Em algum momento passou pela minha cabeça que seria uma má ideia ir atrás de Juliette,que era arriscado demais fazer o que fiz e que de fato era melhor deixarem as coisas como estavam, mas como eu poderia ir contra ao meu corpo que gritava por essa menina? Como eu poderia ir contra aos meus pensamentos que a traziam a cada minuto do meu dia em todos os cantos,em todos os lugares,como eu poderia negar que ela está marcada em minha alma e hoje eu reconheço e aceito isso,mesmo correndo risco de pagar mais tarde. Mas não importa,eu faria quantas vezes fossem necessário para ter essa morena da pele macia,dos olhos puxados e sotaque marcante nua agarrada ao meu corpo enquanto desenha linhas imaginárias no meu abdômen me fazendo sorrir de lado pelas leves cócegas.
- Acho que nesses dois meses eu jamais imaginei que isso fosse acontecer novamente. - ela diz enquanto permanece desenhando em minha pele.
- Acredite,eu também não. - suspiro - mas cheguei ao nível de não conseguir mais aguentar,e ser capaz de correr qualquer risco para ter isso. para viver o agora.
Ela se senta para olhar em meus olhos e imito seu ato,sua mão alcança meu rosto depositando um leve carinho que recebo de bom grado.
- Por que fez aquilo? Por que beijou o Bill na minha frente?
- Eu precisava tirá-lo de perto de você...e tirar você de perto de mim. - desvio o olhar - Com tudo o que estava...o que está - corrijo - acontecendo, eu não conseguiria mais cuidar de você como antes e eu me vi em um beco sem saída, então precisei juntar o util ao agradável.
- O útil ao agradável? - questiona confusa.
Suspiro,sinto minha respiração pesar e sua mão aperta mais a minha em um ato de me encorajar,seus olhos amenos tentam me transmitir apoio,acolhimento e tomo coragem para continuar.
- O nome dele é Rodolfo...fomos casados durante oito anos. - ela me olha com atenção - no começo foi tudo lindo,um mar de rosas,sentia que estava vivendo um conto de fadas e assim permaneceu até o nosso terceiro ano de casados - sinto minha garganta se fechar ,como se pedisse que eu parasse de falar - Eu sempre soube que ele era ciumento,ele tinha os seus momentos, mas nunca muito relevantes,sempre perguntava sorrindo,com uma brincadeira,entendia quando eu o respondia ou mostrava e acabava por ali. Quando abri minha primeira empresa com um sócio que tive no Brasil,as coisas começaram a desandar...eu passava menos tempo em casa, vivia rodeada de pessoas e ele começou a mudar,começou a mexer nas minhas coisas quando eu chegava em casa,pegar meu celular, bater na mesa,jogar alguma coisa,mas depois vinha me pedir desculpas e eu aceitava, achava que eu estava errada por não ficar mais em casa,por não cuidar totalmente do nosso lar ou estar cem por cento do meu dia disponível para ele, mas eu precisava ter minha individualidade, precisava ter algo que era meu,entende? Que eu conquistei. - ela assente, e sua mão novamente conforta a minha - até que ele passou a chegar bêbado em casa...no início foi apenas um tapa,depois começaram a ser dois,três, chutes,empurrões e eu nunca mais me vi sem maquiagem enquanto permaneci naquele lugar. - sinto meu rosto esquentar - ele falava que ia mudar,que eu precisava largar a empresa e deixar para o Tiago cuidar,que eu estava acabando com nosso casamento e que ele sentia que estava sendo trocado,abandonado.
- Sarah...- ela sussurra,e vejo seus olhos marejarem.
- Eu passei a não ter mais amigos, passei a viver com medo esperando ele aparecer mais uma vez no meu trabalho para arrumar confusão ou olhar pela janela e vê-lo em seu carro do outro lado da rua, passei a me reprimir, a aceitar que eu era a culpada,que talvez eu merecesse aquelas surras que me faziam sangrar ou quase perder a consciência, afinal,eu prometi em cima do altar a cuidar dele,a respeitá-lo, a me comprometer a cuidar de nós, do nosso lar,a ser a esposa perfeita e se para ele a esposa perfeita deveria ser apenas dona de casa e cuidar do seu marido,o que eu estava fazendo controlando uma empresa ao lado de outro homem e convivendo com outros? E isso se estendeu por anos e anos,e eu só passei a me sentir um pouco mais viva quando Gil entrou na minha vida,passei a ter um pouco de esperança de que eu poderia me livrar daquela vida quando ele me resgatou em uma estrada porque Rodolfo me largou nela bêbada após sairmos de uma confraternização da empresa.- seus lábios se entreabrem não escondendo sua surpresa - Gil cuidou de mim anoite inteira como Rodolfo não cuidava há anos,me aconselhou, me ouviu,me abraçou de todas as formas,sabe? - ela assente,e vejo uma lágrima correr por sua bochecha - mantive a amizade dele escondida desde então e foi ele quem começou a abrir meus olhos sobre o que era relacionamento abusivo, e reconhecer que eu vivia um,que eu não era culpada por querer ser independente,por querer ter a minha vida também. - suspiro - isso é tudo o que eu consigo te contar agora,tudo bem? Pelo menos sobre meu passado...existem mais coisas, inclusive o motivo de eu ter vindo parar aqui além de fugir de um relacionamento abusivo,mas...eu não consigo agora.
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É você
FanfictionUma jovem sonhadora, determinada, carismática, cheia de vida. uma mulher amarga, marcada por um passado complicado, que tem como defesa um olhar intenso e uma personalidade um tanto cruel. o que esperar de dois caminhos totalmente diferentes se cr...