O inverno de Zaun

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Era uma manhã fria de sábado. O inverno começara e, por sorte, estava agasalhada o suficiente para não sentir frio algum. Mas apesar do conforto das cobertas, minha vontade de descobri o que Vi queria me mostrar em seu apartamento era maior do que a de ficar deitada. E a vontade de tomar um chocolate quente era tão grande quanto.

Sentei-me na cama e percebi o quão cansada fisicamente estava, sentindo minha costa arder ao me espreguiçar. Bufei alto e esfreguei o rosto, tentando despertar o mais rapidamente possível. Então, dei-me conta do assobio que percorria meu quarto. Olhei para a fonte do som, me assustando ao perceber o motivo de tanta barulheira.

Uma pesada nevasca caía ao lado de fora. O tempo estava relativamente limpo e, pelo som do vento que ribombava na janela, me toquei que um moletom apenas não seria o suficiente para aguentar o inverno de Zaun. Garanto-lhe que isso não significava coisa boa.

Zaun sofria bastante nessa época do ano. Fosse pelas casas sem aquecedor — que era o caso da nossa —, ou fosse pelas pessoas que nem ao menos tinham casa. Ano passado, no inverno pesado, Piltover precisou se intrometer por entre nós para evitar um enorme número de baixas por hipotermia. Alguns membros de trabalhadores zaunitas chegaram até mesmo a necrosar devido ao frio extremo.
Era uma época perigosa, de fato. Mas não deixava de ser maravilhosa. As comidas, o clima, o frio. Tudo era legal, até certo ponto.

O Última Gota ficava lotado de trabalhadores das fábricas; todos querendo esquentar-se na lareira. Alguns, levavam suas famílias para lá, e passavam horas à fio conversando e se embebedando. Mas para mim, a melhor parte sempre fora os feriados. Ou, até mesmo, os biscoitos com chocolate quente. Embora raros na nossa mesa durante o resto do ano, eram deliciosos quando feitos.

Saí de meus devaneios ao perceber que já estava a mais de cinco minutos encarando a neve cair. Rapidamente, levantei-me da cama e corri ao andar de baixo, esperando encontrar Vander e Vi. Entretanto, ao chegar na cozinha, somente Vander estava lá. Ao perceber minha presença, virou-se sorridente.

— Bom dia, Powder. Acordou cedo hoje. Faremos algo que não sei, ou você apenas sairá com aqueles seus amigos?

Vander parecia animado. Com o que exatamente? Não fazia ideia. Mas fiquei contente em ver que ele não soubera de nada do que havia acontecido no dia anterior.
Sorri gentilmente e entrei na cozinha, sentando-me no balcão.

— Não vou sair. Quero dizer, não agora. Aonde está Vi?

— Saiu à pouco. — falou ele, servindo café em uma caneca. — Por quê?

Balancei a cabeça, piscando algumas vezes para pensar no que melhor dizer.

— Nada. Ela apenas queria me levar à um lugar. Mas acho que mudou de ideia. — disse, começando a balançar os pés, distantes o suficiente do chão.

— Entendo. Não se preocupe. Ela não foi a nenhum lugar grandioso. Na verdade, foi comprar umas coisas para mim. Essa nevasca repentina me proibiu de sair com o carro. — disse Vander, virando-se para a janela da cozinha. Observava a nevasca, pensativo. — Estanho, não?

— O quê? A neve?

— Tão de repente. — falou sem tirar os olhos da neve caindo. Bebericou um pouco do café e umedeceu os lábios.

Então peguei um susto. Ao meu lado, um barulho chamou-nos a atenção. Duas torradas pularam para fora da torradeira.
Vander se apressou em tirá-las da máquina; usou as próprias mãos para colocá-las em um prato e seguiu a mesa.

O Peso da Liberdade: Uma história de Zaun & PiltoverOnde histórias criam vida. Descubra agora