Almoço de negócios

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Papéis. Muitos papéis jogados a mesa. Distraíam-me eles, com aquelas palavras e frases distintas. Estava tarde, o quarto — agora escuro — sendo iluminado pela luz do abajur somente. As mangas da blusa arriadas para cima, evitando o suor, embora a ponta de meus dedos estivesse gelada e formigando.

Não conseguia me concentrar. Assinar aqueles documentos todos parecia uma tarefa impossível para a situação a qual eu me encontrava. Sonolenta, receosa, desapontada comigo mesma. Muitas coisas. Não conseguia pensar em outra coisa que não fosse a conversa de dias atrás. Três dias, eles disseram. Dois haviam se passado, e eu não conseguira fazer uma pergunta sequer a Jinx em relação a este problema dos Poingdestres.

Larguei a caneta em cima da mesa e levei as mãos à cabeça; exausta. A preocupação havia feito eu procrastinar, e agora, tendo amanhã como prazo final para a entrega desses documentos, eu precisava correr contra o tempo, e o sono.

Eu poderia muito bem acordar cedo amanhã; fazer tudo o que desse, e entregar os já assinados, somente. Mas não. Perfeição. Tudo precisava estar em ordem. Impecável.

O fato de eu estar descontando a angústia e a ansiedade na falta de sono, ou na falta de comida, era o de menos. A curiosidade era o problema. O que fizera Jinx de tão grave, para ser eu quem recebesse uma visita deles? Não só isso, mas junto, uma ameaça. Uma ameaça que poderia muito bem arruinar a mim, e a minha família.

O medo do desapontamento era tamanho. Como reagiriam eles, caso soubessem sobre mim? Sobre Jinx? Meus amigos? Os Poingdestres não passavam de uma farsa; mais uma das mentiras que eu tivera de dizer. Outra coisa que eu tivera de omitir.

Tantos pensamentos me corroíam a cabeça; impedindo que eu terminasse de assinar os papéis. Tive sorte de conseguir convencer mamãe a deixar-me tomar conta dos documentos. Uma maneira rápida de ter acesso aos assuntos dos Ferros, e repassar aos Poingdestre. Outra mentira. Outra coisa omitida.

Mais uns papéis, e eu irei dormir. Pensei. O sono estava levando a melhor. Uma coisa mal feita, é o mesmo que nada. Dizia-me Augatha quando algo não estava bom o bastante. Concordasse eu em partes, ou não, sempre reconfortei-me pensando que: Antes falhar tentando, do que não tentar.

Contudo, mesmo com esses pensamentos, o sono me vencera; e agora, com a cabeça literalmente enfiada nos documentos, eu adormeci.

* * *

Despertei com o som da porta se abrindo; a luz do sol queimando-me os olhos, e uma imensa dor nas costas. Sentei na cadeira e esfreguei o rosto, tentando retomar à realidade.

— Senhorita Crownguard, o que está fazendo? — perguntou El.

— Até a poucos segundos, dormindo. — me espreguicei para trás na cadeira, e agora com o olhar sem distorção, olhei para El, que estava nitidamente confuso. — Que horas são?

— São oito e meia da manhã, senhorita. — respondeu ele, com ambas as mãos na costa. — Sua mãe pediu para eu vim vê-la. Ela deseja falar com você.

— É lógico que sim. — estiquei as costas mais uma vez e me pus de pé. — Avise a ela que em quinze minutos eu desço. Serei rápida me arrumando.

El assentiu com um aceno de cabeça, e saiu do quarto.

Recolhi todos os documentos já assinados de cima da mesa, e os ajeitei em uma pasta. Vi e revi todos os papéis, buscando aqueles com a marca do clã Ferros; sorte, eu suponho, que não havia um sequer.

O Peso da Liberdade: Uma história de Zaun & PiltoverOnde histórias criam vida. Descubra agora