No apagar das luzes

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Acordei com um estalido próximo a orelha.
Minha cabeça ardia em algum ponto à direita, sentia minha orelha zunir e conseguia ouvir o sangue pulsando; escorrendo.
Minha visão estava desfocada, ponto pretos se formavam e tudo parecia doer.

Percebi então que estava sentada, com a cabeça pêndula em direção ao chão. Tentei levar a mão até aonde doía, torcendo para que tudo aquilo não passasse de um sonho idiota. Mas não consegui. Virei-me para trás, e percebi ter as mãos e braços amarrados nas costas de uma cadeira. Tentei puxa-los, mas fora em vão.

— Você não sairá daí tão rápido, garota. — anunciou alguém.

A voz, de sabe-se lá quem, soou como um eco. Era como se eu a ouvisse me chamar a distância, bem no fundo da mente.
Então, em um movimento rápido e doloroso, uma mão me puxou pelo cabelo, fazendo-me olhar para cima.

Não pude reconhecer quem era. Pelo menos, não de imediato.
Lembrei-me de como era aquela figura antes de apagar por completo. Uma mulher alta, de pele escura e pálida. Longos cabelos pretos com mechas brancas; e o mais chamativo: seus olhos cor de rosa.

Alguém atrás de mim me segurava pelo cabelo, fazendo-me encarar aquela mulher sentada à alguns metros de distância de mim. Em uma cadeira, de pernas cruzadas e com um copo com uísque em mãos, ela me olhava como se avaliasse uma obra de arte caríssima.

— Como está a cabeça? — perguntou ela.

Não respondi, e nem emiti nenhum som, estava irritada, frustrada e com medo. Que meus pais não cheguem. Não agora. Por favor. Pensava comigo mesma; reconfortando-me apenas por saber que Seraphine não havia entrado em casa comigo.

— Não era para terem batido em você tão forte assim. Espero que não fique dolorido por tanto tempo. — continuou ela.

Me mantinha quieta, encarando-a com raiva; o maxilar travado e os punhos cerrados refletiam bem tal sentimento.
Parecendo perceber, a mulher vergou-se para frente e apoiou os cotovelos nos joelhos. Pude reparar, então, que ela ainda usava a máscara; parecia-se com máscaras de gás usadas a muitos anos atrás em Zaun. E quando digo muitos anos, eu realmente quero dizer muitos anos.

— Eu gosto de você. — anunciou ela. — Ainda que esteja na situação a qual está, continua sendo dura na queda. Gosto disso.

Vai... Se fuder...! — disse, silabicamente.

A mulher riu de forma desdenhosa e se encostou na cadeira novamente. Ao fazer isso, fez algo que se não fosse pela tensão, eu teria feito a melhor piada possível. Com a ponta dos dedos, ela encostou na máscara, e quase como se ela saísse em seus dedos, um vapor foi exalado, e a máscara foi removida. Sinceramente, estava esperando uma aparência feiosa; uma mulher de aparência grotesca. Mas não, ela era completamente normal. Embora fosse nítido que fosse uma zaunita.

Ela respirou fundo, e deixou a máscara em cima da mesa da sala. Recaiu em silêncio por alguns segundos, mas que para mim, foram árduas e longas horas.
Ela bebericou um pouco do uísque, e deixou o copo na mesa. Olhou para seu lado, e, usando o indicador, ela fez um gesto como se chamasse um cachorro.

Uma silhueta emergiu das sombras. Ela estava toda trajada de preto, usava máscara de gás e óculos de proteção também pretos. Em uma das mãos, aquilo que mais me chamou atenção: uma bastão preto. Deste, pingava algum líquido viscoso, o qual não fazia questão nenhuma de descobrir o que era. Apesar de saber o porquê, e de onde viera o líquido.
A mulher usou o nó dos dedos para dar duas batidinhas no objeto; olhou para mim, e continuou a dizer:

O Peso da Liberdade: Uma história de Zaun & PiltoverOnde histórias criam vida. Descubra agora