala beneficente e vocês podem se aproximar. Diz que é obrigatório ela ir, assim vocês dois passam um tempo juntos.

Acontece todo ano esse gala beneficente, onde as pessoas só fingem que se importam em ajudar os vulneráveis, mas sabemos que só querem se aparecer ou vão pelos simples fatos de encontrar possíveis parcerias. Nossa empresa organiza isso todo ano. Parece uma boa ideia, assim eu poderia tentar me aproxima dela.

— É uma boa ideia, só acho difícil ela querer ir, mas posso tentar.

— Lógico que é! — Natalie exclama sorrindo contente.

Agora só tenho que convencer Amélia a ir comigo a esse evento.

Uma Aliança De ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora