Renzo Santoro
— Eles não vão poder te manter preso aqui por muito tempo — diz Lara, parecendo esperançosa. Suspiro, passando a mão no rosto. Tudo isso está me deixando estressado demais, esse lugar é um lixeiro horrível. Não aguento ficar mais nenhum minuto aqui e ainda chegou outro preso, um homem drogado, que está na mesma sala que eu.
— Me diz que tem algo, por favor, senão vou enlouquecer aqui. Não tem nem 24 horas que estou nesse lugar.
Ela me olha como se dissesse "eu sou Lara Miller", dou de ombros, esperando que de fato ela tenha algo para me tirar daqui logo e provar que não tenho nada a ver com o que aconteceu com Giulia.
Ela tenta toca a minha mão, mas afasto bruscamente, mesmo assim ela não se abala.
— Não se preocupe, querido, já está certo que você vai sair. Além dos horários que não batem com o horário que você foi para casa da Giulia para te acusar, temos provas concretas de que você estava na empresa minutos antes do ocorrido. Além disso, consegui imagens da câmera de uma vizinha da Giulia, e lá mostrava claramente que um homem todo encapuzado de preto entrou para dentro da casa de Giulia momentos antes de você chegar, e ele é o agressor. Infelizmente não dá para ver o rosto nem nada importante e já entreguei à polícia também, e eles vão analisar tudo.
Com isso, está óbvio que não ficarei muito tempo aqui, mas por que ainda me sinto tão inquieto? Tem algo errado nisso tudo. Alguém machucou a Giulia e, quando mal cheguei, a polícia já estava a caminho. É como se fosse premeditado.
— É possível que isso tenha sido outra mensagem pra mim da pessoa que tentou atropelar a mim e a Amélia, e agora tentaram matar a Giulia e o meu filho...
Meu filho? Foi realmente eu que falei isso? Talvez seja o estresse ou talvez seja o fato de que vim de perto que o bebê que estava na barriga dela podia morrer naquele momento, e levei um choque pensando que, independentemente se for o meu filho ou não, aquela criança merece estar viva. Natalie me contou que o bebê nasceu prematuro e com dificuldade respiratória e está na UTI neonatal para o tratamento, e Giulia ainda está em condição crítica. Eu espero que os dois melhorem.
— Bem possível, enfim vou providenciar a papelada para dar o andamento para sua saída o mais rápido possível.
— E o meu pai? — questiono a ela, dado ao fato de que ele sequer apareceu aqui para pelo menos fingir ou dar seu showzinho de sempre. Sei muito o que me aguarda quando sair daqui: um pai furioso que não está nem aí se é verdade ou mentira o que aconteceu. Irei enfrentar sua ira; não poderei escapar, afinal estou em todos os jornais como "o empresário que tentou matar dois inocentes". Posso dizer que a minha imagem está uma merda agora, e não sei como irei sair desse buraco ou se vou sair. Simplesmente só tenho vontade de desaparecer, não tenho um minuto de paz na minha vida. Sinto falta de Amélia, do seu abraço, do seu conforto. Só ela é a luz nessa completa escuridão da minha vida.
Lara morde os lábios e me olha como se pedisse desculpa. Ela também sabe muito o tipo de pai que tenho, embora o grande Ivan se faça de santo para todos, alguns percebem a falsidade estampada naquele rosto.
— Ele disse que não vai vir.
Lara conseguiu, enfim, me tirar da delegacia, mostrando todas as provas de que eu não estava lá no momento que tudo ocorreu. Mas isso não acabou, porque para mim está óbvio que essa pessoa fez isso na intenção de me atingir e manchar a minha imagem, que foi por água abaixo. Agora, tenho que encontrar o culpado.
Sou recebido pelo abraço apertado de Amélia fora da delegacia. Como eu sentia falta disso, do seu calor, da sua pele em contato com a minha. Eu amo essa mulher. Aperto meus braços ao seu redor e beijo o topo da sua cabeça. Depois de um tempo, ela se afasta para encontrar os meus olhos, ela está sorrindo genuinamente. Arrepios percorre o meu corpo. Poderia um simples sorriso arrebatar a minha alma?
— Ainda bem que você saiu, eu fiquei tão preocupada...
— Eu também estava morrendo de preocupação com você, linda. Espero que o segurança não tenha saído um segundo do seu lado — passo a mão no seu queixo e puxo o seu rosto, depositando um beijo demorado em seus lábios rosados e macios. É eletrizante o contato.
Nos afastamos, e percebo que a minha irmã está nos olhando com as sobrancelhas erguidas, e ao lado dela está Lara, que desvia o olhar encarando o seu celular.
Minha irmã vem me abraçar com seu jeito entusiasmado de sempre.
— Ainda bem que você está bem! Eu juro que se você passasse mais um dia aí, eu seria presa também!
Reviro os olhos, rindo.
— Você é maluca, mas enfim, preciso ir ao hospital...
— Renzo! — escuto a voz do meu pai, me afasto de Natalie, meus olhos encontrando os do meu pai saindo do seu carro furioso. Não acredito que ele veio, mas sei muito bem por que veio.
Meu corpo se enrijece. Quando ele se aproxima, noto que seu peito sobe e desce com respirações rápidas.
— Você tem noção das merdas que estão falando de você em todo lugar, seu merdinha?! — vocifera.
— Pai, se acalme — Natalie pede, mas não adianta muito, porque ele vem com tudo para cima de mim, com as mãos erguidas para dar mais das suas lições, só que agora com plateia. Amélia se coloca na minha frente, fazendo sua mão ficar no ar.
— Sai da frente!
— você não vai encontrar um dedo nele — Amélia diz entredente, me defendendo. Meu coração se enche de algo diferente vendo sua determinação em me defender. A puxo para mim, ainda assim ela não deixa de encarar meu pai furiosa, protegendo da fúria do meu pai. Se uma coisa sobre ele é que ninguém pode irritá-lo dessa maneira e fica por isso mesmo. Se ele tocar um dedo em Amélia, eu juro que não sei do que sou capaz.
— melhor você se afastar — digo a ele, encarando friamente.
— pai, a gente está em público — implora Natalie. Ivan se afasta e entra em seu carro pisando fogo.
— Amélia, nunca mais faça isso de novo — peço. Amélia se vira para mim com a testa franzida.
— você acha mesmo que vou deixar o seu pai bater em você? — sua voz demonstra uma certa indignação.
— Eu não ligo contanto que você esteja bem — explico.
Sorrio meio triste. É meio triste saber que alguém me defende mais do que eu mesma sou capaz de me defender do meu próprio pai. Ele tem um poder sobre mim que ninguém mais tem, é o medo e a raiva escondidos em algum lugar dentro de mim.
— Obrigada por isso — beijo a sua testa brevemente.
................
Seguimos para a sala onde Giulia está internada, não pude entrar, mas vim o médico me contou sobre o seu estado e que ela estava começando a se recuperar depois da cirurgia que teve que fazer. Depois disso, fui até onde o bebê está na neonatal. Como ele nasceu prematuro e com dificuldades respiratórias, vai ter que ficar aqui por um bom tempo. Me higienizo e entro para ver com a enfermeira. Ele está todo incubado, cheios de aparelhos, o que me dá uma sensação horrível. Tão pequeno e novo e já está tão doente. Olho para esse pequeno e me sinto tão apreensivo, não sei dizer bem o que sinto nesse momento. Ele se mexe um pouco, apesar de parecer que está dormindo.
— Não pode pegá-lo, mas pode deixá-lo seguro segurando seu dedo e conversar com ele — diz a enfermeira gentil com um sorriso me incentivando.
Assinto hesitante e, com a orientação dela, toco sua mão delicadamente. O pequeno aperta a minha mão com seus dedinhos magrinhos. Sem me conter, abro um sorriso. É reconfortante e tão bom, parece que estamos conectados e, de repente, não me importo com DNA ou todas as outras coisas, só quero que ele fique bem.
— Ei, você vai ficar bem logo, ok? — sussurro, seus dedinhos apertam ainda mais o meu dedo.
Amélia está do outro lado observando tudo com um sorriso, e sou tão grato por ela estar aqui nesse momento, porque não sei se aguentaria passar por tanta coisa sem ela ao meu lado.
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Uma Aliança De Contrato
RomanceAmélia Ferrari acaba de voltar do internato de Londres depois de 3 anos. Ela só não imaginava que esse tempo fora viria cheio de surpresas, começando com algumas notícias sobre sua família circulando pelo país e a decadência da empresa da família. N...