Capítulo 24

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                 Amélia Ferrari

Estamos voltando para casa em completo silêncio, embora o clima esteja com um ar estranho. Não é ruim, é como se estivéssemos com medo de conversar e dizer a coisa errada. Temos medo de discutir se abrirmos a boca e, apesar da distância de Renzo, estamos em paz pela primeira vez. Talvez seja melhor assim, distantes um do outro. Tudo está meio confuso na minha cabeça e realmente não sei o que sinto. E acho que, seja lá o que sinto, não devo sentir.

O celular dele toca.

— Pode olhar quem é, por favor? — Ele pede. Alcanço o celular e vejo que é uma ligação da irmã dele.

— É a Natalie.

— Atende e coloca no viva voz, por favor. — Faço o que ele manda.

— Olá, Natalie. Pode falar.

— Oi, Ren. Diego e eu estamos indo para o cinema e pensei que poderia ser legal, sabe? Você e Amélia, o que acham? Pergunta a Amélia. Seria legal a gente ter esse momento de casal!

Meu Deus, a irmã do Renzo é realmente muito doida às vezes, mas é divertida desse jeito. Ela só quer fazer com que Renzo e eu nos entendamos. Eu percebo isso no jeito nada sutil dela de me jogar para o irmão dele sempre que está perto de nós. Mas até que ir ver um filme não seria tão ruim. A última vez que fiz isso estava em Londres. Obviamente, não vou dizer para ele ir, não somos um casal, então... seria estranho, mesmo que meu coração pareça implorar para que ele aceite o convite.

— Hã... — Renzo balbucia, então se vira para mim, incerto. — Você quer ir?

O que devo dizer? Ele está apenas perguntando isso por educação ou quer que eu vá?

— Se você quiser ir, por mim tudo bem... — Pareço até uma garotinha quando vai ao seu primeiro encontro, lembrando que isso não é um encontro.

— Amélia! Já que você está aí, vocês têm que vir! Não aceito "não" como resposta! — Natalie quase grita.

— Olá, Natalie.

— Natalie, já falei que não precisa gritar ao telefone. E a gente vai, tchau... — Renzo responde a ela e faz um sinal para mim encerrar a ligação.

— Quer passar em casa antes ou prefere ir direto? — questiono.

— Pode ir direto para o cinema — ele assente e vamos direto para o cinema.

................

Natalie e Diego estão nos esperando na entrada do cinema. Eles nos cumprimentam e Natalie me puxa para um abraço. Entramos no cinema e Natalie não para de tagarelar, enquanto Renzo fica em silêncio. Como dois irmãos podem ser tão diferentes?

— A gente estava querendo ver um filme de terror que vai passar hoje. Dizem que é muito bom, algumas pessoas até vomitaram no cinema — comenta ela.

Morro de medo de filmes de terror e ela disse que pessoas vomitaram? Eca.

— A gente devia assistir esse então, todos concordam? — indaga Diego.

— Sabe que pra mim tanto faz, né? E você, Amélia, tem medo de filme de terror? — agora é Renzo que fala.

— Não tenho medo, tudo bem pra mim — por que eu disse que não tinha medo? Caramba, eu literalmente vou passar o filme todo gritando e estou dando uma de corajosa só por causa dele.

— Então tá, vou comprar os ingressos com Diego e vocês compram pipoca pra gente — comenta Natalie, indo em direção à bilheteria com Diego.

Depois que Natalie compra os ingressos, finalmente entramos na sala. Nós nos sentamos e o filme começa. Fico pensando que tipo de pessoa vai a um encontro de casal (Natalie e Diego) para assistir a um filme de terror, isso é aterrorizante. Mal olho as cenas que passam. Olho para qualquer coisa, menos para a tela, mas é difícil não levar susto quando escuto as cenas assustadoras. Roio as unhas enquanto tento não olhar para as cenas.

— Você está com medo? — sussurra Renzo. Viro o rosto para olhá-lo, nem percebi que já estava me encarando.

— Claro que não — Renzo arqueia as sobrancelhas, escondendo um risinho.

— Então tá — ele se vira para a tela novamente.

Eu fecho os olhos quando uma nova cena começa, sinto uma mão segurar a minha. Sua mão tocou a minha poucas vezes, mas conheço o toque de Renzo.

Abro os olhos lentamente e olho novamente para ele, só que Renzo não está me olhando, está olhando para a tela, mas sei que percebe o peso do meu olhar. Mesmo assim, ele não vira, de qualquer forma, aceito o gesto dele. Meus lábios se curvam em um pequeno sorriso, e aqui está ele novamente sendo legal comigo. Seguro sua mão, que é incrivelmente calorosa, enquanto me concentro no filme. Talvez eu tenha apertado a mão dele forte demais em algumas cenas ao longo do filme, com medo, mas ele não afastou.

Quando o filme termina e saímos, somos obrigados a soltar nossas mãos. Sinto falta do calor dele.

— Eu pensei que você não tinha medo de filmes de terror — comenta presunçosamente quando entramos no apartamento.

— Mas eu não tenho medo — protesto. Ele dá uma pequena risada.

— Não é por nada, mas você praticamente quase me deixou sem mão hoje — zomba.

Levanto uma sobrancelha, escondendo um riso que ameaça sair dos meus lábios.

— Não exagera, tá? Sua mão está inteirinha — ele balança a cabeça sorrindo.

Renzo está sorrindo sem estar bêbado e a gente está zombando um do outro? Em que planeta estamos, em que mundo estamos, porque os de antes já estariam se atacando agora mesmo.

— Vou descobrir amanhã quando for trabalhar. Enfim, melhor eu ir dormir — ele diz, tento não parecer desapontado com isso.

— Claro, boa noite — Renzo acena com a cabeça e entra no quarto.

O que é esse vazio que estou sentindo com a sua ausência?

Sento no sofá porque sei que não vou conseguir dormir depois de assistir aquele filme, ou talvez também seja por causa de Renzo. Realmente não sei. Fico assistindo TV até pegar no sono no sofá. Tive o pressentimento de que Renzo me levou para o meu quarto e colocou a coberta em mim. Meus olhos sonolentos viram ele desligando a luz e fechando a porta do meu quarto. Depois disso, adormeci por completo.

Uma Aliança De ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora